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Por que os favelados amam o Mizuno Wave Prophecy 1?

As Poulaines, calçados do século XV, possuíam um designer pouco funcional em termos de anatomia, porém atendia outros objetivos quando o assunto é distinção. Quanto maior fosse o tamanho dos bicos, as pontas do calçado representam o tamanho do poder do seu dono, algumas Poulaines precisavam ter seus bicos amarrados nos joelhos de seus usuários. Olha essa comparação que intrigante: Mizuno X Poulaines Coincidência, história ou intenção? Em 12 de maio de 2011, o Mizuno Prophecy 1 foi lançado no […] O post Por que os favelados amam o Mizuno Wave Prophecy 1? apareceu primeiro em AUR,.

18 jul 2023 - 15h45
(atualizado em 21/8/2023 às 15h53)
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As  Poulaines, calçados do século XV, possuíam um designer pouco funcional em termos de anatomia, porém atendia outros objetivos quando o assunto é distinção. Quanto maior fosse o tamanho dos bicos, as pontas do calçado representam o tamanho do poder do seu dono, algumas Poulaines precisavam ter seus bicos amarrados nos joelhos de seus usuários. 

Olha essa comparação que intrigante:

Mizuno X Poulaines Coincidência, história ou intenção?

Em 12 de maio de 2011, o Mizuno Prophecy 1 foi lançado no Brasil. Estrategicamente, era um tênis que deveria atender a classe média alta, aquelas pessoas que gostariam de acessar o conforto e tecnologia do mundo dos esportes em suas práticas de esporte casual.

Foto: AUR

Porém, rapidamente esse calçado esportivo ganhou outras narrativas na periferia, e ficou conhecido como "pisante de mil" ou como "Pro 1". 

Um detalhe importante é que, na época de lançamento, em 2011, o tênis custava cerca de R$ 900,00 e foi consumido de maneira intensa por periféricos, favelados que na época tinham um piso salarial mínimo de R $510,00, segundo o Dieese, departamento intersindical de estatística e estudos socioeconômicos responsável por desenvolver pesquisas em favor do trabalhador brasileiro - o salário mínimo ideal para custo de vida em maio de 2011 deveria ser de R$ 2.293,31.

O consumo de Mizunos Pro 1 marcou toda uma geração de favelados, que vislumbraram esse tênis como um caminho possível, de construção de autoestima e ascensão. Comprar esse tênis se tornou parte do projeto de vida de muitos favelados pelo Brasil.

Foto: AUR

Hoje, a linha Mizuno Prophecy já está na edição 12, para além dos alternativos e colaborações e continua muito presente na periferia. Entretanto, existe um movimento social, cultural que manifesta um desejo visceral em busca de ter a possibilidade de comprar a primeira edição.

Prova disso é o mercado que existe para atender as necessidades deste público como, por exemplo, o trabalho do Mizuneira, que é pioneiro quando o assunto é pensar em reforma desse calçado.

Para além dele, existem diversos revendedores espalhados pelo Brasil que garimpam nacional e internacionalmente este tênis, o custo médio atual dele varia entre R$1.500,00 e R$3.000,00, dependendo do estado de conservação. Há também um mercado paralelo que compreendeu a demanda desse público e começou a produzir réplicas premium deste tênis.

Isso é um mega insight sobre como existe um público consumidor clamando pela possibilidade de acesso a esse tênis. Porém, a Vulcabras, grupo responsável pela Mizuno, Olympikus e Under Armour no Brasil, não se posiciona em relação a esse público. Inclusive, de certo modo, trabalha contra ele, porque desde o lançamento do primeiro tênis, a qualidade do material das edições seguintes foi reduzindo, segundo diversas reviews do produto.

Mas, a Vulcabras não deve saber que o favelado compra Mizuno, né?

Foto: AUR

Pelo contrário, quando olhamos o crescimento do grupo da Vulcabras no Brasil, nos deparamos com esses números: No segundo trimestre de 2022, a empresa registrou faturamento de R$760 milhões, 60% superior ao segundo trimestre de 2021, um crescimento que vem de forma contínua a mais de oito trimestres consecutivos. De forma geral, 81% dos produtos que geram receita são calçados esportivos.

Outro ponto, hoje o Mizuneira, em suas redes, possui mais de 100 mil seguidores e não tem patrocínio ou incentivo oficial, mesmo diante da grandeza do seu trabalho de restauração de Mizunos. 

Foto: AUR

Se lembram das Poulaines? Diante da repercussão e popularização delas no século  XV, na Europa, muitas pessoas começaram a usar Poulaines com picos gigantescos. Porém, naquele período, havia uma hierarquia em formato de pirâmide, muito bem definida. Então, o Rei da Inglaterra, Eduardo IV, em meados de 1463, teve que aprovar uma lei limitando o comprimento da ponta do pé das Poulaines. 

Diante tamanha popularização do Mizuno nas periferias do Brasil, o que explica a Mizuno não reconhecer o favelado como consumidor e oportunizar o acesso de um tênis tão desejado novamente de maneira oficial?

Texto por: Wes (@ogumdoce)

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