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Com Negrini, Criolo e Marisa Orth, Baixo Augusta leva multidão diversa para comemorar 15 anos

Tom político marcou mais um desfile do maior bloco do pré-carnaval na capital paulista

4 fev 2024 - 21h11
(atualizado às 21h56)
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Foliões curtem prévia carnavalesca Baixo Augusta neste domingo, 4.
Foliões curtem prévia carnavalesca Baixo Augusta neste domingo, 4.
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

Considerado o maior bloco do pré-carnaval de São Paulo, o Acadêmicos do Baixo Augusta contou com um line-up de peso para desfilar neste domingo, 4, na celebração de seus 15 anos. Entre os destaques da tarde houve apresentações de artistas renomados, uma diversidade grande entre pessoas LGBTQIA+ no público e muitas manifestações políticas.

No público, as fantasias mais elaboradas deram lugar ao conforto. Ainda assim, muito glitter, brilho e criatividade marcaram esta edição. 

A médica Fernanda Federico, de 40 anos, usou uma peruca neon e rosa combinando com uma roupa toda preta. Ela e o marido optaram por usar tênis confortáveis. "Para aguentar tudo, tem que ser assim", disse Fernanda.

O cortejo saiu pela rua da Consolação, às 14h, no primeiro momento de garoa do domingo. Depois que o tempo firmou, o bloco andou pela rua da Consolação em direção à Praça Roosevelt, num trajeto de 1,5 quilômetros. A distância não desanimou uma foliã que havia feito uma trilha no dia anterior. Mesmo assim, ela acordou com disposição para o Baixo Augusta.

"Ontem fiz uma trilha de seis quilômetros e estou pronta para curtir", disse com animação Neilza Alves, de 69 anos. Ela escolheu uma fantasia inspirada nas matas para curtir os 15 anos do bloco.

Foliões curtem prévia carnavalesca Baixo Augusta neste domingo, 4.
Foliões curtem prévia carnavalesca Baixo Augusta neste domingo, 4.
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

Apresentações 

A cantora paraense Jaloo, que em 2023 voltou após um hiato na carreira, estreou no bloco e se apresentou com canções próprias. 

Outras apresentações marcantes do dia foram as da primeira madrinha do Baixo Augusta, a atriz Marisa Orth, que cantou "Mania de Você", de Rita Lee, ao lado da banda do Baixo Augusta. 

“É muito legal, né? Eu fiz o primeiro e estou fazendo o 15º. Vim vestida de mãe da debutante", explicou a atriz ao Terra.

Marisa Orth ainda revelou que toda a preparação para curtir a folia demorou 1 hora. Toda de branco, ela estava de vestido curto, em um tom branco brilhante, além de meia calça e sandália fechada. A bolsa transparente e acessório de pérola fechavam o look.

15 anos

Esta edição do Acadêmicos do Baixo Augusta já trazia ansiedade ao público dias antes do desfile. Como o bloco, um dos cerca de 90 que saíram na capital paulista neste domingo, comemorou seus 15 anos, um momento especial trazido na edição de 2024 vai ficar na cabeça dos foliões por um bom tempo: uma valsa, executada pelos músicos da Orquestra Sinfônica de Heliópolis, sob regência do maestro Edilson Venturelli.

Rainha do bloco, a atriz Alessandra Negrini, vestiu um figurino especial de Rainha Debutante, composto um maiô e balões em tons de creme. "Primeira vez usando alta-costura", descreveu a stylist Manu Carvalho, que inclusive ajudou a "içar" parte do look da rainha para cima do trio.

A atriz e integrantes da comunidade escolhidos em um concurso nas redes sociais dançaram a valsa e emocionaram o público. Ao descer do trio para dançar com os vencedores, Alessandra foi ovacionada com gritos de "deusa", "musa" e "rainha".  Um grupo de adolescentes, que comemorava o próprio aniversário de 15 anos, acompanhou o momento da grade.

"Eu tô adorando. Adoro uma bagunça, uma festa. Já comemorei meus 15 anos está sendo comemorado aqui no Baixo Augusta também", disse a jovem Ana Júlia Garcia, que estava acompanhada da amiga Sanaira Rodrigues, de também 15 anos.

Após fazer o vídeo de inscrição como uma brincadeira entre amigos, a estudante de administração Kelly Caroline da Silva foi uma das selecionadas para dançar com Alessandra. Estreante no Baixo Augusta, ela ainda é presidente de um fã-clube da atriz no Instagram.   

"Amo os papéis que ela faz na TV e nos filmes", contou ao Terra. "Em relação ao bloco, não tenho o que falar. Pessoas maravilhosas!", concluiu.   

"Um feliz carnaval para vocês, estamos abrindo agora esses dias de pura alegria, muito axé. E 'Vai Corinthians!'", disse Alessandra Negrini, ao se apresentar para os foliões, que a aguardavam ansiosamente.

Alessandra Negrini exibe fantasia de debutante durante celebração de 15 anos da festa Baixo Augusta
Alessandra Negrini exibe fantasia de debutante durante celebração de 15 anos da festa Baixo Augusta
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

“Resiste Amor em SP”  

Nesta edição de 2024, o bloco manteve o tom de defesa da ocupação cultural da cidade. Depois de ensaios lotados nos dias 14, 21 e 28 de janeiro, no Galpão Cultural do MST, o desfile oficial saiu do cruzamento da Rua da Consolação com a Avenida Paulista conduzido por Wilson Simoninha, puxador e diretor musical. 

Um dos criadores do bloco, Alê Youssef, aproveitou o momento em cima do trio para protestar contra a "esculhambação" do carnaval paulistano, uma referência à desistência de diversos blocos por falta de patrocínio. Durante o discurso, o empresário enviou solidariedade aos blocos que não conseguiram desfilar este ano e enfatizou que o carnaval da cidade precisa ser tratado com mais seriedade pela gestão.

"Isso tem que mudar porque o carnaval de São Paulo é coisa séria e já mostrou que é marca registrada da nossa cultura", declarou. "Vocês [o público] são f*da, vocês são o Baixo Augusta. Não existe quem impeça a gente de fazer o melhor carnaval da cidade", gritou Youssef.

Repertório 

O repertório do bloco contou com canções tradicionais do carnaval, como "Beleza Rara" e "Eva", da Banda Eva, que fizeram a multidão pular. "Baianidade Nagô", da Banda Mel, foi marcada por um dos coros mais bonitos da tarde. Também não faltaram hits da música popular, como "Alagados", do grupo Paralamas do Sucesso, "Toda Forma de Amor", de Lulu Santos, "Zé do Caroço", de Leci Brandão, e "Sina", de Djavan. 

Outras personalidades também marcaram presença no cortejo deste domingo. O escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva, a bailarina Márcia Dailyn, a médica e campeã da vigésima edição do BBB, Thelminha, e o ator e músico André Frateschi.

Este ano, o tema do bloco foi "Resiste Amor em SP", inspirado na canção “Não existe amor em SP”, de um dos convidados especiais do dia, Criolo. No momento da apresentação do rapper, muitas pessoas gritaram pelo artista, que cantou músicas como "Qui nem jiló", de Luiz Gonzaga, e "Amor Falso", famosa na voz de Wesley Safadão. 

Quando o bloco chegou à Praça Roosevelt, os organizadores aproveitaram para lembrar do grafite "A Cidade é Nossa", na empena cega de 50 metros de altura num prédio da rua da Consolação. A artista Rita Wainer pintou a obra de 1.500 m² em 2017, sob encomenda do Acadêmicos do Baixo Augusta, quando o slogan do bloco foi "A Cidade é Nossa". Depois de ser parcialmente apagado, uma atitude classificada como "imbecil" pela organização neste domingo, uma decisão provisória de primeiro grau da Justiça Federal determinou a interrupção do apagamento. Segundo a organização, a obra será restaurada.

Diversidade

A principal marca de todos os anos do Acadêmicos do Baixo Augusta, a diversidade no público, também se fez presente em 2024: todas as letras da comunidade LGBTQIA+ e pessoas aliadas encontraram, em mais esta edição, uma oportunidade para curtirem a festa e demonstrarem amor e afeto.   

Com tons dourados e vermelhos, representando a alegria e o amor, a musa do Baixo Augusta, Márcia Dailyn, musa do bloco, disse ter se emocionado com o destaque neste domingo e considerou o desfile uma vitória para a comunidade LGBTQIA+, em especial à população trans. "Eu represento toda a diversidade", concluiu

Para o advogado Gilberto Toscano, de 44 anos, o bloco foi "uma delícia". Porém, ele, que é gay, esperava mais representatividade de pessoas pretas. "Desculpa, mas a cordinha [espaço VIP] é excludente. Eu estou muito feliz aqui, acho que está maravilhoso. Mas acho que para fora fica mais preto do que aqui para dentro, por razões óbvias. Por isso, lamento", declarou.

O gestor de patrimônio Bruno Massi, também gay, concordou com Toscano. Feliz com a diversidade dentro da comunidade LGBTQIA+ no bloco, ele sentiu falta de mais diversidade racial. "Mas, como o bloco é no Centro, ainda é muito democrático. O carnaval é diversidade", pontuou.

Já o analista de sistemas Mauricio Rodrigues, de 28 anos, viu mais pluraridade do que em festas na capital paulista que costuma frequentar, mas "nada perto do que é o Brasil. Não tem a metade negra que temos no Brasil", disse. 

O cozinheiro de hospital, Leonardo Silva Rodrigues, de 29 anos, esteve pela nona vez no bloco. Heterossexual, ele diz gostar do Baixo Augusta justamente por conta da “essência paulistana e a diversidade que o bloco traz”. 

“Eu sempre volto porque já pertenço. (...) Me sinto bem tranquilo em qualquer lugar com qualquer pessoa, e assim como eu respeito a pessoa espero ser respeitado de igual maneira. Para aqueles que não se sentem confortáveis em participar de blocos LGBTQIA+, sugiro que busquem compreender e respeitar a diversidade, mantendo um ambiente de diálogo aberto. A diversidade enriquece a sociedade, e a participação pode ser uma oportunidade de aprendizado e construção de pontes”, concluiu.

Próxima edição tem data

No final do bloco, já garoando novamente e pouco antes da última música do dia, "O Show Tem que Continuar", do Grupo Fundo de Quintal, Youssef anunciou a edição do Acadêmicos do Baixo Augusta do ano que vem para 23 de fevereiro.

Fonte: Redação Terra
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