Museu britânico reclassifica imperador romano como mulher trans
O Museu North Hertfordshir, da cidade de Hitchin, ao norte de Londres, acaba de reclassificar o imperador romano Marco Aurélio Antonino Heliogábalo, também conhecido como Elagábalo, como uma mulher trans. A decisão, segundo os administradores do museu, foi uma frase atribuída ao líder imperial em textos clássicos: "Não me chame de senhor, pois eu sou uma senhora".
A frase foi registrada por Dio Cassius, um conhecido historiador e administrador romano, em sua monumental obra História Romana, uma das principais fontes de consulta para se entender a história de Roma desde os seus primórdios. Elagábalo governou o império de 218 a 222 d.C., quando foi assassinado pela guarda pretoriana, em um golpe de estado.
Falando ao The Telegraph, o diretor executivo do Enterprise and Arts at North Herts Council, Keith Hoskins, afirmou: "Tentamos ser sensíveis na identificação de pronomes para pessoas do passado, assim como somos para pessoas do presente; é apenas educado e respeitoso". A partir de agora, o North Hertfordshire só irá se referir ao imperador Elegábalo com os pronomes femininos ela e dela.
O que dizem os especialistas sobre a sexualidade de Elagábalo?
Logicamente chamar um imperador romano de "senhora", mesmo ele querendo, suscitou um acalorado debate acadêmico. A escritora Mary Beard, expert em Roma antiga, explicou à revista Time: "O que é dito pelos romanos sobre Heliogábalo nos lembra poderosamente que os debates sobre as fronteiras entre homem e mulher remontam a milhares de anos". Para ela, a sexualidade era uma área tão complicada no mundo antigo, quanto é hoje.
Já a professora de clássicos da Universidade de Cambridge, Shushma Malik, entende que os historiadores usados para tentar compreender Elagábalo eram muito hostis a ele. Dessa forma, referências ao imperador "usando maquiagem, perucas e removendo pelos do corpo podem ter sido escritas para minar o impopular imperador". Afinal, argumenta ela, há muitos exemplos em que chamar uma figura de efeminada eram comuns na literatura romana.
Mas o vereador Hoskins não se conforma. Falando sobre o seu voto no conselho que administra o museu, ele defende que Dio Cassius fornece a evidência final "de que Heliogábalo preferia definitivamente o pronome 'ela' e, como tal, isso é algo que refletimos ao discuti-la nos tempos contemporâneos, como acreditamos ser uma prática padrão em outros lugares".
Afinal, quem foi realmente Elagábalo?
Elagábalo nasceu como Varius Avitus Bassianus em Emesa, a atual cidade de Homs, na Síria, em 203 d.C. Lá, ele desempenhou o papel de sumo sacerdote do deus sol Elah-Gabal, uma forma local do deus Baal. Com apenas 14 anos, assumiu o trono de Roma, depois de uma revolta da Terceira Legião, instigada por sua avó Julia Mesa, que era tia materna do imperador assassinado Caracala.
Elagábalo foi uma figura no mínimo controversa durante seu curto reinado, caracterizado por casamentos com homens e mulheres em distintas ocasiões, escândalos sexuais e polêmicas religiosas. O sempre presente Dio Cassius, que era senador romano e contemporâneo do jovem imperador, garante que o governante se casou cinco vezes, quatro delas com mulheres e uma vez com Hiercoles, que era seu ex-escravo e cocheiro.
Ao descrever a cerimônia desse casamento final, Dio relata que o imperador "foi concedido em casamento e foi denominado esposa, amante e rainha". Posteriormente, ele (ela?) nomeou um atleta viril chamado Zoticus, como seu cubicularius (guardião do quarto). Mas Hiercoles interviu e serviu uma droga ao atleta, que lhe roubou a competência para exercer a função.