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BADBADNOTGOOD explica carreira prolífica, estende a mão para iniciantes no jazz e retorna ao Brasil sem ressentimentos

O grupo canadense se apresenta no Balaclava Fest, em São Paulo, no domingo, 10; Chester Hansen, baixista da banda, conversou com a Rolling Stone Brasil sobre novo álbum, influências brasileiras e mais

8 nov 2024 - 15h21
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Foto: BADBADNOTGOOD ( Sylvain Chaussee) / Rolling Stone Brasil

O BADBADNOTGOOD retorna ao Brasil pouco mais de um ano após apresentação polêmica no MITA, festival de voo curto em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na última edição, em 2023, o grupo canadense foi vítima da organização do evento, que o escalou para tocar em palco com pista premium para público ansioso pelo show de Lana Del Rey

"Ainda assim, havia algumas pessoas lá atrás que estavam realmente interessadas no que estávamos fazendo, e sempre nos divertimos tocando aí", ponderou o baixista Chester Hansen em entrevista à Rolling Stone Brasil realizada na última quinta-feira, 7. Ele ainda estava em sua casa, em Los Angeles, mas de malas prontas para viajar ao Brasil no dia seguinte.

Não era a primeira vez da banda no país, e a incompatibilidade em relação aos fãs de Del Rey não foi o suficiente para espantá-la. No domingo, 10, o BADBADNOTGOOD estará no Balaclava Fest, em São Paulo, ao lado de artistas como Ana Frango Elétrico e Dinosaur Jr.

Mid Spiral e colaborações

Pouco depois da passagem pelo Brasil, em maio e junho de 2023, o BADBADNOTGOOD lançou remixes com o Turnstile e um EP com Baby Rose. Em maio de 2024, os músicos divulgaram três EPs, que, em julho, seriam compilados no mais recente disco da banda: Mid Spiral.

Hansen justificou o caráter prolífico do grupo: "Há alguns anos, não podíamos fazer nada por causa da pandemia, então gravamos muitas músicas naquela época. Agora estamos procurando pessoas com quem possamos colaborar e novos projetos para trabalhar". 

"Temos alguns álbuns em que estamos trabalhando que levarão anos para serem finalizados porque estamos fazendo um monte de coisas com pessoas diferentes. É legal poder fazer coisas que ficam prontas rápido. Tipo, o lance com Baby Rose, gravamos em dezembro e o lançamos em março. Foi muito rápido, e ela é incrível", acrescentou.

No mesmo período, também houve espaço para uma releitura de "This Must Be the Place (Naive Melody)", do Talking Heads, para o relançamento do filme-concerto Stop Making Sense, pela A24: "Foi muito legal e uma coisa meio aleatória que nos pediram enquanto estávamos fazendo o Mid Spiral".

"Amamos Talking Heads e amamos Norah Jones", adicionou Hansen, mencionando a cantora que cuidou dos vocais da música.

Enquanto o penúltimo álbum dos canadenses, Talk Memory (2021), levou cerca de dois anos para ficar pronto, Mid Spiral foi planejado para ficar pronto "muito rápido", porque os músicos queriam "ter algo para tocar ao vivo". Além disso, Hansen afirmou que "é legal capturar o momento em que estão musicalmente e lançá-lo logo". 

"Acho que [Mid Spiral] também é sobre comunidade [assim como Talk Memory], porque, pela primeira vez, tivemos muitos músicos no estúdio, compondo, viajando e tocando juntos. Antes disso, éramos três ou quatro pessoas", refletiu o baixista.

Matthew Tavares, que cuidava dos teclados, deixou a banda de vez por volta de 2019, sendo que já não participava de turnês desde 2016. Por isso, provavelmente, os ouvintes mais atentos notaram que o BADBADNOTGOOD tem transformado suas sonoridades e "incorporado diferentes instrumentos". 

O tecladista foi um dos fundadores do BADBADNOTGOOD e é responsável pelo nome do grupo. Originalmente, Tavares o usaria para um projeto televisivo que acabou sendo abandonado. "Nós o usamos nos nossos primeiros vídeos e o mantivemos", confessou Hansen.

Para o Mid Spiral, Alexander Sowinski, Leland Whitty e Hansen se juntaram a Felix Fox-Pappas, Juan Carlos Medrano e Kaelin Murphy. "No Talk Memory, éramos só nós três [Sowinski, Whitty e Hansen]", comparou Hansen. "Leland é um ótimo guitarrista, por isso acho que fomos mais nessa direção no Mid Spiral", respondeu o artista antes de ser perguntado sobre o aprofundamento no rock e fusion na primeira parcela do álbum, intitulada Chaos.

"Isso veio da música que ouvimos, como jazz dos anos 1970", pontuou. "Todos crescemos ouvindo rock, Led Zeppelin e coisas do tipo... Então sempre nos sentimos inspirados pelo rock e por sua combinação com o jazz. É uma mistura de tudo o que ouvimos, eu acho."

Mid Spiral também abarca os EPs Order e Growth. Sobre essa divisão, Hansen explicou: "Fizemos isso porque gravamos em um período muito curto e queríamos lançar [o álbum] rápido. Por isso, decidimos quebrá-lo em segmentos. Desse modo, conseguíamos terminar seis músicas e já mandá-las para mixagem e masterização enquanto finalizávamos outras seis. Pensamos que seria interessante lançar as músicas em grupos e, depois, juntá-las em um vinil".

Pode ser difícil [fazer música sem letras], especialmente com tantos artistas. Alguém pode sentir que uma música é triste, ou melancólica, enquanto outro pode discordar totalmente. Mas acho que, no geral, todos temos uma ideia do sentimento por trás de uma faixa quando a gravamos. De certa forma, é bem interessante, porque qualquer um pode ouvi-la e criar sua própria história. Quando você ouve algo com letra, você provavelmente vai se sentir como o cantor estava se sentindo... Mas com instrumental, você pode preencher isso com sua própria experiência, e a música pode fazer você se sentir de várias formas, dependendo de quem você é. - Chester Hansen

Brasil: influências e parcerias

Poucas horas antes de cair nas mãos dos jornalistas em entrevistas, o BADBADNOTGOOD lançou "Poeira Cosmica", com Tim Bernardes e Arthur Verocai. A canção foi gravada há cinco anos, ainda em 2019 — mesmo ano em que o grupo encontrou os brasileiros pessoalmente pela primeira vez, em São Paulo. 

Hansen lembrou que "foi muito especial conhecer alguém por quem" têm "tanta admiração" e que ouviram "muito ao longo dos anos". Na ocasião, o baixista e companhia tocaram com Verocai e conheceram todo O Terno.

"Nos conhecemos na mesma noite e, depois, enviamos o instrumental para Tim e Verocai", contou Hansen sobre o que começou como uma composição de Leland. "Foi a primeira vez que trabalhamos com ele e tivemos um arranjo de cordas dele [Verocai], o que nos levou a trabalharmos juntos em Talk Memory e em outras coisas". 

Calejado, Hansen se adiantou: "Demoramos uns anos para lançá-la ['Poeira Cósmica'] porque não tínhamos certeza se iríamos colocá-la em um álbum, o que faríamos com ela. Decidimos que este era o momento certo para lançá-la. Ela é muito especial, Tim é um cantor e compositor incrível".

Poderia ser puxação de saco, mas é crível que os músicos do BADBADNOTGOOD têm grande apreço pela música brasileira. Segundo Hansen, sua formação acadêmica foi focada no jazz que floresceu nos Estados Unidos "há 60 ou 70 anos". "Quando fomos ficando mais velhos, começamos a viajar e fomos expostos a muitas coisas por meio de DJs e pessoas que conhecíamos", contou o artista.

Acho que jazz brasileiro, especificamente, é muito bom, porque combina samba, música tradicional brasileira e tudo mais. Além disso, eles [músicos brasileiros] estavam ouvindo as coisas que vinham dos Estados Unidos, mas estavam criando seu próprio som, o que levou à Tropicália, música brasileira psicodélica e tudo mais. É muito fascinante. Sim, provavelmente as músicas brasileiras são nossas favoritas. - Chester Hansen

Faixa do Mid Spiral, "Sétima Regra" chama atenção pelo título — com acento agudo e tudo. A origem do nome, porém, está associada a Star Trek. Hansen esclareceu: "Sou um grande fã de Star Trek. É meio complicado, mas, em Star Trek, existem as chamadas 'Regras de Aquisição', e a sétima regra diz: 'Mantenha suas orelhas abertas'. Achei que era uma referência musical legal, porque está relacionada ao que fazemos, e coloquei [o título] em português porque soa meio... brasileira".

No meio da conversa, surgiu outra curiosidade. O percussionista Juan Carlos — que já esteve em turnê (e na faculdade) com o BADBADNOTGOOD, mas fez sua estreia no estúdio com o grupo em Mid Spiral — foi parar no nome de outra composição: "Juan's World". Trata-se de uma referência, conforme apontou Hansen, ao filme Quanto Mais Idiota Melhor (1992) — ou, originalmente em inglês, Wayne's World. "É bem bobo", constatou Hansen.

Amizade de longa data e jazz 

Tavares, Sowinski e Hansen se conheceram durante a faculdade, em Toronto, ainda nos anos 2000. "Uma das coisas que nos uniu foi nosso gosto em comum pela música de MF Doom", recordou Hansen.

O BADBADNOTGOOD abriu show do rapper em Londres há mais de uma década e chegaram a colaborar com ele na faixa "The Chocolate Conquistadors", que compõe a trilha sonora do Grand Theft Auto Online: The Cayo Perico Heist. "Sentimos falta dele", adicionou o baixista ao lamentar a morte de MF Doom, ocorrida em 2020.

Whitty se juntou à banda em 2016, mas também fazia parte do círculo de amigos do BADBADNOTGOOD. Segundo Hansen, após tanto tempo de amizade, eles criaram "uma linguagem própria e uma maneira de se comunicar muito profunda e diferente de quando você começa a tocar com um músico que acabou de conhecer".

Ele continuou: "Compartilhamos das mesmas ideias e gostos, é muito especial". 

Para espectadores, a improvisação característica do jazz pode parecer ser resultado justamente de uma conexão profunda entre os músicos. No caso do BADBADNOTGOOD, essas improvisações ficam mais para os palcos do que para os estúdios. 

"Gravar uma música pode levar algumas horas, ou um dia, algo do tipo. Quando você termina essa música, você a toca por tantos anos, à vezes, e, para que isso continue sendo legal, gostamos de mudar — mudar o arranjo, deixar mais curta, mais longa, mais rápida...", exemplificou Hansen.

Embora o grupo canadense prefira se distanciar de rótulos, Hansen garantiu que "a música [jazz] tradicional é muito importante" para seus parceiros e ele. "Se alguém diz que ouve mais jazz porque ouviu algo que fizemos, ficamos muito honrados. Espero que esse seja o caso. Tentamos juntar diferentes influências e ideias", argumentou.

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