Carnaval é momento de se desprender da perfeição na maquiagem, diz Julia Petit
Empresária e referência em maquiagem incentiva foliões a se expressarem de maneira livre durante a festa de Momo
Quando falamos de Carnaval, o que vem a sua mente, além da folia? Glitter, fantasia, muitas cores e expressão?
Se essa foi a sua resposta, você está certo. Mas se não foi, não há nada de mal nisso. É porque carnaval é mesmo o momento de se soltar, ser o que quiser, não seguir nenhuma moda. Ao menos é isso que Julia Petit, co-fundadora da Sallve, e mais nova dona da marca de maquiagem Contém 1g, defende na hora de se produzir para o bloquinho.
"Acho que tá muito pulverizado. Toda vez que eu vejo uma matéria falando 'a tendência do TikTok', eu sempre repito no meu cérebro assim: 'No seu feed é essa tendência, no meu não existe isso acontecendo'. E no carnaval, muito menos, porque carnaval é uma loucura. É qualquer coisa", avalia, durante bate-papo descontraído com o Terra.
Apesar da resistência em apontar uma tendência de make para o carnaval, Petit não hesita em traçar dois caminhos que podem marcar a festa deste ano: por um lado, pessoas preocupadas em fazer algo bem elaborado para compensar o tempo que estiveram longe da folia por causa da pandemia; por outro, a galera que não liga tanto para o acabamento da make, e se preocupa mesmo com a própria diversão.
Essa avaliação não veio do nada . Julia Petit cita a onda de cuidados com a pele que ganhou espaço na rotina de cuidados diários das pessoas. Com isso, se fortaleceu o movimento de mostrar a própria cútis, perfeita ou não, com acne ou não, com manchas ou qualquer outra característica que tenha.
Além de levar em consideração o movimento 'no make up' (sem maquiagem, na tradução livre do inglês) Julia Petit também aposta que os desenhos no rosto estarão em evidência nas festas, mas muito mais por desejo do que por uma tendência já definida pelo mercado.
"Foi o que a gente ficou hipnoticamente assistindo no Instagram e nas redes sociais [nos últimos tempos]. Ondinha, estrelinha, coraçãozinho, todo tipo de coisa com delineador. Talvez seja isso que a gente veja mais, as pessoas desenhando no rosto. Nem sei se isso dá para chamar de tendência, mas, de desejo", opina.
Maquiagem desapegada
Se no dia a dia não há regras quando se trata de maquiagem, no carnaval, então, a produção não precisa ser restrita. Ao se preparar para o bloquinho ou avenida, o ideal é levar em conta o objetivo de se divertir. Para isso, vale misturar texturas e cores, e usar tudo o que tiver em casa -- e no menor tempo possível.
"Só se diverte, vai logo para a rua, entendeu? Quando a gente vai ter oportunidade de novo? Porque todo mundo ficou meio que com estresse pós-traumático, a gente nunca sabe quando a gente vai ficar em casa de novo [risos]. Mas é assim, tipo, vai logo para a rua. [Make de carnaval] Não é sobre perfeição", aconselha.
E Julia Petit fala isso com toda a experiência de causa. Segundo revela ao Terra, ela mesma está nessa fase de, em suas palavras, "pegar a maquiagem e jogar cor". "Fazer umas manchas... Fica lindo. Depois, você põe um delineador para juntar tudo, faz alguma coisa. Mas é muito mais expressão, e a vontade de ver essas coisas, o brilho, mais do que organizar isso num esfumado", acrescenta.
Apesar de defender a maquiagem desconstruída, Petit diz que o estilo até hoje causa estranheza para algumas pessoas. Ela, que já passou por várias fases da internet nos 13 anos de canal no Youtube, ainda se depara com alguns episódios, como quando maquiou uma amiga para uma campanha de Carnaval recentemente. A proposta era diferente e fora do padrão.
"Eu não esqueço, quando eu mostrei a fotinho da Tati no stories, e alguém falou assim: 'Nossa, mas está um pouco exagerado'. E eu pensei: 'Mas, gente, é carnaval. Se não exagerar agora, vai exagerar que dia do ano?' Sei lá, passa tudo o que tem em casa", diz.
"Se a gente não fizer uma maquiagem mais desapegada da perfeição, e da beleza comportada nessa época, que horas a gente vai fazer isso? O carnaval é desbunde", brinca Julia Petit.
Outros andaram para a gente correr
A maquiagem como expressão artística é o que motivou Julia Petit a trazer a Contém 1g de volta ao mercado. Além do próprio carnaval, artistas que marcaram época também foram sua referência.
"A gente olhou o Ney Matogrosso, Secos e Molhados de uma maneira geral, Baby Consuelo, a Elke Maravilha, esses personagens que a gente tem muito marcado, e o Carnaval, que é essa hora que a gente desbunda mesmo, que fica doido, e que tudo pode. [...] O glitter é nosso, entendeu? Não vem, não, gringos, aqui a gente domina, sabe, assim? Uma coisa de diversão", descreve.
A série Euphoria, sucesso da HBO Max, e suas makes conceituais, cheias de brilho, cores e muita personalidade também estiveram no seu mural de referências. Através das produções, é possível perceber como as personagens se expressam.
"Mostrou a maquiagem de um jeito diferente para essa geração, que vinha de uma cultura de Youtube de muita correção, de muito contorno; separa o olho, junta olho, aumenta o olho; aumenta a boca, aumenta rosto, diminui, faz mais queixo; e que virou uma maquiagem mais expressiva. Acho que esse grande shake a gente vai ver nesse carnaval. [...] Acho que as pessoas no bloco, na rua, no bailinho, vão ter primeiro o 'quanto eu posso me expressar da maneira mais rápida possível, e simples'", avalia.
"É um momento de muita liberdade, de cada um ser o que é. Mesmo quando você faz uma maquiagem corretiva, ou que você quer afinar o nariz, um contorno no rosto, ela também é a expressão de alguém. Nenhuma dessas expressões é errada. É tudo expressão, e tudo bem", diz Julia Petit, referência em maquiagem no Brasil.