Avanço dos blocos leva à oferta de serviço VIP em SP
Opções para os foliões têm se diversificado e incluem espaços privados com open bar, alimentação e até massagem
SÃO PAULO - Os mais de 600 desfiles e a previsão de público de 15 milhões de pessoas sinalizam a proporção que o carnaval de rua ganha ano a ano em São Paulo, estendendo-se até 1.º de março. As opções para os foliões têm se diversificado, contudo, para além da programação oficial, por meio de desfiles em espaços fechados e de camarotes próximos do trajeto de blocos, que oferecem serviço VIP, como massagem, open bar e alimentação.
Um dos casos é o camarote Quarteirão Mágico, que promove serviços especiais em três bares na Vila Madalena, na zona oeste, tais como open bar, open food, massagem, espaço de maquiagem, área de descanso, personalização de abadás, cabine de fotos e apresentações de escolas de samba, DJs e músicos.
O custo vai de R$ 200 (um dia) até R$ 792 para os quatro dias de carnaval, que chega a R$ 871 com as taxas. Com nove horas de programação, estão previstas 1,2 mil pessoas por dia. O público é majoritariamente de pessoas entre 23 e 35 anos, tanto moradores de São Paulo quanto turistas. "É para quem quer mais conforto, que gosta de carnaval, mas não quer ficar o tempo todo na muvuca", explica Renato Cury, sócio-proprietário dos bares Seu Justino, Pracinha do Seu Justino e High Line.
Ele teve a ideia de criar o camarote após perceber uma redução do fluxo de frequentadores durante os desfiles, há três anos. "O Quarteirão Mágico é uma forma de levar um produto premium para os clientes que desejavam participar do carnaval de rua, mas que queriam mais conforto, com um bom banheiro, lugar para descansar. Ele pode funcionar como uma extensão depois do desfile e um conforto durante o bloquinho."
Propostas semelhantes também ganharam espaço em espaços variados, desde o restaurante Esther Rooftop até o Bar Brahma, que terá um bloco na rua aliado a um camarote dentro da área privada. Outro caso é do Hotel Hilton do Morumbi, na zona sul paulistana, que oferece pacotes de hospedagem e de after party durante o pré-carnaval, com apresentações musicais. Um pacote custa R$ 690 para diária, transfer e acesso a um camarote com bebida e comida à vontade - enquanto apenas a festa no fim da tarde sai por R$ 220. Segundo a senior manager Suzana Cardoso, a ideia é oferecer uma "experiência diferente, que vai além do bloquinho tradicional".
Fora da rua
Outro aspecto da "camarotização" do carnaval de rua é a realização de eventos similares dentro de áreas outdoor privadas, como estacionamentos e terrenos vazios. Entre as vantagens apontadas por produtores estão a renda obtida por meio de propaganda ampla (o que a Lei Cidade Limpa dificulta em áreas públicas) e da venda de alimentos, bebidas e camarotes.
Um dos principais exemplos é o Arena Carnaval, que terá segunda edição neste fim de semana em uma área externa dentro do complexo do Anhembi - Cláudia Leitte, Ludmilla e Carlinhos Brown entre as atrações. "Alguns artista têm dificuldade de colocar um megabloco em um espaço na rua, para expor marcas", explica Luiz Restiffe, CEO da Agência Inhaus e idealizador do evento, inspirado no carnaval de Salvador.
A entrada é gratuita para a área geral, mas camarotes de até R$ 500 são vendidos pela organização. "A Arena traz as mesmas coisas boas que se encontra na rua, com o espaço aberto, o trio elétrico, a gratuidade, mas com mais banheiros, segurança, com revista na entrada e estrutura de alimentação", compara Restiffe.
Há até a possibilidade de sair no trio elétrico de apoio que vai atrás do principal, em que ficam apenas as caixas de som, para ficar mais perto dos artistas. "Os camarotes são uma forma de a pessoa curtir a bagunça boa, mas ter mais conforto e, no caso do que não é seco, ter bebida à vontade, com toda a comodidade que o folião precisa", diz ele, que cogita ampliar a programação para mais dias em 2021. "A ideia de 'camarotização' vem aumentando."
Outro caso é o evento Tenda da Carnaval, que reúne sete blocos em quatro dias, com custo que vai de R$ 70 até R$ 300. "Desde o começo, a gente sempre fazia festinha fechada para arrecadar dinheiro para o desfile", justifica Lucas Aurelio, um dos organizadores.
Ele também é fundador do bloco Que Casar Que Nada, que não participará do carnaval de rua deste ano por falta de patrocínio e ficará restrito à participação no Tenda do Carnaval e em outro desfile em um terreno privado. O público esperado é de até 15 mil pessoas, grande parte de universitários. "É mais fácil porque o público é menor, bem mais concentrado, então os gastos são menores do que na rua e também se consegue lucro com a venda de bebida. Mas a gente prefere desfilar na rua."