Biblioteca israelense mostra desenhos inéditos de Kafka
Após anos de processos judiciais, Biblioteca Nacional de Israel recebe acervo de manuscritos e desenhos que estava guardado em banco na Suíça. Material integra herança de Max Brod, amigo e biógrafo do escritor tcheco.Após anos de disputa na Justiça, a Biblioteca Nacional de Israel apresentou nesta quarta-feira (07/08) desenhos inéditos do escritor tcheco Franz Kafka.
Os desenhos fazem parte do acervo deixado por Kafka a seu amigo e biógrafo Max Brod e que inclui cartas, manuscritos e desenhos.
O material estava no cofre de um banco em Zurique. "Recebemos agora a última parte da herança de Max Brod e talvez a parte mais valiosa", disse o arquivista Stefan Litt.
As 60 pastas com documentos originais teriam chegado a Jerusalém há cerca de duas semanas. No total, elas incluem milhares de páginas.
Entre os papéis estão um caderno de exercícios em hebraico de Kafka, um caderno com esboços do escritor, dezenas de cartas de Kafka a Brod, assim como três versões do romance inacabado de Kafka Cenas de um casamento no campo.
A maioria dos textos de Kafka já foi publicada, mas funcionários da biblioteca israelense se disseram surpresos de descobrir os exercícios em hebraico do escritor, filho de um comerciante judeu. Embora seja conhecido que ele quisesse aprender a língua, não era conhecida a extensão do interesse.
Litt espera chegar a novas descobertas sobre a personalidade de Kafka através dos desenhos inéditos. "Às vezes é possível desvendar uma pessoa mais pelos desenhos do que pelos textos escritos", diz.
Brod foi na primeira metade do século 20 um dos mais famosos representantes da literatura em língua alemã de Praga. Quando lutava contra a tuberculose, em 1924, Kafka pediu a ele que queimasse todos os seus escritos. No entanto, Brod publicou as obras, fazendo com que Kafka se tornasse mundialmente conhecido de forma póstuma.
De acordo com um comunicado de imprensa da biblioteca israelense, Brod disse que Kafka mudou de ideia várias vezes em relação a seus desejos, e Brod sentiu que não destruir os escritos era o que Kafka realmente queria.
Judeu, Brod fugiu de Praga em 1939, após a ascensão dos nazistas, e levou consigo para Tel Aviv uma mala cheia dos escritos de Kafka.
Quando Brod morreu em 1968, em Tel Aviv, os papéis fizeram parte da herança que ele deixou para sua secretária, Esther Hoffe, que por sua vez os deixou para suas filhas, Eva Hoffe e Ruth Wiesler.
As irmãs baseadas em Tel Aviv insistiram em manter a vasta coleção de documentos, mas as autoridades argumentaram que eles faziam parte da herança de Israel e deveriam ir para a Biblioteca Nacional em Jerusalém.
Esther Hoffe já havia vendido o manuscrito da obra mais famosa de Kafka, O processo, por 2 milhões de dólares. A família manteve a maior parte da coleção em bancos em Israel e na Suíça.
Depois de uma batalha legal que durou oito anos, a Suprema Corte israelense determinou que, de acordo com sua vontade, Brod não queria que sua propriedade literária fosse vendida a altos preços, mas que fosse para a Biblioteca Nacional.
Em maio, a Alemanha também transferiu para a biblioteca israelense documentos da propriedade de Brod que foram roubados da casa de Hoffe em Tel Aviv há uma década e, posteriormente, colocados à venda na Alemanha.
Recentemente, um tribunal na Suíça estipulou que a parte da herança que estava no país fosse transferida a Israel. Agora, toda a coleção de documentos de Brod está em um só lugar, na Biblioteca Nacional israelense, que anunciou que planeja disponibilizar o material na internet.
MD/dpa/afp
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