Bloco no Rio se levanta contra machismo, racismo e homofobia
Décima edição do 'Amigos da Onça' atrai público de todas as idades no Aterro do Flamengo
O Carnaval nas ruas da capital fluminense começou bem cedo: antes das sete da manhã de sábado (22), o bloco Amigos da Onça inundou o Aterro do Flamengo com muita música boa. O cortejo, que busca ser um espaço livre de violência como machismo, racismo e homofobia, é também uma das atrações mais procuradas no Rio de Janeiro para quem quer curtir a folia com a criançada.
O horário da festa e o clima nublado não foram obstáculos para a pequena Laís Gouveia, de apenas dois anos. “Todo ano trazemos ela. O Amigos tem muita cultura, criatividade, e achamos que isso pode contribuir muito para o desenvolvimento dela”, afirmam os pais, Débora Gouveia, de 32 anos, e Vítor Araújo, de 36 anos.
Foi também pensando na formação cidadã da criança que os pais de Elisa Lessa, de três anos, trouxeram ela para a festa. “Escolhemos o Amigos da Onça justamente por isso, para que ela ouça as mensagens que o grupo transmite, de que ela é livre para ser o que quiser, para ocupar os espaços públicos, para utilizar fantasias, para ser alegre”, diz Carolina Lessa, de 35 anos. Este é o terceiro Carnaval de Elisa, mas o primeiro no Amigos da Onça. “Ela gosta muito dos bloquinhos. Não é à toa que nasceu em plena quarta-feira de cinzas!”, brinca o pai, Marcos Lessa, de 39 anos.
Este é o segundo ano que o grupo possui aval da prefeitura mas, há dez, inunda as ruas do Rio de Janeiro com mensagens alegres e muita música boa, como relembra a foliã Conceição Cassano, de 68 anos: “Apoiei o bloco desde o início e tenho maior orgulho deste grupo. Eles são muito irreverentes, dançarinas maravilhosas, músicos competentes. Por isso ganhou uma adesão tão grande, porque têm um trabalho de defesa da cultura brasileira. É isso que mexe com a alma das pessoas”, afirma. Baiana System, Bia Ferreira, Bob Marley, Gilberto Gil e Milton Nascimento são alguns nomes que o grupo homenageou, ao som dos instrumentos mais diversos como xequerê, timbal, caixa, surdo, trompete, trombone, tuba e saxofone.
E se faltar algum instrumentista? Sem desespero! O que mais tem no bloco Amigos da Onça são pessoas do apoio dispostas a completar a equipe. É o que conta Alan Lima Barreto, de 39 anos, que atuou como cordeiro este ano: “A gente pega na corda, ajuda os ambulantes a vender cerveja, toca instrumento se alguém não vier. O importante é que todo mundo seja feliz!”, conta. Alan participa há cinco anos e faz parte de uma equipe de mais de 120 pessoas do apoio do bloco, que durou até depois das duas da tarde de sábado. “O Amigos é um bloco familiar e, faça chuva ou faça sol, é um espaço para a diversidade, livre de preconceito. Você pode ser quem você quiser ser”, conta.
“Não se cale diante do machismo, não se cale diante da homofobia, não se cale diante do racismo. Não se cale!”, entre uma canção e outra, esses eram os dizeres dos organizadores do bloco, que tem como compromisso “levar um Carnaval alegre para todos, fazendo parte do processo de renovação do Carnaval de rua do Rio de Janeiro, de ocupação das ruas, com mensagens importantes contra todas as violências. Amigos da Onça é irreverência e respeito”, como afirma Diego Nogueira, um dos produtores do grupo.