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Mocidade aposta em brasilidade ao falar da obra dos discípulos de Mestre Vitalino

Seis vezes campeã do carnaval carioca, a Mocidade pretende, com este desfile, esquecer os erros cometidos no carnaval passado

2 fev 2023 - 21h47
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Nos últimos dois anos a Mocidade apostou em enredos que tinham uma ligação maior com sua própria história, o desfile da Elza também apresentava a relação que a cantora tinha com o samba e especialmente com a escola. Já em 2022, sobre Oxóssi, o padroeiro da escola independente, trazia muito da relação do toque da “Não Existe Mais Quente” com a religião, homenageando grandes mestres que passaram pela agremiação, entre eles o grande mestre André. Agora a agremiação vai ter a estreia de Marcus Ferreira a frente da produção criativa do desfile da Verde e Branca. Campeão do Grupo Especial de 2020, desta vez em trabalho solo no Grupo Especial, o carnavalesco quer no desfile de 2023 retomar a relação que a Mocidade já teve em diversos carnavais com temas de brasilidade e regionalidade. “Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão” pretende contar a história e valorizar o legado da obra daqueles considerados por Marcus Ferreira como primeiros discípulos de mestre Vitalino, que começaram a colocar a arte figurativa como grande expoente das artes plásticas brasileiras pelo mundo afora.

Marcus Ferreira é o carnavalesco da Mocidade
Marcus Ferreira é o carnavalesco da Mocidade
Foto: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

Seis vezes campeã do carnaval carioca, o último em 2017, a Mocidade pretende, com este desfile, esquecer os erros cometidos no carnaval passado que tiraram a escola das campeãs. Principal contratação para 2023, o carnavalesco Marcus Ferreira foi parte fundamental na escolha e desenvolvimento do enredo. O artista conta como se deu o entendimento entre o profissional e a diretoria da Verde e Branca no processo de escolha do tema.

“Eu gosto desses temas regionais, de brasilidade, que a gente redescobre um pouco da história do nosso povo, de maneira muito inédita. Acho que o carnaval tem que ter esse dom de revelar novos personagens e novas histórias para o grande público. Eu indo para a Mocidade, a gente tinha algumas ideias, a escola tinha ideias, e a gente foi costurando qual seria esse novo momento com a minha chegada, entendendo um pouco de ambas as partes, aquilo que poderia envolver o conceito que marca a identidade da escola, uma das mais fortes do carnaval, e um pouco do que eu apresentei nos meus trabalhos. A gente chegou em um consenso que esse ano a Mocidade gostaria de dar um respiro nessa fato de falar de si, já que a escola veio de dois anos que fez Elza e Oxóssi, dois grandes enredos que tinham um pouco de identidade da escola. Eu sempre enxerguei a Mocidade como uma das escolas que gosta desses temas que envolvem muito a brasilidade. Grandes artistas que passaram por aqui exploraram essa temática, o Arlindo, Fernando Pinto, Renato Lage, como é algo que eu já gostava e me deu um título na minha estreia no Especial na Viradouro em 2020, com ‘as ganhadeiras’, eu sempre tenho temas que eu guardo, quando eu descubro e eu tive o prazer de estar duas vezes no Alto do Moura, antes de vir a Mocidade, por ser fã mesmo do panteão destes mestres que fazem o legado deixado por Vitalino”, revela o carnavalesco.

O contato com o Alto do Moura e com o legado do mestre Vitalino e seus discípulos por Marcus é anterior à sua chegada à Mocidade. O profissional revela que teve o prazer de conhecer e se impressionar com a obra e com a relação do povo daquela região com as artes plásticas.

“É um vilarejo tão pequeno que expõe de maneira tão linda e potente as artes plásticas da cultura popular brasileira. Na primeira vez que eu estive lá eu conheci o filho de mestre Vitalino. Era ele quem cuidava da Casa Museu, a última casa que Vitalino residiu no Alto do Moura, e ali é o ponto de cume do vilarejo, tem um pouco do acervo deixado por Vitalino, as ferramentas dele. Quando eu cheguei lá, o filho dele estava sentado em um canto, no chão, e ele me deu uma aula do que é arte figurativa. Eu passei a entender que esses artistas têm diferentes personalidades. A ideia inicial que a gente tem é a de Mestre Vitalino, que são aqueles bonequinhos de barro com aqueles olhinhos imitando óculos, mas eu me encantei pela valorização que esses artistas têm pelo chão.Todos ganharam a vida, seu sustento através das suas obras, daquilo tudo que passaram a criar a partir desse legado deixado pelo mestre. Por aí eu pude entender um pouco do que é a arte figurativa e depois passei por alguns ateliês, entendendo essa rede de discípulos que Vitalino deixou, e que hoje são a terceira geração, os filhos da primeira geração dos mestres que conviveram com Vitalino”, esclarece Marcus Ferreira.

Após a definição do enredo entre carnavalesco e diretoria da agremiação, Marcus e uma comitiva de profissionais da Mocidade voltaram ao Alto do Moura para conhecer um pouco mais do trabalho e desenvolver melhor o enfoque que seria dado no desfile.

“Eu entendi que deveria revelar essa história, revelar o legado deixado por esses discípulos de maneira tão diferente, tão múltipla, trouxe à Mocidade, eles toparam, acharam que tinha um pouco do viés de brasilidade que a Mocidade já mostrou em alguns carnavais. Fomos para o Alto do Moura com a Mocidade e fomos conhecer. Eu passei a conhecer mais artistas, mais desses discípulos que são reconhecidos agora mundialmente, nacionalmente, para quem conhece de artes. A cada visita que a gente teve, foi uma emoção diferente”.

Com temática relacionada às artes visuais, enredo promete render belas imagens 

Após ida ao Alto do Moura, a escola divulgou o enredo no final de julho e definiu a linha que iria seguir para contar essa importante história. Marcus pesquisou mais a fundo a vida daqueles que considera como discípulos do mestre Vitalino, apostando, então, em contar mais da obra e do legado que esses artistas deixaram. O carnavalesco pretende dar ênfase também nesta conexão entre as artes plásticas e a temática do regionalismo cultural e as atividades cotidianas, do homem do campo, do trabalho, da seca, além das relações familiares.

“Acho que em termos de conceito é um enredo que permite a criatividade. A gente não passa pela obra do Vitalino. A gente começa com o que eu encaro como se fosse os seus primeiros discípulos, que são os filhos. Eu tenho um livro que tem fotos dos filhos aprendendo o ofício, de como preparar o massapê, que é o barro que eles utilizam, das ferramentas mais simples, até esse momento de criação mesmo. E aí é um legado que foi deixado para outros grandes mestres, Manuel Eudócio, Manoel Galdino, Zé, Caboclo, e o único vivo até hoje que é o Luíz Antônio. Esses são os primeiros discípulos que eu encaro. A gente inicia o desfile com esse mundo criado por Vitalino e deixado pela família, a principal obra que é a ‘Rota da Roça’, que é a obra dos trabalhadores, uma referência imediata a essa questão dos retirantes do Nordeste e que é muito veiculado ao meio natural, a seca, da vegetação que resiste, da falta de água, do ambiente do Nordeste. Primeiramente foi o que Vitalino deixou para seus filhos e que hoje os netos já reproduzem essa obra. Neste momento, a gente encontrou com os netos de Vitalino que cuidam da Casa Museu. E eles disseram que a ‘Rota da Roça’ era esse expoente deixado para a família. A gente não conta a história de Vitalino, é o legado desses discípulos que são o desfile da Mocidade”, esclarece Marcus.

Falar de artes plásticas é falar de imagem. E mais ainda falando sobre a arte figurativa. O carnaval além da linguagem do samba, tem a linguagem desenvolvida pelos carnavalescos que é justamente a linguagem visual. Então, é de se esperar um enredo que traga um grande desenvolvimento ilustrativo.

“É um enredo imagético, o samba da Mocidade é uma obra de imagem. Essas imagens permeiam o pensamento de quem conhece o Alto do Moura, desde o preparativo para fazer as peças de cada artista. A gente foi no São João, ali tem um aura criativa que permeia hoje 700 famílias. Essas imagens são um facilitador para a plástica da escola. É um enredo que trata de coisas muito simples. O chão é algo que está no quintal dessas pessoas. Do chão eles fazem as coisas mais lindas que são expostas no mundo. Por isso, a criatividade vai estar bem aflorada no desfile. Pelo uso de materiais, pelo uso de texturas diferentes. É um enredo que me permite isso”, entende o carnavalesco.

Artista buscou a utilização e valorização de novos materiais 

A relação do homem com as coisas regionais, com a simplicidade do cotidiano, de falar sobre coisas palpáveis às pessoas comuns estará aflorada no desfile, o que não vai mascarar a complexidade com que a Mocidade pretende desenvolver na produção do desfile. O carnavalesco Marcus Ferreira percebe que a criatividade será, inclusive, um dos pontos altos deste desfile, além da procura por trazer novos tipos de elementos que não tem despertado tanta atenção dos artistas do universo da folia.

“Acho que a criatividade é um grande trunfo. Optei pela criatividade para poder fazer um carnaval grandioso. Acho que às vezes a gente fica muito preso a utilizar materiais que já existem no mercado, ou que já estão impregnados no dia a dia de todas as escolas. Fica bonito, claro. Mas acho que essa questão da criatividade, da utilização de alguns materiais diferentes, de repensar como propor um estética grandiosa, bonita esteticamente, mas diferente. Eu sou fã do artista plástico Vik Muniz, acompanho ele nas redes sociais, tenho fotos de tudo que ele já fez. É um cara que faz coisas maravilhosas com materiais que o ser humano descarta. Eu já fiz algumas coisas no Acesso, com um pouco mais de criatividade e que deram certo. Acho que o ponto alto do meu trabalho é esse”, define Marcus.

Mas o carnavalesco também entende que a Mocidade terá outros grandes trunfos alheios a plástica e estética da agremiação, como a força da comunidade e o trabalho desenvolvido no samba-enredo.

“Falando da Mocidade como um todo, acho que a emoção será um grande trunfo. É um enredo e um samba que as pessoas passaram a achar tão bonito, tão latente, tocante, e isso você vai aprendendo ouvindo. Acho que os ensaios na Rua Guilherme da Silveira tem provado isso. É uma escola de uma torcida quente que faz de tudo para contribuir com a escola, a gente tem hoje um outro conceito de Mocidade para este carnaval”.

Símbolo maior da Mocidade, a estrela, tem grande função dentro do desfile

O próprio título do enredo traz o símbolo maior da Mocidade,”Terra de meu Céu,Estrelas de meu Chão”. “Estrelas” que podem sugerir ser os próprios profissionais que representam o legado de mestre Vitalino daquela região que são hoje aclamados por críticos de arte do mundo todo. Ou até mesmo aqueles que estão sendo retratados dentro da arte figurativa, gente simples, gente que mora naquela localidade, que são os protagonistas dentro da ótica de observação dos artistas do Alto do Moura. Marcus Ferreira revela mais sobre o que pretende ao retratar o ícone da Mocidade no desfile.

“A estrela vem dentro do enredo esse ano. Ela vem no abre-alas, vem pontuando alguns setores do desfile também, setores da religiosidade, até pelo título ‘estrelas de meu chão’, que é um título que surgiu na fala de uma das mestras, de uma das expoentes que é a Terezinha Gonzaga, que me deu essa frase, mostrando o quanto o solo dessa terra é tão sagrada para eles. Eles que viraram as estrelas desse universo fantástico das artes brasileiras. As estrelas estão em todos os momentos”, finaliza o carnavalesco.

Conheça o desfile da Mocidade 2023

A Mocidade Independente de Padre Miguel vai levar para a Sapucaí no próximo carnaval 5 alegorias divididas em 7 chassis, 3 tripés, com 2700 componentes e 25 alas . O carnavalesco Marcus Ferreira contou mais sobre como está dividido o carnaval da Verde e Branca da Zona Oeste em 2023.

“Os setores são pontuados pelos grandes mestres, naqueles que acho que são os mais próximos desse legado deixado por Vitalino”.

Primeiro Setor

“O início é a família , o ciclo da vida que é inspirado na ‘Rota da Roça'”.

Segundo Setor

“É inspirado nas temáticas de trabalhos rurais, o agreste pernambucano, aquilo que todos os habitantes do vilarejo enxergavam do Alto do Moura, os trabalhos manuais nos engenhos e nas fazendas que circundam o Alto do Moura, que é inspirado na obra de Zé Caboclo que é um dos primeiros discípulos de Vitalino”.

Terceiro Setor

“É inspirado em Manoel Galdino, que é um surrealista da obra das artes figurativas. Ele tem essa questão de retratar no barro as coisas mais imaginárias do Alto do Moura, as lendas locais, os personagens andarilhos do vilarejo. A obra dele é muito peculiar”.

Quarto Setor

“É a fé, a religiosidade, inspirado em Terezinha Gonzaga, é uma mestra que faz coisas divinas que envolvem santidade, anjinhos, expressões divinas, incensários, ela retrata a arte figurativa, digamos assim, de forma barroca. Vamos dizer que ela seja a barroca das artes figurativas”.

Quinto Setor

“No final trazemos as festividades que cercam a obra de Manuel Eudócio, que eu sou muito fã, já era, é o artista do colorido, das festividades, dos folguedos populares que fazem a alegria durante o ano nesse vilarejo. A gente termina o carnaval com festividade, com a alegria de Manuel Eudócio que conviveu diretamente com mestre Vitalino”.

Fonte: Redação Terra
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