Casa Comigo: bloco paulistano celebra uniões de casais em 10 anos de rua
Neste ano, o Bloco Casa Comigo sairá no sábado, 11, com concentração na Rua Henrique Schaumann, no bairro de Pinheiros
Uma história de amor que começa no carnaval tem tudo para ser Timbalada, mas a celebração dessa união sai de Salvador direto para a capital paulista: o Bloco Casa Comigo. Há dez anos a agremiação leva fitas, paetês, glitter e muito amor para as ruas de São Paulo.
"A gente já curtia o carnaval juntos em outras cidades e gostava de compor música, tocava marchinha. E aí, em 2013, a gente resolveu fazer um bloco. São Paulo tem de tudo e não vai ter carnaval?", conta Raul Silencio, de 43 anos, um dos fundadores do bloco.
O cantor e compositor divide o comando do trio elétrico com amigos da Vila Beatriz, bairro onde morava em São Paulo. Segundo lembra, a estreia foi um sucesso e reuniu quase mil pessoas.
"Colocamos umas caixas de som na rua, compramos umas cervejas e cantamos o hino que fizemos para o bloco", acrescenta.
É para casar mesmo?
O nome do bloco surgiu a partir de uma brincadeira. Sabe aquela ideia de que todo mundo quer estar solteiro no carnaval? Eles ironizaram, justamente, essa expectativa.
"A gente queria promover o casamento da folia. E a gente nem imaginava que tanta gente queria casar assim", surpreende Silencio.
E é tanta gente que, segundo ele, já perdeu as contas de quantos casamentos foram promovidos no bloco. Uma dessas uniões, que passaram de brincadeira para a realidade, é a de José Victor Rizzuto, 31 anos, e Paulo Geto, 40. Os dois deram match em um aplicativo de relacionamentos em 2014, e um mês depois da troca de mensagens, o Bloco Casa Comigo foi o cenário para o primeiro encontro.
O clima de amor já estava no ar quando os foliões apaixonados se encontraram na Vila Madalena. O namoro veio depois de um mês.
"A gente tem esse carinho pelo bloco, porque foi a primeira ficada lá no trio elétrico pequeno. Ficamos ali na roda, a gente sempre se lembra disso", conta José Victor. "Essa paixão veio, virou amor e virou tudo que a gente construiu nesses nove anos com as nossas famílias".
A história que começou na festa de fevereiro e completa nove anos este mês ganhará um novo capítulo em breve. José e Paulo entraram na fila da adoção há dois anos e estão na expectativa de receber uma criança na família.
"Tudo que a gente construiu na base do respeito até aqui vejo como um ato político. Toda essa trajetória é também a realização do sonho de sermos pais, na forma da adoção legal, sem nenhuma questão dentro da Justiça. Tudo isso faz parte da nossa história", disse.
Dez anos do Bloco Casa Comigo
Em 2023, o Bloco Casa Comigo sairá no sábado, 11, com concentração na Rua Henrique Schaumann, no bairro de Pinheiros em São Paulo. Com Cyz Mendes, Sarah Roston e Rafael Mimi como artistas convidados, a edição de 10 anos promete ser a maior até agora - e com muitos casamentos para a conta.
Desde sua fundação, houve mudanças significativas tanto no número de pessoas quanto em relação à estrutura preparada para receber os foliões. Thiago Albanese, vocal da banda e co-fundador, destaca que os desafios mudaram, mas a emoção do início continua presente.
"No começo os desafios eram enormes, desde falta de experiência, de recursos, descoberta de como fazer, estrutura de som. Como qualquer coisa no começo, tem suas dificuldades", avalia. "Mas até hoje tenho frio na barriga. Na noite antes do desfile, eu nunca durmo".
De acordo com o músico, neste ano em especial o carnaval tem um gosto diferente para ele e o bloco.
"Dois anos sem carnaval na rua e por um motivo horrível, de pandemia, de pessoas morrendo e toda essa negligência que teve de algumas lideranças... Então, voltar para a rua é saber que a gente conseguiu passar por esse momento de trevas", diz. "Acho que a cidade foi feita para as pessoas ocuparem, então, o carnaval tem uma missão muito importante de mostrar para as pessoas que a cidade é delas".
O impacto do Bloco Casa Comigo no carnaval de rua de São Paulo se estende também para a economia. Segundo Fernanda Toth, 42, co-fundadora da agemiação, mais de 400 pessoas são empregadas durante a folia, entre as áreas de limpeza, técnica e banda.