Carnaval 2020 teve desfile de fantasias políticas nas ruas
Foliões fizeram dos cortejos no Rio de Janeiro espaços de verdadeiras passeatas contra a gestão pública do País
O Carnaval de 2020 vai dar o que falar até 2021! Isso porque não foi só nos sambas-enredo das escolas que a população botou o bloco da crítica social na rua e mostrou que tinha “ginga para dar e vender”: foliões fizeram dos cortejos no Rio de Janeiro espaços de verdadeiras passeatas contra a gestão pública do País.
A maior festa de rua do mundo é vista pelos brasileiros como época de botar a criatividade e irreverência para jogo ao transformar a folia em ato político. “Acadêmicos da Liberdade de Expressão” e “Unidos da Sátira Política” poderiam ser as novas escolas de samba que se formaram nesse Carnaval, que foi um verdadeiro show de criatividade nas ruas. Conversamos com alguns foliões que, durante os dias de festa, encontraram a oportunidade de combinar denúncia às insatisfações políticas com diversão. Confira:
Mariana Cabelli, 27 anos, terapeuta ocupacional:
“Todo ano eu uso essa fantasia. Já usei ‘Fora, Temer’ e agora é a vez do nosso prefeito: ‘Fora, Crivella’!”
Pedro Umberto, 23 anos, jornalista:
“Eu vim patrocinado por Witzel e pela CEDAE para fazer a propaganda da nossa água com giosmina, água aromatizada sabor cocô. Carnaval é isso, é crítica social. Tem o lado lúdico, mas também tem o lado crítico que não pode ser abandonado da festa. Carnaval é uma festa crítica.”
Luis Eduardo Castro, 23 anos, técnico em química e estudante de biologia:
“Barata e fácil de fazer, esta fantasia em formato de cocô é uma homenagem ao nosso presidente. Coloquei aqui o apelido dele mais usado pelos seguidores, numa ironia. Eu mesmo que fiz, comprei o tecido, cortei, costurei. É prático e bem tranquilo de usar.”
Tatiana Maciel, 42, produtora cultural:
“A minha fantasia é uma proposta para que as pessoas pensem um pouco sobre o que tem acontecido nos últimos tempos com a nossa floresta. Temos um governo relapso, que não cuida da nossa mata, e a gente tem que falar sobre isso no carnaval também. O carnaval sempre foi isso, como sempre fizeram as escolas de samba, né? Trazer temas que falam sobre o nosso cotidiano, das causas da sociedade, e nada mais leve do que falar de coisas sérias brincando, com alegria, mas sem deixar de prestar atenção a esse momento muito difícil e delicado em que estamos vivendo. Não podemos esquecer disso: é preciso marcar presença no carnaval com os protestos.”
Regina Lordello, 23 anos, e Rodolfo Brandão, psicólogos:
“A inspiração foi a música ‘Pescador de ilusões’, do Rappa. Quando resolvemos pensar na fantasia do carnaval, começamos a pensar nas ilusões que o povo deste país passou a acreditar. Empregada na Disney, meritocracia, Terra plana, ‘kit gay’, racismo reverso... Essas coisas não existem. E é na arte que a gente se expressa e é por ela que a gente tem que falar aquilo que nos incomoda. Ela tem esse caráter de conquistar as pessoas e de fazer com o que a mensagem chegue a todos. E carnaval é arte pura. Agora é a hora de transmitir nossos incômodos”, afirmou Regina. O namorado, Rodolfo, completou: “Principalmente nesse momento em que vivemos numa realidade de desigualdade social por conta de um governo que tira todos os nossos direitos, tira tudo o que a gente já conquistou, num retrocesso sem tamanho. Por isso que utilizar a época do carnaval para trazer essas pautas é muito importante, é o momento em que todo mundo está na rua, em evidência. As pessoas vêm curtir, brincar e, para mim, nada mais ético do que unir diversão com responsabilidade social. É possível unir as duas coisas e isso é um compromisso social, precisamos fazer isso no carnaval.”
Rachel Rogério, 32 anos, jornalista:
“Meu look é uma crítica a esse desgoverno que a gente tem hoje, que é literalmente um laranjal, onde nossos representantes sempre tiram vantagem e a gente continua aceitando tudo dessa forma. O carnaval é uma forma de expressar os nossos sentimentos, porque é uma festa democrática.”
Lucas Becker, 25 anos, analista de sistemas, e Fabiana Bobik, 23 anos, advogada:
“A gente sempre se prepara bastante para a escolha das fantasias e este ano quisemos fazer algo que pudesse ser uma crítica. O comentário de Damares sobre menino vestir azul e menina vestir rosa foi realmente uma piada, então achamos uma boa ideia”, contou Fabiana.