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O próximo 'Game of Thrones' poderá ser escrito por uma IA

Ou não. Quem vai decidir não é George RR Martin, mas a Justiça americana

23 set 2023 - 06h20
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George RR Martin, criador da série “Crônicas de Gelo e Fogo”, base para “Game of Thrones” e “House of Dragons”
George RR Martin, criador da série “Crônicas de Gelo e Fogo”, base para “Game of Thrones” e “House of Dragons”
Foto: Reprodução

Difícil encontrar autor mais querido, popular e rico do que George RR Martin, criador da série “Crônicas de Gelo e Fogo”, base para os sucessos “Game of Thrones” e “House of Dragons”. Talvez John Grisham, mestre dos livros de tribunal, que teve quase toda a sua obra adaptada para Hollywood.

Se você for olhar para o mercado americano, Jodi Picoult e David Baldacci não ficam muito atrás. E Jonathan Franzen, se não tem coleção similar de best-sellers, tem prestígio crítico que compensa bem a diferença.

Eles estão entre os 17 autores que na última terça-feira entraram com um processo zilionário contra a OpenAI, a mais famosa empresa de Inteligência Artificial do planeta, porque criadora do Chat GPT. A acusação principal: a Open AI estaria cometendo “roubo sistemático” de suas obras, está infrigindo “flagrantemente e causando prejuízo” aos direitos autorais deles.

O processo foi iniciado pela Writers Guild, o sindicato que representa os escritores de todas as mídias nos Estados Unidos. É só mais um processo do gênero. Muitos outros virão inevitavelmente.

O que está em jogo é se os autores terão controle sobre a utilização de suas obras por inteligências artificiais. “Só” isso. Mas é tudo isso. Porque no coração desta disputa está um conflito fundamental: de quem serão os direitos de criação? Dos criadores? Dos gigantes digitais? De qualquer um que puder aprender com eles? Aliás, o que constitui exatamente uma “criação”?

É um caso muito interessante de muitos pontos de vista. Até porque obra artística nenhuma é criada em um vácuo. Sem seus antecessores, sem reconhecer e (às vezes) ir além de suas influências, um artista nada produziria.

O próprio George RR Martin é o exemplo acabado disso. Existiria “Game of Thrones” sem a rica tradição de literatura fantástica, ou sem, por exemplo, “O Senhor dos Anéis”? Claro que não. Mas ninguém acusa Martin de plagiar Tolkien.

Agora digamos que em vez de um sujeito qualquer, é uma IA que escreve um épico à maneira de Martin. Que é um software simulando seu estilo e estrutura narrativa, seu “jeito” de contar histórias, mas usando personagens e cenários diferentes.

Isso é um problema? O quanto Martin seria prejudicado? Como dimensionar corretamente isso? E se esta saga se tornar o próximo fenômeno de fantasia, o próximo “Guerra dos Tronos”?

Olhando de uma outra maneira: qualquer pessoa pode ler os livros que quiser e aprender com eles - aprender o que fazer e o que não fazer, inclusive. Pode até tentar emular a estrutura ou o estilo de determinado romancista, sem que isso avance sobre os direitos de ninguém. Existem pilhas de manuais que se propõem a ensinar como escrever um best-seller. E também livros de auto-ajuda, roteiros de cinema, e por aí vai.

Por que isso passa a ser um problema quando quem está aprendendo não é um humano, mas uma inteligência artificial de propriedade de uma empresa?

E saindo dos domínios da arte: e quando esta batalha for pelo uso de patentes, de invenções, ou de descobertas científicas?

Novas questões para este novo mundo da tecnologia e da literatura, da criatividade e da legislação, da economia, da política - da vida.

(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais.

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