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As melhores exposições de arte em São Paulo de 2022 foram as retrospectivas

Entre as grandes mostras do ano estão a de Volpi e Judith Lauand, no Masp, e a de gravuras raras do Museu Albertina, no Instituto Tomie Ohtake

3 jan 2023 - 10h10
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Num ano marcado por ataques terroristas a obras de arte em vários museus do mundo - todos, paradoxalmente, em "defesa" do meio ambiente - até que o Brasil, poupado de tais atos insanos, teve melhor sorte. São Paulo registrou pelo menos 12 exposições memoráveis - uma para cada mês do ano, desde Volpi Popular, aberta em fevereiro, no Masp, até a retrospectiva dedicada à escultora de origem búlgara Liuba (1923-2005), que viveu no Brasil por mais de meio século.

No mesmo mês em que o Masp deu início à exposição Volpi Popular, o Instituto Tomie Ohtake abriu suas portas para um dos mais talentosos jovens pintores do País, Lucas Arruda. Sua retrospectiva, Lugar Sem Lugar, com curadoria de Lilian Tone, reuniu 70 pinturas dos últimos 15 anos. O pintor foi assistente de Paulo Pasta - outro que teve em 2022 mostras importantes, em Londres e Nova York.

Lucas Arruda é um fenômeno internacional. Representado pela Galeria Mendes Wood, é um artista de formação, que tem na escola de Barbizon uma referência marcante, mas que dialoga com pintores tão díspares como a canadense Agnès Martin (1912-2004) e o venezuelano Reverón (1889-1954). O preço mínimo de uma tela sua, hoje, gira em torno de US$ 100 mil.

Também uma referência para Lucas Arruda, Volpi teve uma retrospectiva no Masp à altura de sua importância como o maior pintor moderno brasileiro. A mostra reuniu uma centena de telas que cobriram todos os períodos de sua carreira, da figuração dos anos 1940 (sua primeira exposição foi em 1944) aos anos 1980, passando pela fase concreta - breve período nos anos 1970 em que foi cooptado pelos integrantes do movimento sem se adaptar ao rigor do grupo. Destacaram-se na mostra os retratos e os santos do pintor, mais conhecido por suas "bandeirinhas".

A retrospectiva de Maiolino, Psssiiiuuu..., comemorou os 80 anos da artista de origem italiana, marcada pelo contato com os artistas da Nova Figuração Brasileira dos anos 1960 (ela foi casada com Rubens Gerchman). A mostra teve como ponto alto sua série Hilomorfos (2016) e as quatro peças da série Rosso (2018).

Ainda na lista das melhores retrospectivas não poderia faltar a de Arthur Bispo do Rosário no Itaú Cultural, que ocupou três andares do prédio da Paulista com obras emblemáticas do artista, que passou 50 anos internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. A mais conhecida entre elas, o Manto da Apresentação - pelo qual ele gostaria de ser anunciado ao Senhor- ,integrou a mostra.

Entre as exposições de galerias particulares, a do concreto espanhol Francisco Sobrino (1932-2014), na Dan Galeria, em maio, teve uma importância enorme, não só por ser a primeira no Brasil desse pioneiro da op art no mundo como por ter sido organizada por um dos grandes especialistas em sua obra, o curador francês Franck James Marlot, que teve a preocupação didática de associar trabalhos bidimensionais do artista a esculturas que participaram de mostras históricas.

Tradicional mostra do Museu de Arte Moderna, o Panorama da Arte Brasileira, em sua 37ª. edição, dedicou-se a pesquisar as raízes do racismo e da desigualdade social brasileira na exposição Sob as Cinzas, Brasa, que reuniu 26 artistas, muitos deles jovens. Destacaram-se na mostra André Ricardo, Jaime Lauriano e Lídia Lisboa.

O bicentenário da Independência foi marcado por uma exposição pouco convencional no Masp, Histórias Brasileiras, que ocupou dois andares do museu e reuniu mais de 400 objetos (24 deles inéditos) de 250 artistas e coletivos - de telas do holandês Frans Post (1612-1680) ao contemporâneo indígena Jaider Esbell (1979-2021), passando pelos modernistas ( Anita, Tarsila), os pintores pop (destacando-se Claudio Tozzi) e os mais jovens (O Bastardo).

Uma grande coletiva surpreendeu o público, a Aberto 01, montada na única casa assinada pelo arquiteto Oscar Niemeyer em São Paulo, no Alto de Pinheiros. Foi uma mostra ambiciosa, com o melhor da arte moderna e contemporânea brasileira (Maria Martins, Mira Schendel) e internacional (Giacometti, Henry Moore, Klimt, Picasso). A iniciativa ousada foi de um jovem colecionador e curador. Filipe Assis.

No final do ano, o Masp voltou a organizar uma grande mostra, a retrospectiva da pintora Judith Lauand, que não conseguiu ir à abertura (ela morreu em dezembro, aos 100 anos). A importância da artista no cenário nacional é grande: ela foi a única mulher entre os integrantes do histórico grupo Ruptura, embrião da arte concreta brasileira. O Masp reuniu 124 obras da pintora, entre elas as do início da abstração, dos anos 1950.

Obra concreta de Judith Lauand que esteve em exposição no Masp
Obra concreta de Judith Lauand que esteve em exposição no Masp
Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO / Estadão

Também pioneira, a escultora de origem búlgara Liuba (1923-2005), que veio para o Brasil nos anos 1950, foi alvo de uma retrospectiva no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), aberta em novembro (ela fica em cartaz até fevereiro). Aluna de Germaine Richier, Liuba encontrou o próprio caminho ao renovar tradições arcaicas e buscar a pureza da forma, elegendo animais (aves sobretudo) como modelos.

Escultora Liuba Ferraz no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (Mube) até fevereiro
Escultora Liuba Ferraz no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (Mube) até fevereiro
Foto: FELIPE RAU/ESTADAO / Estadão

O ano terminou com uma exposição de Cinthia Marcelle, em dezembro, no Masp, em que prestou tributo às vanguardas históricas, em particular ao construtivismo russo - a melhor instalação da mostra se apropriava dos princípios suprematistas de Malevitch, usando a cor para discutir questões culturais como o apartheid. Um ano com um saldo positivo. Pelo menos nas artes.

Estadão
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