Blocos com nomes eróticos ganham as ruas de Rio e SP
‘Perereca do Grajaú’, ‘Balança Meu Catete’, ‘Pirikita em Chamas’ e outros grupos mostram irreverência e criatividade para aproveitar a folia
Enquanto debatia com amigos em um boteco qual seria o nome do bloco que estavam prestes a fundar, Carlos Augusto foi surpreendido por uma perereca que saltou de trás da geladeira para o seu copo de cerveja. O Perereca do Grajaú nasceu ali, em 1996, no bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Criativos, irreverentes e ousados, este e outros tantos blocos de rua vão desfilar pela cidade neste Carnaval, que se estende até o dia 10 de março, domingo, após a quarta-feira de cinzas.
“Do nada, surgiu aquela perereca. Ela era miudinha mesmo, uma coisa inacreditável. Aí pronto, ficou firmado ali o nome Perereca do Grajaú", conta animado Carlos Augusto Cascais, presidente do bloco. No ano seguinte, em 1997, o grupo estreou no Carnaval carioca e não parou mais de fazer a festa dos moradores e frequentadores do bairro. No domingo de Carnaval, o bloco se concentra na Praça Edmundo Rego a partir das 16h.
Outros blocos também não ficam devendo em criatividade. O Balança Meu Catete, por exemplo, vai para o 9º ano percorrendo as ruas do Catete, na Zona Sul da cidade. O nome do bairro foi o ponto de partida para a criação do bloco, que se concentra Rua do Catete, 227, a partir das 15h da segunda-feira de Carnaval.
“A dúvida era entre Segura Meu Catete e Balança Meu Catete, mas aí a gente achou o nome Balança de mais impacto, porque tem não só o sentido da irreverência da brincadeira como também de balançar de verdade”, explica Yan Gil, de 30 anos, presidente do grupo.
Tanto o “Perereca” quanto o “Balança” reconhecem a importância de não deixar a gozação dos nomes e dos desfiles extrapolar para a esfera da importunação sexual e de qualquer tipo de assédio entre os foliões dos blocos.
Carlos Augusto relata que o Perereca do Grajaú sempre teve um clima de paz e harmonia entre os participantes. E para reforçar o espírito de diversidade, ele revela: “o Vander Gevu (componente do grupo) é a nossa Miss Perereca”.
Yan Gil, do Balança Meu Catete, faz coro a Carlos Augusto. “Nosso bloco sempre busca a conscientização, no microfone, com mensagens de paz e respeito. É um bloco bastante respeitado por todos”, garante. Segundo ele, este ano o bloco terá ainda um telão com recados de conscientização aos foliões: “não só contra o assédio, mas também para beberem com moderação e para usarem os banheiros químicos”.
‘Fogo na Cueca’ e ‘É Pequeno Mas Não Amolece’
Apesar da malícia da expressão, o bloco Fogo na Cueca, de Copacabana, surgiu devido ao sentido literal de seu nome. Antes da fundação, o grupo de amigos costumava realizar um ritual um tanto curioso em viagens por diversos estados brasileiros durante o Carnaval. Eles queimavam uma cueca velha, como forma de “agradecimento aos Deuses da Folia”, segundo o grupo. “Até hoje ninguém sabe explicar o motivo dessa loucura”, confessa André Aires, um dos coordenadores.
O Fogo na Cueca desfila no sábado de Carnaval, às 14h, com início de percurso na Rua Anita Garibaldi.
Já o É Pequeno Mas Não Amolece comemora seus dez anos de existência neste Carnaval. “O bloco sempre foi pequeno, mas nunca deixou de fazer bonito”, brinca a diretora de comunicação do bloco, Herly Leopoldino, mais conhecida como Lili. “Nossa logo era uma camisinha. Porém, muitas crianças começaram a frequentar com seus pais e mudamos para uma lupinha”.
O desfile acontece no sábado após a quarta de cinzas, dia 9 de março, às 15h na Praça Professor Henrique Niremberg, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.
São Paulo tem ‘Pirikita em Chamas’ e ‘É Pequeno + Balança’
Alguns blocos paulistas também surfam a onda carioca. O presidente do É Pequeno + Balança, Fabio Lessa, brinca ao comentar o nome do bloco: “não teria problema nenhum em dizer que o nome é uma ‘homenagem’ ao fundador, afinal, dizem que tamanho não importa”. Ele conta que deu a sugestão à mãe e à tia, também donas do bloco, que aprovaram a ideia.
O “É Pequeno + Balança” sairá no bairro da Penha, na Zona Leste de São Paulo, no dia 9 de março, a partir das 13h.
Além da alegria do Carnaval, o Pirikita em Chamas também levanta a bandeira da defesa dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTI. O presidente do grupo, Francisco Costa, de 32 anos, é gay e conta que a ideia surgiu primeiro como um blog sobre sexualidade feminina da perspectiva de mulheres que o rodeavam: “amigas, irmãs, chefes e outras”, segundo ele.
Em parceria com os amigos Marcella Marrigo e Vinicius Ribeiro, o “movimento” ganhou as ruas do Centro de São Paulo. “O Carnaval é um signo de libertação dessa sexualidade e desse prazer que está em cada pessoa e que deve ser entendido com muito respeito por quem olha de fora”, explica Francisco.
O “Pirikita em Chamas” desfila na terça-feira de Carnaval, a partir das 11h, na Praça do Ouvidor.