'Parasita': por que o filme sul-coreano está fazendo história em Hollywood
No próximo dia 09 de fevereiro, o longa vai concorrer ao Oscar em seis categorias, incluindo melhor filme.
O texto abaixo contém detalhes da trama.
"Estou um pouco envergonhado de sentir que somos os parasitas de Hollywood agora!"
Com esta declaração, o ator sul-coreano Lee Sun-kyun, estrela do filme Parasita, arrancou risos no domingo (19) durante a cerimônia de premiação do SAG Awards, entregue pelo Sindicato dos Atores dos EUA.
O longa fez história ao se tornar o primeiro filme de língua estrangeira a vencer a principal categoria da noite — Melhor Elenco de Filme.
O filme sul-coreano de humor ácido, que em alguns momentos flerta com o terror, tem conseguido um sucesso sem precedentes nas cerimônias de premiação de Hollywood.
No SAG Awards, o elenco de Parasita sobressaiu entre outros grupos de atores já consolidados na indústria cinematográfica, que participaram de filmes como O Irlandês, Era Uma Vez em... Hollywood e O Escândalo.
No Globo de Ouro, a produção sul-coreana ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro e foi indicada em duas outras categorias.
No dia 09 de fevereiro, vai concorrer ao Oscar em seis categorias, incluindo melhor filme.
Mas a que se deve o grande sucesso do filme nas premiações americanas?
A história
"Que tipo de filme é esse?", perguntou o crítico Anthony Lane, da revista The New Yorker, quando escreveu sua resenha sobre o longa. E não foi o único a se fazer essa pergunta.
A premissa é simples. Os caminhos de duas família se cruzam — uma é muito rica e a outra muito pobre. As interações entre elas revelam as diferenças sociais e expõem problemas de classe.
Mas Parasita é um enredo coerente que combina sangue e humor, ternura e devastação em pouco mais de duas horas.
"Com frequência, as pessoas me dizem que a história é muito estranha no melhor sentido possível", disse recentemente o diretor Bong Joon-ho em uma exibição do filme em Hollywood.
"Acho que as pessoas gostaram do quão absurda é a história, dizem que é muito difícil de prever", acrescentou.
De fato, se a princípio parece que se trata apenas da história de um jovem proveniente de uma família desempregada (que vive em um porão) e chega à casa luxuosa de uma família rica para dar aulas de inglês, a trama se complica (e muito).
O jovem acaba inventando maneiras de os novos chefes empregarem o resto da sua família, sem saber que são seus parentes.
E uma noite eles fazem uma descoberta macabra no porão da mansão.
Apesar do universo absurdo em que a história entra, as reflexões sobre a pobreza e a riqueza adquirem um tom universal.
Um exemplo é a sequência do filme em que chuvas fortes provocam inundações que, para a família pobre, implicam na destruição de sua casa, enquanto para a outra representam apenas a interrupção de um acampamento.
"Em qualquer sociedade, há pessoas que têm e pessoas que não têm bens materiais, e esses grupos coexistem", disse o ator Song Kang-ho a jornalistas na noite de premiação do SAG Awards.
Quando perguntaram recentemente a Bong Joon-ho por que ele acreditava que seu filme ressoava em todo o mundo, ele respondeu que "todos os personagens vivem em uma área cinzenta. A família pobre comete erros, mas é adorável, e a família (rica) é mesquinha, mas amigável ao mesmo tempo. Não há vilões".
Sucesso de crítica e bilheteria
Quando estreou no festival de cinema de Cannes em maio do ano passado, os críticos aclamaram o filme como favorito para ganhar a Palma de Ouro, principal prêmio do evento.
A partir dali, o filme ganhou um destaque intenso, arrecadando quase US$ 140 milhões em bilheteria no mundo todo e permanecendo por 18 semanas consecutivas em cartaz em Los Angeles.
Joon-ho já contava com uma célebre trajetória cinematográfica, sendo considerado um dos melhores cineastas do século 21, de acordo com o site especializado Metacritic.
Parasita ganhou ainda elogios da imprensa, que classificou o filme como "elegante e robusto".
E não foram apenas os críticos que enalteceram o longa, mas também cineastas premiados, como o mexicano Guillermo del Toro.
"Eu amo e admiro Bong Joon-ho desde Memórias de um Assassino (2003), ele me surpreende, me deleita e me emociona sempre. Então, dizer que este é o melhor filme dele significa muito para mim. E é. Um filme cheio de tristeza, inteligência e profundidade. Irreverente, mas sensível. Impressionante", escreveu em sua conta no Twitter.
Em quase 20 anos de carreira, o cineasta sul-coreano explorou principalmente dois gêneros de filmes: ficção científica e policial, com um toque esporádico de humor, indica o site Metacritic.