Balanço da Flip: Os livros mais vendidos, números e destaques da edição de 2024
A 22ª Festa Literária Internacional de Paraty teve mesas de destaque e poucos imprevistos, mas viu espaços vazios e reclamação de editoras independentes. Organização diz que depende de patrocínio para fazer evento em agosto
A 22ª Festa Literária Internacional de Paraty chegou ao fim neste domingo, 13, com a sensação de um evento que parece estar em reconstrução. Se, por um lado, o clima de outubro não foi tão caótico como o da última edição, que teve até apagão, por outro, a impressão era de que as ruas da cidade histórica do sul do Rio de Janeiro não estavam tão cheias como já estiveram para a festa.
As amigas Yone Rodrigues, de 69 anos, e Terê Fátima, de 68, frequentam a Flip há pelo menos oito anos e dizem que este é o ano mais vazio que já viram o evento. No entanto, acham que ele está mais democrático. "Era um pessoal mais de elite. O espaço era mais para eles, só de olhar você percebia. Tinha pouco nordestino, negro, indígena. De um tempo para cá, isso foi diminuindo, mas também a quantidade de pessoas."
Quando cruzaram com a reportagem do Estadão, Yone e Terê aguardavam na fila para uma mesa na Casa de Cultura com roteiristas da série de Cem Anos de Solidão (obra de Gabriel García Márquez), que chega em dezembro à Netflix. Já haviam assistido a algumas mesas da programação oficial pelo Telão na Praça da Matriz e conferido parte da oferta da programação paralela. Aposentadas e moradoras de São Paulo, elas dizem que a festa, mesmo que com sobra de lugares, apresenta agora "maior variedade de temas de debates."
Outros destaques foram a abertura de Luiz Antonio Simas com um tributo ao cronista e jornalista João do Rio, homenageado da edição, cujo trabalho e atenção à cidade permeou muitas das conversas, e a mesa com o escritor palestino Atef Abu Saif e a escritora gaúcha Julia Dantas, que discutiu a escrita como forma de sobrevivência em meio à tragédia.
Mas, com ingressos a até R$ 130, muitas mesas no Auditório da Matriz ficaram com cadeiras vazias. Com alguns convidados internacionais, a tradução simultânea enfrentou problemas em mais de um momento. Em outros casos, as perguntas feitas pela mediação ou o uso de uma linguagem acadêmica demais tornaram o debate confuso e pouco acessível.
Um ponto positivo foi que, neste ano, quem via as mesas do telão do lado de fora também podia enviar perguntas para a mediação. Não quer dizer que foram muitas, mas foi uma boa artimanha da organização para fazer a plateia sentir mais próxima dos autores. Já no YouTube, onde as mesas da Flip são transmitidas ao vivo, a audiência vem crescendo: foram 53 mil pessoas no canal oficial da festa, contra 25 mil em 2023 e 18 mil em 2022.
Off-Flip e editoras independentes
Enquanto o preço da programação oficial dificultou o acesso presencial aos autores, a programação paralela ofereceu o contrário. Praticamente todos os autores que falaram no Auditório da Matriz também estiveram em alguma das casas de editoras, instituições parceiras e coletivos de editoras.
Outros nomes da literatura nacional que não estavam nas mesas principais também apareceram na chamada Off-Flip, como Itamar Vieira Junior (de Torto Arado), Socorro Alcioli (de Oração para Desaparecer) e Stênio Gardel (de A Palavra que Resta). Às vezes, era preciso chegar cedo ou se espremer para conseguir um lugar, mas a oferta estava lá.
Do outro lado do rio, cruzando uma pequena ponte que leva do Centro Histórico ao Areal do Pontal, o clima de satisfação não era o mesmo. Como mostrou o Estadão no início do evento, as editoras independentes reclamaram de uma mudança feita pela organização na área dedicada a elas, num espaço que o evento denominou de Praça Aberta.
Diferente de outros anos, os editores foram posicionados no final deste espaço. Eram os últimos da fila - depois do Auditório do Pontal, uma exposição, uma feira de economia criativa, expositores de artesanato e das barracas de comida. No final do dia de sábado, 12, o Estadão passou por lá e o descontentamento seguia, com a certeza de que a ida à festa causaria prejuízo.
Os livros mais vendidos da Flip
A Livraria da Travessa, livraria oficial da Flip, vendeu 15 mil exemplares no evento. O autor mais vendido foi João do Rio, o homenageado da edição, com 839 unidades. Ele ocupa as duas primeiras posições no ranking de livros mais vendidos com edições diferentes de A Alma Encantadora das Ruas. Luiz Antônio Simas, que fez a abertura sobre João do Rio e é coautor da edição comentada do livro (José Olympio) também aparece na lista.
Outros destaques foram Édouard Louis, Geni Nuñez, Mohamed Mbougar Sarr, Ilaria Gaspari, Jeferson Tenório, Atef Abu Saif e Carla Madeira. A única não participante do evento que aparece na lista de autores mais vendidos é Han Kang, sul-coreana que venceu o Prêmio Nobel de Literatura na quinta, 10.
Veja os títulos mais vendidos:
- A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio (edição da Antofágica)
- A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio (edição da José Olympio)
- A Mais Recôndita Memória dos Homens, Mohamed Mbougar Sarr (Fósforo)
- Quero Estar Acordado Quando Morrer, Atef Abu Saif (Elefante)
- Descolonizando Afetos, Geni Nuñez (Paidós)
- Felizes por Enquanto, Geni Nuñez, (Planeta do Brasil)
- Canção do Amor, Txai Surui (Elo Editora)
- Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher, Édouard Louis (Todavia)
- O Avesso da Pele, Jeferson Tenório (Companhia das Letras)
- Monique se Liberta, Édouard Louis (Todavia)
(A lista publicada originalmente era diferente, mas foi atualizada com dados enviados posteriormente pela Livraria da Travessa, incluindo as vendas da tarde de domingo.)