Arte contemporânea desafia educadores e estudantes na Bienal
Sexta, 31 de maio de 2002, 13h12
Os descrentes da arte contemporânea podem até criticar, mas a 25ª Bienal de Artes de São Paulo vai bem, obrigado. Pelo menos é o que dizem os números: a exposição recebe cerca de oito mil estudantes por dia em visitas monitoradas e grupos escolares. Independente das críticas que essa edição vem recebendo desde sua abertura, no dia 24 de março, alunos do ensino médio - um pouco mais alheios ao jogo político do meio artístico -, encontram um bom espaço para reflexão nos oito quilômetros do Pavilhão Ciccilio Matarazzo. Apesar da verba curta para o pessoal da Ação Educativa da mostra, 94 monitores/educadores se viram para atender três mil e quinhentos alunos por dia, em visitas que duram cerca de 1h30. Outros cinco mil estudantes assistem a um vídeo de 20 minutos e depois circulam à vontade com o professor pela exposição. Arte Reflexiva Para Rafael Barba Alves dos Santos, 15 anos, a visita ao pavilhão foi cheia de surpresas. "Pensei que fosse um cubo pequeno e que desse para ver por cima", comentou Rafael, que pesquisou em jornais e na Internet sobre a obra do venezuelano Carlos Cruz-Diez. "Imagina, eu nem sabia que podia entrar na obra". Rafael e seus colegas da Escola Técnica Getúlio Vargas, de São Paulo, tiveram cerca de seis aulas, entre seminários e pesquisas, sobre as obras da 25ª Bienal. Chegaram curiosos para ver as instalações que haviam lido e discutido em sala de aula, como os trabalhos de Diez e dos brasileiros José Rufino e Nelson Leiner. Para Sandra Gabriela de Matos, "a arte aqui é mais reflexiva e não como os quadros do Monet, por exemplo, que são mais contemplativos". Colega de Rafael, a menina de 15 anos diz que o gosta mesmo é de arte acadêmica. "Quando mais acadêmico melhor, mas adorei a Bienal porque consegui encaixar perfeitamente as idéias dos artistas no meu cotidiano, na minha vida". Estranhamento como Desfio Pela primeira vez em cinquenta anos, a Bienal de São Paulo resolveu deixar de lado os famosos núcleos históricos - responsáveis por trazer ao Brasil obras de Picasso, Munch, Bacon, entre outros - e apostou no que era o cerne da mostra: arte contemporânea. A temática deste ano para os artistas participantes foi a metrópole. Para Miriam Celeste, uma das coordenadoras da Ação Educativa, o estranhamento com a contemporaneidade das obras é o grande desafio, já que antes as monitorias ficavam muito centradas nas obras clássicas. Se a visita guiada ajuda na compreensão de tanta novidade, a não-compreensão das obras não deve, porém, assustar os visitantes. Como lembra Agnaldo Farias, curador da representação brasileira da Bienal, "às vezes, o não entender é interessante, porque a dúvida é motor do conhecimento". "O trabalho do artista não se esgota no que o artista ou o monitor pode falar sobre ele ou na pretensa explicação que uma pessoa dá", explica.
Reuters
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