Briga com Neil Young era piada, diz vocalista do Lynyrd Skynyrd
- Osmar Portilho
- Renato Beolchi
- Direto de Paulínia
O fato de ser headliner do SWU parecia passar longe da cabeça de Johnny Van Zant. Para ele, o importante mesmo era o encontro que teria com o público dentro de algumas horas no encerramento da segunda noite do festival que termina nesta segunda (14) em Paulínia, interior de São Paulo. Foi em clima amistoso que Van Zant recebeu o Terra em seu camarim para uma entrevista exclusiva.
A simpatia de Van Zant é proporcional à liberdade que ele tem para falar de todo e qualquer assunto, seja a morte de seu irmão Ronnie, o fundador do grupo, em um desastre aéreo que dizimou a banda em 1977, seja a suposta briga entre sua banda e o cantor canadense Neil Young. "Nós amamos Neil Young. Foi tudo uma piada."
Tudo começou quando o canadense gravou uma música chamada Alabama que faz críticas ao mode de vida dos sulistas. Ronnie Van Zant, então líder do Lynyrd Skynyrd, escreveu uma resposta: Sweet Home, Alabama.
Na conversa, Van Zant fala sobre a morte do irmão, a indústria musical, e sobre essa primeiro show do Lynyrd Skynyrd no Brasil, um "sonho realizado", segundo suas próprias palavras.
Confira abaixo os melhores momentos da entrevista:
Terra - Como foi a chegada ao Brasil até agora?
Johnny Van Zant -
É um sonho se realizando para a gente. Nós falamos durante anos sobre vir para o Brasil. Falamos com nosso agente e nunca deu certo. E quando surgiu essa oportunidade nós ficamos empolgado. É uma experiência completamente nova para todos nós - exceto para uma pessoa da nossa equipe que já veio para o Brasil com os Strokes.
Terra - Muitos fãs carregam a bandeira confederada nos seus shows. Como você vê isso?
Johnny Van Zant -
Nos Estados Unidos, isso sofreu um certo freio por questões políticas. As pessoas falam "vocês são racistas". Nós não somos racistas, é uma bandeira rebelde. Ela é parte da nossa herança, do que cantamos. É legal ver os fãs com esse símbolo, carregando a bandeira e continuando o que nós começamos.
Terra - E o que a bandeira representa para vocês?
Johnny Van Zant -
Para nós, a bandeira representa a beleza do Sul dos EUA. Nós somos garotos sulistas, gostamos da comida do Sul, das mulheres do Sul, dizemos um monte de "y'all", (termo típico do sotaque do Sul dos EUA que significa algo como "ôcêis tudo" em comparação com o sotaque caipira brasileiro).
Terra - Orgulho sulista?
Johnny Van Zant -
Exatamente, orgulho sulista.
Terra - Vocês fizeram muito sucesso com uma música que fala do Alabama, mas são uma banda da Flórida. Qual sua relação com o Alabama?
Johnny Van Zant -
A banda fez uma série de shows no Alabama. Isso no começo do Lynyrd Skynyrd. E fizeram contato com um produtor da região chamado Jimmy Johnson. O primeiro disco - e o último também - foi gravado no Alabama. Meu irmão (Ronnie Van Zant, morto em acidente aéreo que dizimou a banda em 1977) amava o Alabama. Neil Young gravou uma música chamada Alabama (na qual ele critica o estilo de vida sulista). E meu irmão escreveu essa canção chamada Sweet Home Alabama graças a Deus, porque é uma grande música. E nós nos tornamos os embaixadores do Alabama por muito tempo.
Terra - Por falar nele, Neil Young esteve no SWU para falar sobre meio ambiente. Há de fato uma briga entre vocês?
Johnny Van Zant -
De jeito nenhum. Nós amamos ele. É um grande artista e gostamos do que ele fez, e do que ele vai fazer. Foi uma piada (a letra de Sweet Home Alabama, que critica Young).
Terra - Vocês são a referência maior do chamado Southern Rock. Como vêem as novas bandas?
Johnny Van Zant -
Existem bandas muito legais e é preciso renovar o que os Allman Brothers e o Lynyrd Skynyrd começaram.
Terra - E sobre bandas mais modernas como Coldplay?
Johnny Van Zant -
Eu gosto. Sabe, eu tenho quatro filhas que me mantém atualizado. Eu amo Adele, por exemplo, ela tem uma voz incrível. Melhore logo, por falar nisso! Ela teve problemas na garganta... E sobre rock and roll eu ouço de tudo.
Terra - Música boa é música boa...
Johnny Van Zant -
Exatamente.
Terra - Lynyrd Skynyrd é uma banda que sofreu uma das maiores tragédias da música. De onde vem a força para seguir em frente?
Johnny Van Zant -
Gary (Rossington, guitarra) é o único membro original do grupo e seguiu em frente. No ano que vem eu vou completar 25 anos nessa banda. Acho que nossa motivação incial foi continuar o legado das pessoas que inciaram esse grupo, meu irmão Ronnie, Gary e Allen Collins anos atrás. E tem os fãs! Os fãs nos incentivam a continuar. É fantástico como eles são fiéis. Algumas pessoas na música tem carreiras durante quatro, dois anos. Estamos nessa há 35 anos graças aos fãs.
Terra - Hoje muitas bandas se formam, lançam três discos e se disfazem. Você acha que os velhos tempos eram melhores para as bandas?
Johnny Van Zant -
Eu posso dizer que sou muito feliz por ter vividos os velhos tempos. Porque é difícil para bandas novas ganhar grana vendendo discos, porque as pessoas não compram mais. Você tem uma série de downloads e muita coisa gratuita. E talvez essa seja uma das razões pelas quais as bandas não continuam. Não sei ao certo, só posso agradecer por fazer parte da velha guarda.
Terra - A industria musical mudou muito nos últimos anos. Ela afetou vocês?
Johnny Van Zant -
Não tanto quanto a outras bandas, grupos mais novos, como estávamos falando. Nós temos muita sorte porque ainda temos muitos fãs que nos mantém aqui, e que compram CDs. E por isso nós podemos seguir fazendo isso...
SWU - segunda edição de casa nova
Pioneiro no Brasil no formato festival + acampamento, o SWU ganha sua segunda edição. Em 2011, o evento acontece na cidade Paulinía, interior de São Paulo (125 km da capital), entre os dias 12 e 14 de novembro.O primeiro SWU aconteceu em outubro, na cidade de Itu, e reuniu nomes como Rage Against the Machine, Queens of the Stone Age, Kings of Leon e Linkin Park.
Assim como foi em 2010, o SWU se divide em quatro setores: dois palcos principais - Consciência e Energia, o New Stage e a Tenda Eletrônica. Neste sábado, subriam aos palcos montados no Parque Brasil 500 nomes como Damian Marley, Snoop Dogg, Kanye West e Black Eyed Peas. Entre os representantes brasileiros ainda estão Emicida, Marcelo D2 e Copacabana Club.
O domingo foi marcado pela miscelânea musical. Os palcos principais receberam Zé Ramalho, Ultraje a Rigor, Tedeschi Trucks Band, Chris Cornell, Duran Duran, Peter Gabriel e Lynyrd Skynyrd. No New Stage, os brasileiros do Sabonetes e o grupo !!! (Chk, Chk, Chk). Quem também tocou por lá foi a veterana e polêmica Courtney Love com o Hole.
O dia de encerramento do SWU promete ser memorável para os fãs do rock dos anos 90. Nos palcos principais se revezerão grupos como Sonic Youth, Primus, Stone Temple Pilots , Alice In Chains e Faith No More. Para os fãs do metal, o Megadeth também marcará presença. No New Stage vale ficar atento ao trio Ash, da Irlanda do Norte e ao grupo experimental canadense Crystal Castles. A banda de pop rock Simple Plan encerra as atividades do palco.