Nélida Piñón: Nobel a Vargas Llosa é o apogeu de uma carreira impecável
O Prêmio Nobel de Literatura, concedido esta quinta-feira ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, marca "a culminação de uma carreira impecável", declarou à AFP a escritora brasileira Nélida Piñon, amiga pessoal do autor e a quem ele dedicou o romance A Guerra do Fim do Mundo (1981).
"É um momento de festa para a América", acrescentou Piñón, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras em cem anos (em 1996 e 1997).
"É a coroação de uma vida dedicada à literatura, ao saber, à inteligência do pensamento", comemorou a escritora, que recebeu a notícia do Nobel atribuído ao amigo de Carmen Balcells, agente literária do autor.
"Mario é um excepcional escritor e uma das melhores consciências da América Latina", disse a autora, que é amiga pessoal de Vargas Llosa desde os anos 1970.
A escritora lembrou que o peruano dedicou A Guerra do Fim do Mundo, obra sobre a Guerra de Canudos, no fim do século XIX, a "Euclides da Cunha no outro mundo e a Nélida Piñón neste mundo".
Para a escritora, o livro, que na época foi muito criticado por imitar Os Sertões (1902), clássico de Euclides da Cunha também dedicada ao conflito, é o melhor romance do peruano, que fez um levantamento detalhado sobre o levante monarquista de camponeses nordestinos liderados por Antônio Conselheiro, duramente reprimido pelas forças republicanas.
Segundo Nélida, o livro "só tem um defeito: não ter sido escrito por um brasileiro", brincou.