Parte ocidental de antigo palácio de Nero em Roma é reaberta
A 'Domus Aurea' deu origem ao gênero conhecido como 'grotesco'
Foi reaberto em Roma, capital da Itália, o setor ocidental da "Domus Aurea", ou "Casa Dourada", a imensa e suntuosa morada do imperador Nero e que ostenta quase 2 mil anos de história.
A porção oeste do palácio estava fechada ao público havia cerca de uma década para obras de restauração, segurança e contra a infiltração, mas agora os visitantes poderão conferir uma das principais joias arqueológicas da Roma Antiga em todo o seu esplendor.
"Concluímos as medidas de segurança com um sistema de proteção das abóbadas para evitar infiltrações de água, que são o grande problema da 'Domus Aurea'", explicou Alfonsina Russo, diretora do Parque Arqueológico do Coliseu, que inclui a "Casa Dourada".
"Será possível ter uma ideia desse setor da 'Domus Aurea', que se abria para o 'stagnum Neronis' [um enorme lago artificial que era o cerne da morada de Nero]", acrescentou.
A atração também ganhou uma nova entrada, com o prolongamento do caminho através do pórtico neroniano que percorre toda a fachada do edifício. Até 9 de fevereiro de 2025, a "Domus Aurea" ainda exibirá a estátua "Ninfa com pantera", esculpida entre os séculos 1 e 2 da Era Comum e que pertence ao acervo das Gallerie degli Uffizi, em Florença, representando a ligação de Nero com a tradição helenística.
Ninfa com pantera ficará exposta na 'Domus Aurea' até fevereiro de 2025"Trata-se de um grande presente ao nosso público para as festas de Natal", disse Russo. Durante as sextas-feiras, os visitantes poderão acompanhar os trabalhos de limpeza e restauração de afrescos no setor ocidental e terão a possibilidade de interagir com os restauradores.
Além disso, os ambientes do palácio ficaram ainda mais evocativos graças à ampliação do sistema de iluminação, exaltando um dos aspectos mais marcantes da "Casa Dourada". "Os arquitetos de Nero, Severus e Celere, fizeram um estudo sobre as aberturas das janelas para deixar passar a luz e fazer brilhar as abóbadas revestidas de folhas de ouro, pedras preciosas e pasta de vidro. Nero quis impressionar seus convidados", afirmou a diretora do Parque Arqueológico do Coliseu.
Construída no primeiro século da Era Comum, a "Domus Aurea" permaneceu escondida durante mais de mil anos e reemergiu por acaso no fim do século 15, já na Renascença, após um homem cair em uma fenda sobre o palácio subterrâneo.
A novidade foi uma sensação na época e atraiu gênios como Rafael Sanzio e Pinturicchio, que entravam na "Domus Aurea" a partir de cima e se arrastavam sob a terra para admirar as belezas da Roma Antiga e deixar sua própria marca no local. O estilo dos afrescos e obras achados no palácio foi batizado como "grotesco" (derivação do termo em latim "grotto", que significa "gruta") e se tornou popular na Europa.
"Todas essas salas estavam enterradas, exceto as abóbadas. Os pintores entravam a partir de cima, e é possível ver em algumas salas os buracos criados no Renascimento para isso. Eles reproduziram as pinturas das abóbadas do período neroniano, que eram principalmente de animais fantásticos. Assim nasceu o que mais tarde se tornou uma tendência, o grotesco", explicou Russo.
Buracos nas abóbadas datam da era renascentista, quando o palácio foi descobertoMas a "Domus Aurea" ainda reserva surpresas, e a limpeza das paredes e abóbadas restantes pode revelar novas descobertas, inclusive sobre as visitas da era renascentista. "Reconhecemos Pinturicchio, Ghirlandaio, mas nunca encontramos Rafael. Por que? Talvez com a limpeza também seja possível identificar sua assinatura", acrescentou. .