Homem da Meia-Noite homenageia 'brincantes' em reencontro com foliões de Olinda
Sete representantes da folia de Pernambuco, entre artistas e anônimos ilustres, inspiram tema do desfile em 2023; bloco existe há 91 anos
Em 91 anos de história, o Homem da Meia-Noite só deixou de desfilar no carnaval de Olinda (PE) em 2021 e 2022, devido à pandemia do coronavírus. No ano passado, foi o primeiro a cancelar o desfile oficial. Este ano, o reencontro do calunga gigante com as ladeiras no carnaval de Olinda promete emocionar os foliões entre a noite do Sábado de Zé Pereira, 18, e o Domingo de Carnaval, 19.
Com o tema 'Brincantes', o Homem da Meia-Noite homenageia sete representantes da folia de Pernambuco, como artistas, personagens da cultura popular, anônimos ilustres e até o dragão do Grêmio Recreativo 'Eu Acho é Pouco', fundado em 1977, em Olinda.
"Porque são os brincantes, as pessoas que fazem a alegria do carnaval. É uma homenagem ao povo pernambucano com a certeza de que em 2023 teremos um dos maiores carnavais do nosso estado", afirmou Luiz Adolpho, presidente do Clube Carnavalesco de Alegoria e Crítica O Homem da Meia-Noite.
De onde surgiu O Homem da Meia-Noite
O Clube Carnavalesco de Alegoria e Crítica O Homem da Meia-Noite é uma das agremiações mais antigas a circular pelas ladeiras do Sítio Histórico de Olinda. Nascido em 1932, no dia de Iemanjá, em 2 de fevereiro, o gigante é considerado um calunga, elemento sagrado do candomblé presente no maracatu nação.
A lenda em torno da origem do personagem diz que um dos seus fundadores, Luciano Anacleto, decidiu criar o boneco após assistir ao filme 'O ladrão da Meia-Noite', exibido no Cinema do Carmo, em Olinda. Reforçando o misticismo, o calunga se apresenta sempre de fraque e cartola, nas cores verde, preta ou branca, com um dente de ouro no sorriso e, no braço, um relógio que marca meia-noite.
Com a estrutura em madeira, o boneco original tinha a cabeça, o busto e as mãos em papel gomado e massa corrida para o acabamento, pintados numa tonalidade semelhante à da pele humana. Ele ainda media 3,50 metros e pesava 50 quilos.
Seus braços eram recheados de palha para colchão e, assim como os punhos e as mãos, continham areia para mantê-los em posição durante as evoluções. Para a confecção das roupas, foram necessários mais de 22 metros de tecido.
Segredo da Roupa
A roupa do Homem da Meia-Noite é cercada de expectativas porque, a cada ano, ela representa o tema do desfile e a mensagem que deseja transmitir aos foliões. O traje especial é conhecido apenas no momento em que o calunga deixa a sede para desfilar pelas ruas de Olinda, arrastando uma multidão.
Por mais de 30 anos, a responsabilidade de confeccionar o figurino foi do estilista Mestre Brasil. Com sua morte, em 2012, o clube passou a convidar outros artistas. Neste ano, o clube chamou a designer de moda Jaqueline Tamboo, coordenadora do Centro da Moda de Olinda.
Na sede da agremiação, na Estrada do Bonsucesso, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Olinda, é possível encontrar um vasto acervo de fotografias e fraques usados pelo calunga nas últimas décadas.
Patrimônio
Em 2006, o Clube de Alegoria e Crítica O Homem da Meia-Noite recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, que reconhece e gratifica representantes da cultura popular e tradicional do estado.
O calunga gigante desfila oficialmente entre a madrugada do sábado de Zé Pereira e o domingo de carnaval. Este ano, junto à Mulher do Dia e ao Menino da Tarde, ele também participou de um cortejo especial na abertura oficial do carnaval de Olinda, que aconteceu nesta quinta-feira, 16.