Por que funcionários da Disney estão buscando comida no lixo, segundo herdeira da empresa
Abigail Disney esteve no parque de diversões Disney na Califórnia e diz ter ouvido de funcionários que tinham de procurar comida no lixo dos vizinhos porque ganham mal. A Walt Disney Company nega que eles trabalhem em más condições.
Um funcionário do parque de diversões da Disney no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, enviou uma mensagem no Facebook para Abigail Disney, sobrinha-neta de Walt Disney, para chamar sua atenção para as más condições de trabalho no empreendimento criado por sua família.
"Você não me conhece, mas nós realmente precisamos da sua ajuda", disse o funcionário, segundo contou Disney à apresentadora Zainab Salbi, no podcast Through her eyes (Através dos olhos dela, em tradução livre), do site Yahoo News, em julho.
Embora ela não trabalhe para a empresa, Disney, que é uma ativista muito crítica em relação às desigualdades econômicas nos Estados Unidos, visitou o parque em 2018 para verificar as reclamações.
Embora no podcast seja dito que a Disney estava "disfarçada" ao ir ao parque, Salbi esclareceu na quarta-feira em sua conta no Twitter que sua entrevistada "nunca" disse que havia estado no local desta forma.
Segundo Disney, os depoimentos que ouviu a fizeram ficar "furiosa", embora a Walt Disney Company negue que seus funcionários tenham más condições de trabalho.
'Procurar por comida no lixo'
No podcast, Abigail Disney disse ter conversado com funcionários em sua visita. "Todas as pessoas com quem falei disseram-me: 'Não sei como posso sustentar essa cara de alegria quando tenho que ir para casa e procurar comida no lixo de outras pessoas'", disse a milionária.
"Eu estava com tanta raiva quando saí de lá, porque meu avô (Roy Disney, irmão de Walt Disney) me ensinou a reverenciar essas pessoas que recebem seus pedidos, servem sua bebida. Elas são parte da receita para o sucesso", disse ela.
"Em uma empresa (Disney) que nunca teve tanto lucro, não há desculpas para os trabalhadores não terem dinheiro para comprar comida, racionarem seus remédios..."
Atualmente, a Disney tem canais de rádio e televisão, parques de diversões, estúdios de cinema e uma série de outros negócios. Segundo a Forbes, a empresa está avaliada em US$ 238 bilhões (R$ 891,2 bilhões) e ocupa o 27º lugar na lista das maiores empresas dos Estados Unidos.
'Relatos infundados'
Disney disse ter enviado um email para Rob Iger, o atual presidente da Disney, contando-lhe sobre a situação relatada pelos funcionários do parque, mas afirma nunca ter recebido uma resposta.
"Bob deve entender que ele é um funcionário da companhia assim como as pessoas que tiram o chiclete da calçada. Eles merecem ter a mesma dignidade e direitos humanos que ele", disse Disney.
A Walt Disney Company enviou na quarta-feira uma declaração à mídia americana na qual rejeita as declarações de Abigail Disney e defende suas políticas trabalhistas.
"Geralmente, evitamos comentários sobre relatos infundados como este, mas este é particularmente escandaloso e não podemos deixar passar", disse a empresa. "Discordamos totalmente dessa caracterização de nossos funcionários e de sua experiência na Disney".
O comunicado da empresa diz que a entrevista foi "um exagero grosseiro e injusto dos fatos e não só é uma distorção, mas também um insulto para os milhares de funcionários que fazem parte da comunidade Disney."
"Nós nos esforçamos continuamente para melhorar a experiência de trabalho de nossos mais de 200 mil funcionários por meio de uma variedade de benefícios e programas que proporcionam oportunidades, mobilidade e bem-estar", acrescenta.
"Em nossos parques em Orlando e Anaheim, a The Walt Disney Company atualmente paga a seus funcionários uma média de US$ 19,50 (R$ 73) por hora, significativamente acima do salário mínimo federal."
A empresa disse ainda entender que "os desafios enfrentados por trabalhadores e famílias em 2019 são complexos e vão além do salário".
Herdeira ativista
Abigail Disney é neta de Roy O. Disney, irmão de Walt e co-fundador da The Walt Disney Company. Atualmente é diretora e produtora de filmes, filantropa, ativista, defensora dos direitos das mulheres e da paz.
Em abril, ela publicou uma coluna no jornal The Washington Post criticando as profundas diferenças salariais no império Disney.
"Eu tive de falar sobre a indecência do salário do presidente da Disney, Robert Iger. Segundo (o consultor) Equilar, Iger levou para casa mais de US$ 65 milhões (R$ 243,4 milhões) em 2018. Isso é 1.424 vezes o salário médio de um trabalhador da Disney", escreveu.
Em junho, assinou uma carta com outros 18 milionários que fazem parte dos 1% mais ricos dos Estados Unidos para pedir aos candidatos às eleições de 2020 para criar um imposto sobre a riqueza.
Meses antes, em março, ela afirmou em entrevista à revista americana New York que, quando jovem, sentia "envergonha" da fortuna de sua família, então, se livrou de parte de sua herança depois de se tornar maior de idade.
Embora não se saiba quanto o patrimônio tenha crescido desde então, ela disse ter doado cerca de US$ 70 milhões (R$ 262,1 milhões) nos últimos 30 anos.