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'The Electric State': por que filme da Netflix com Millie Bobby Brown é 'sem alma', 'idiota' - e um sucesso

Ele chamou atenção pelo elenco estelar, pelo orçamento multimilionário e pelas críticas mordazes dos comentaristas. Para especialistas, The Electric State reforça uma tendência cada vez mais forte no mundo do streaming, de filmes feitos para serem vistos "em segunda tela", mal recebidos pela crítica, mas assistidos por centenas de milhões de pessoas.

15 mar 2025 - 19h55
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The Electric State é um dos filmes mais caros já feitos para streaming
The Electric State é um dos filmes mais caros já feitos para streaming
Foto: Netflix / BBC News Brasil

Recém-lançado pela Netflix, The Electric State chama atenção pelo elenco estelar, protagonizado pelos atores Millie Bobby Brown e Chris Pratt, pelo orçamento generoso, sendo um dos filmes mais caros já produzidos, e pela recepção negativa da crítica.

O filme foi alvo de alguns dos comentários mais ácidos de que se tem notícia recentemente entre comentaristas especializados.

Isso não significa, contudo, que ele será um fracasso.

O jornal britânico The Times descreveu a obra como "uma monstruosidade enorme" e "um tédio de alto preço". É "astuto, mas terrivelmente sem alma", declarou o americano Hollywood Reporter, enquanto o New York Times o chamou de "óbvio, extravagante e simplesmente idiota".

A revista americana Paste chamou atenção para seu orçamento multimilionário, descrevendo o filme como "a maneira mais banal de se gastar US$ 320 milhões (aproximadamente R$ 1,8 bilhão)" e "uma bobagem artisticamente castrada e higienizada".

Algumas críticas foram mais gentis. A revista britânica Empire, por exemplo, deu três estrelas e disse que ele era "fácil de assistir", enquanto o jornal The Telegraph concedeu quatro estrelas ao que chamou de "deleite spielbergiano", em referência ao diretor americano Steven Spielberg.

A pontuação de apenas 15% no site especializado Rotten Tomatoes, um dos principais agregadores de resenhas de filmes e séries, é, contudo, um resultado fraco para qualquer filme, especialmente um com custo tão alto.

O orçamento de US$ 320 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) tem circulado amplamente, não sendo, entretanto, nem confirmado nem negado pela Netflix. Esse valor tornaria The Electric State o filme de streaming mais caro de todos os tempos.

As opiniões dos críticos, porém, têm se tornado cada vez mais mais irrelevantes na era do streaming. No caso de The Electric State, elas não impediram que o filme fosse direto para o primeiro lugar na lista de mais vistos da Netflix após seu lançamento na sexta-feira (14/3).

A dinâmica reitera uma tendência cada vez mais presente na plataforma, de filmes cheios de estrelas, que entretêm e são uma espécie de escape para os espectadores, ao mesmo tempo em que recebem avaliações negativas dos críticos — mas são assistidos por centenas de milhões de assinantes.

Filme é ambientado em uma versão distópica dos EUA dos anos 1990
Filme é ambientado em uma versão distópica dos EUA dos anos 1990
Foto: Netflix / BBC News Brasil

"Adoraria dizer que o que escrevi e o que outros críticos escreveram vai importar, mas simplesmente não acho que vai", diz o editor da seção de filmes do site Digital Spy, Ian Sandwell.

Sandwell concedeu ao filme duas estrelas de cinco, observando que a ação e os efeitos visuais são "decentes", os robôs são "impressionantes" e o final é "épico".

"Meu principal problema foi que eles criaram esse mundo realmente impressionante e visualmente espetacular, para depois contar dentro dele uma história genérica, que todo mundo já viu", acrescenta.

Em sua opinião, as críticas negativas poderiam ter desencorajado as pessoas a pagar para ver o filme se ele tivesse sido lançado nos cinemas. "Mas na Netflix, acho que ainda vai ser gigante [a audiência]. Não acho que as críticas ruins vão importar nem um pouco."

Diretores Anthony e Joe Russo vêm do universo Marvel
Diretores Anthony e Joe Russo vêm do universo Marvel
Foto: Netflix / BBC News Brasil

Embora o trabalho de um crítico seja analisar um filme, "o público provavelmente só quer um blockbuster grandioso com duas grandes estrelas para assistir em casa", completa.

The Electric State acompanha Brown, Pratt e uma sucessão de robôs malucos em uma versão alternativa dos Estados Unidos dos anos 1990, marcada por uma guerra entre humanos e robôs inteligentes.

O elenco também conta com Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), Stanley Tucci (Conclave) e com as vozes de Woody Harrelson (True Detective) e Brian Cox (Succession).

A direção é de Anthony e Joe Russo, que fizeram quatro filmes da Marvel, incluindo os estrondosos sucessos Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato.

O enredo é baseado na obra de ficção científica do sueco Simon Stålenhag — alguns críticos apontaram, entretanto, que a Netflix não retratou o cerne da obra, uma reflexão sobre os perigos de uma sociedade consumista viciada em tecnologia.

Alerta Vermelho é o filme mais visto da Netflix
Alerta Vermelho é o filme mais visto da Netflix
Foto: Netflix / BBC News Brasil

O filme "absolutamente não é" o que se pode chamar de bom custo-benefício em termos de qualidade, diz a editora da editoria de filmes do jornal britânico City AM, Victoria Luxford.

E ainda não se sabe se ele faz sentido financeiramente para a Netflix, ela acrescenta.

O título mais popular da gigante do streaming, Alerta Vermelho, de 2021, teve 231 milhões de visualizações, de acordo com as estatísticas da Netflix.

"The Electric State espera esse tipo de desempenho, assim como um filme lançado nos cinemas por US$ 320 milhões teria expectativa de quebrar recordes de bilheteria", avalia Luxford.

"Quanto maior o valor, maior a meta de sucesso, mesmo com um modelo de negócios tão opaco quanto o da Netflix."

Alerta Vermelho, um filme de ação estrelado por Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds, tem pontuação de apenas 39% dos críticos no Rotten Tomatoes — mas uma classificação da audiência de 92%.

Cameron Diaz e Jamie Foxx estrelam De Volta à Ação, um dos títulos mais vistos da plataforma neste ano
Cameron Diaz e Jamie Foxx estrelam De Volta à Ação, um dos títulos mais vistos da plataforma neste ano
Foto: John Wilson/Netflix / BBC News Brasil

Entre outros sucessos recentes da Netflix que foram mais bem recebidos pelos espectadores do que pelos críticos estão a comédia romântica leve multigeracional A Mãe da Noiva, estrelada por Brooke Shields, com 13% de pontuação dos críticos, o thriller de ação com IA Atlas (19%), com Jennifer Lopez, o filme de espionagem mais família De Volta à Ação (29%), com Cameron Diaz e Jamie Foxx, e a mistura de comédia e ação Lift: Roubo nas Alturas (30%), com Kevin Hart.

São filmes divertidos, mas esquecíveis — e fáceis de assistir em meio a potenciais distrações que os espectadores têm à sua volta dentro de casa. O Hollywood Reporter descreveu Atlas como "outro filme da Netflix feito para assistir pela metade enquanto se lava roupa" — resumindo esse novo gênero.

Em dezembro, a revista N+1 citou declarações de vários roteiristas dizendo que um pedido comum dos executivos da Netflix é que os personagens anunciem o que estão fazendo "para que os espectadores que estão assistindo [à série ou ao filme] em segundo plano possam acompanhar".

"Electric State parece mesmo isso", Sandwell acrescenta, "onde há cenas aleatórias com os personagens explicando exatamente o que aconteceu, às vezes algo que vimos recentemente, só para o caso de você não estar acompanhando".

"Mas depende do filme", ele ressalva.

A Netflix também tem títulos sérios e aclamados pela crítica, é claro, mas eles geralmente não agradam tanto ao público. Emilia Perez, que liderou as indicações ao Oscar deste ano, não chegou ao top 10 das paradas globais da Netflix.

Apesar das 13 indicações ao Oscar, Emilia Perez não chegou ao top 10 semanal dos mais vistos da Netflix
Apesar das 13 indicações ao Oscar, Emilia Perez não chegou ao top 10 semanal dos mais vistos da Netflix
Foto: Netflix / BBC News Brasil

O crítico Gav Squires pontua que muitos dos filmes da Netflix são "bem medianos", mas geralmente não têm orçamentos astronômicos como The Electric State.

"A Netflix sabe o que está fazendo", diz ele.

"Eles sabem que as pessoas provavelmente estão assistindo em uma segunda tela, que não estão prestando total atenção. Não me preocupa muito quando eles lançam coisas com orçamento de US$ 30 milhões que as pessoas não estão realmente assistindo e são meio medianos."

"Mas quando gastam US$ 320 milhões em um filme, começo a ficar realmente irritado. US$ 320 milhões teriam pago os orçamentos dos últimos, eu acho, 10 vencedores do Oscar de melhor filme."

"E aí fica a sensação de que é simplesmente um jeito muito, muito ruim de gastar todo esse dinheiro."

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