Galo da Madrugada reverencia ancestralidade do frevo após dois anos sem carnaval
Símbolo do carnaval do Recife, alegoria homenageia pretos e pardos, pilares da cultura carnavalesca e do surgimento da festa popular
No ano que marca a retomada dos festejos carnavalescos, o Galo da Madrugada, maior bloco de rua do mundo, promete uma celebração que saúda tanto o presente quanto as tradições que fazem parte da essência da agremiação e dos pilares da cultura carnavalesca do Recife (PE). Da Ponte Duarte Coelho, a alegoria gigante do galo majestoso vai representar a etnia brasileira, sobretudo da população negra.
Batizada de "Galo Ancestral", a obra de arte, assinada pelo artista plástico e designer pernambucano Leopoldo Nóbrega, deve chegar a 28 metros de altura. A estrutura começará a ser montada no dia 14 de fevereiro, às 20h. O desfile da agremiação acontecerá no dia 18, Sábado de Zé Pereira, a partir das 9h.
"É muito forte esse sentimento do Galo de poder retornar às ruas, já que essa, aliás, foi a grande motivação do surgimento do bloco: devolver o frevo às ruas. Deixamos, por dois anos, de cumprir essa missão e, agora, estamos de volta, para grande alegria nossa e do povo", comemora Rômulo Meneses, presidente do Galo da Madrugada, que este ano desfila com o tema 'Viva a vida, viva o frevo, viva Enéas'.
O homenageado que dá nome ao tema é Enéas Freire, um dos fundadores do bloco, ex-presidente e presidente de honra da agremiação, que há dois anos teria completado 100 anos de vida.
"A data foi celebrada em 2 de dezembro de 2021, mas como não pudemos festejá-la na época, já que não tivemos carnaval, deixamos para prestar agora essa homenagem", comenta Meneses, genro do homenageado. Enéas morreu em 2008, aos 86 anos, após uma parada cardíaca.
Galo Ancestral
Pela primeira vez, o Galo reverencia pretos e pardos, pilares da cultura carnavalesca e do surgimento do festejo popular, como o próprio frevo. A escultura virá com indumentárias Afro-Pernambucanas e paletas de cores em tons quentes, como as que estão na bandeira de Pernambuco.
"Teremos também tons flúor e metálicos, uma cartela de cores vibrantes, com influências afro punk. A roupa será um caleidoscópio de inspirações étnicas", antecipa o artista Leopoldo Nóbrega.
As pontas das asas serão douradas, em referência a Oxum, divindiade das águas, assim como a gargantilha africana que estará no pescoço do Galo. Já a cauda terá as cores do arco-íris.
Símbolos sagrados da folia, como coroas, escudos e sombrinhas de frevo, também estarão presentes na alegoria. Pinturas africanas na cor branca irão adornar o rosto do galo gigante, cuja crista terá dreadlocks com fitas de múltiplas cores.
Para Ricardo Mello, secretário de Cultura do Recife, a escultura deste ano reverencia a base do carnaval recifense.
"O frevo e o maracatu são muito mais do que expressões culturais ou festa. São afirmações de luta, história, resistência e identidade, com a marca da paixão pela arte, a dança, a música, além de reconhecimento à ancestralidade. Assim nos encontramos com o Galo Ancestral", destaca.
O bloco
O Clube das Máscaras o Galo da Madrugada foi fundado oficialmente em 23 de janeiro de 1978. O primeiro desfile ocorreu em 4 de fevereiro daquele mesmo ano. A grande consagração veio em 1994, quando o Guiness Book reconheceu o Galo da Madrugada como o maior bloco de carnaval do planeta.
Cerca de 1,5 milhão de foliões saem pelas ruas do Centro do Recife durante o desfile, sempre aos sábados de carnaval. Este ano, a multidão será acompanhada por um galo pós-moderno e inclusivo, que dialoga com a redução de impactos ambientais, já que 90% das mais de 7 toneladas de insumos utilizados serão de materiais e resíduos recicláveis.
Na roupa, serão utilizados descartes de tecidos, como malhas e jeans, coletados em cidades como Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, que fazem parte do polo de confecções do Agreste de Pernambuco. Compondo a indumentária, serão confeccionados mosaicos de espelhos tecnológicos com CDs e DVDs descartados.