2ª noite de desfiles tem briga, teor crítico e show de musas em SP
Vai-Vai, Gaviões da Fiel, Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Barroca Zona Sul, Rosas de Ouro e Império de Casa Verde fecharam o Carnaval
O Carnaval de São Paulo chegou ao fim com uma noite marcada pelo teor críticos dos desfiles de Vai-Vai, Gaviões da Fiel, Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Barroca Zona Sul, Rosas de Ouro e Império de Casa Verde.
Segunda escola a entrar na avenida, a Gaviões da Fiel pediu "Basta!" para todas as desigualdades. Porém, o final da passagem da escola pelo Anhembi acabou marcado por uma briga entre integrantes da torcida com pessoas que estavam em um camarote.
Já a Rosas de Ouro fez alusão a Jair Bolsonaro e sua polêmica declaração sobre que não se responsabilizaria se alguém virasse jacaré após tomar vacina contra a covid-19.
Veja abaixo os destaques da noite:
Império de Casa Verde
Já com a luz do dia, o fechamento do Carnaval 2022 em São Paulo ficou com a Império de Casa Verde. Com o enredo denominado 'O poder da comunicação - Império, o mensageiro das emoções', a escola abordou o tema poder das comunicações, com o influenciador digital Carlinhos Maia como homenageado.
''O enredo da império de Casa Verde fala da comunicação, começando com os tambores tribais, passando pelas escritas babilônicas, depois a prensa de Gutenberg, que muda toda história, do rádio e TV com a presença do velho guerreiro Chacrinha e fechando com o grande comunicador da internet Carlinhos Maia'', explicou o carnavalesco da escola, Mauro Quintaes.
Para tratar do assunto, a agremiação contou neste ano com 2.100 integrantes, 22 alas e quatro carros alegóricos. Além do tamanho impressionante dos carros alegóricos da escola - o abre-alas tinha 52 metros de comprimento - um dos destaques da apresentação foi a formação de um tigre por 4 integrantes da comissão de frente que se juntaram para simbolizar o início da evolução da comunicação na era glacial e na era do surgimento do fogo.
Sem problemas, o encerramento do desfile da Império da Casa Verde marcou o tempo de 1 hora e 3 minutos, finalizando, assim, o Carnaval do grupo especial das escolas de samba de São Paulo.
Rosas de Ouro
Com o samba enredo denominado 'Sanitatem', Rosas de Ouro abordou em seu desfile deste ano rituais e caminhos para a cura dos males — pelas mãos, pela alma ou pela mente. Nas cores azul e rosa, a agremiação trouxe 1.800 participantes, 22 alas e quatro carros alegóricos para o Anhembi.
''Nosso enredo sobre rituais de cura é de comemoração, vamos falar de fé, de esperança e de magia. Vamos falar a forma que o homem encontrou desde o início para curar a si e ao próximo, e como chegamos a esse momento em que voltamos a comemorar, voltamos a nos abraçar. Vamos comemorar'', explicou Paulo Menezes, carnavalesco da Rosas de Ouro.
Um dos diferenciais da apresentação da escola foram convites a pessoas, escolhidas de forma aleatória na aquibancada do Anhembi pela comissão de frente, a participarem da encenação de um ritual de cura, com tochas, durante o percurso.
Outro momento que chamou a atenção foi a homenagem aos profissionais de saúde, que seriam os novos sacerdotes do mundo. No último carro alegórico, uma encenação fazia alusão ao presidente Jair Bolsonaro e suas repetidas declarações contrárias à vacinação contra a covid-19, na qual uma enfermeira comemorava ao conseguir vaciná-lo. Após, a 'vacinação', aparecia um jacaré.
A escola encerrou sua apresentação com 1 hora e 5 minutos. No fim do desfile já era possível observar os primeiros raios de sol trazendo o amanhecer à capital paulista.
Barroca Zona Sul
Com o samba enredo denominado 'A evolução está na sua fé... Saravá seu Zé', a escola Barroca Zona Sul abordou em sua apresentação Zé Pilintra, o malandro-boêmio considerado como entidade por religiões brasileiras de matriz africana. No desfile, as diferentes fantasias e alas mostraram as fases da figura até se tornar uma entidade.
Neste ano, a agremiação levou ao Sambódromo do Anhembi 2.100 participantes, 15 alas e 4 carros alegóricos, com referências às religiões de matriz africana no Brasil e um discurso contrário à intolerância religiosa.
''Contamos a história da entidade da Umbanda Zé Pilintra, muito conhecida como advogado dos pobres e protetor dos menos favorecidos'', explicou o carnavalesco Rodrigo Meiners.
A escola finalizou sua passagem pela passarela do samba paulista com o tempo cravado de 1 hora e 5 minutos, o limite para não sofrer penalização.
Águia de Ouro
Com o enredo denominado 'Afoxé de axalá - no cortejo de babá, um canto de luz em tempo de trevas', a Águia de Ouro trouxe um cortejo de exaltação à diversidade étnica e cultural brasileira e contra a intolerância religiosa. Neste ano, participam do desfile da agremiação 2.500 integrantes, quatro carros alegóricos e 20 alas.
''Neste ano, a proposta da agremiação consiste em evocar o Orixá Oxalá, o senhor da vida, o senhor da paz, para que derrame a sua misericórdia sobre a humanidade. Não deixa de ser um grande clamor a favor da raça negra em prol da igualdade racial no Brasil'', definiu o carnavalesco da escola Sidnei França.
Sem problemas, a Águia de Ouro fechou sua passagem pela avenida com tranquilidade, com 1 hora e 3 minutos de duração.
Mocidade Alegre
Com o enredo 'Quelémentina cadê você', a Mocidade Alegre foi a terceira escola a desfilar pelo Sambódromo do Anhembi, já na madrugada deste domingo, 24. Neste ano, a agremiação levou para a avenida uma samba enredo que mostra a trajetória da cantora Clementina de Jesus.
Com as cores vermelho e verdade, ao todo, nesta apresentação, a Mocidade Alegre levou ao maior palco do samba paulista 1.850 integrantes, além de quatro carros alegóricos e 16 alas.
''A essência do nosso desfile neste Carnaval é a emoção de trazer uma mulher que só aos seus 60 anos foi reconhecida como uma grande cantora, com uma ancestralidade, uma mulher negra'', definiu Edson Pereira, carnavalesco da escola.
Com a participação da vencedora da vigésima edição do Big Brother Brasil, Thelma Assis, o desfile da escola transcorreu sem intercorrências e chegou ao fim da avenida marcando o tempo de 1 hora e 1 minuto.
Gaviões da Fiel
Com Sabrina Sato à frente da bateria pelo 3º ano, a Gaviões foi a segunda escola a levar brilho para a passarela do samba de São Paulo. Neste ano, a agremiação trouxe uma reflexão sobre desigualdade social com o samba-enredo "Basta".
"Basta de racismo, basta de desigualdade, basta de devastação ambiental e genocídio indígena. Basta!", diz o enredista Júlio Poloni. Ajudaram a pedir esse basta 2.000 integrantes em 10 alas e 4 carros alegóricos.
"A emoção está a flor da pele. Já chorei, já sorri, estou tremendo, mas voltar depois de dois anos não tem explicação. Parece que é a primeira vez que estou pisando avenida', diz a porta-bandeira Ana Larissa em entrevista à TV Globo, que diz a fantasia chega a pesar 10 quilos.
O desfile da Gaviões da Fiel acabou com uma briga entre integrantes da torcida com pessoas que acompanhavam os desfiles em um dos camarotes do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. Um vídeo feito pelo público na arquibancada oposta mostra o momento em que um sinalizador cai no espaço reservado.
Vai-Vai
A noite começou com a Vai-Vai, que celebrou o retorno para o Grupo Especial. A escola de samba do Bixiga fez uma homenagem aos povos africanos com o enredo "Sankofa! Volte e pegue, Vai-Vai".
Como explica o carnavalesco Chico Spinosa, Sankofa é um ideograma com origem em provérbios africanos de um pássaro com a cabeça voltada para trás, que representa a "volta ao passado para adquirir conhecimento para a construção de um futuro melhor".
Entraram na avenida 1.800 integrantes em 23 alas e 4 carros alegóricos.
O desfile também marcou a estreia de Veronica Bolani como rainha de bateria, posto que foi ocupado por Camila Silva por 10 anos. Já a apresentadora Carla Prata brilhou muito como madrinha da bateria.
"Carnaval a gente não comemora, a gente protesta", diz Paulinha Penteado porta-bandeira da Vai-Vai ao ressaltar a importância de exaltar a ancestralidade.