Olindense carrega boneco de 50 kg pelas ladeiras de Olinda por paixão ao carnaval
Conheça a história do padeiro Carlos Alberto Fernandes, que faz questão de tirar férias na folia para dar vida ao Homem da Meia Noite
Considerado Patrimônio Cultural de Pernambuco, o boneco gigante do Homem da Meia Noite é reconhecido nacionalmente por seu simbolismo carnavalesco e o desfile icônico pelas ladeiras de Olinda (PE). No entanto, o que poucos sabem, é que embaixo da estrutura de 50 quilos há um olindense apaixonado pela alegoria: Carlos Alberto Fernandes, o Carlos 'da Burra'.
Nascido e criado no bairro do Guadalupe, Olinda, numa casa próxima à sede da troça carnavalesca que carrega o mesmo nome do boneco gigante, o pernambucano de 60 anos viu a paixão por carregar a alegoria começar ainda criança. Entre as brincadeiras favoritas, uma era recorrente: colocar caixas de papelão sobre os ombros e se imaginar como um carregador de bonecos.
Esta é a quarta matéria da série de reportagem 'Invisíveis no Carnaval', que conta a história de profissionais negligenciados, mas essenciais para a folia em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador, no Recife e em Olinda.
Eu ficava encantado com o Cidinho, que era quem levava o Homem da Meia Noite, ele é um dos melhores carregadores que já existiu. Ele tinha uma magia só dele, era muito bonito de ver. Eu lembro de ter uns nove anos de idade e ele me cumprimentar com o boneco. E hoje sou eu quem conduz, é uma honra - Carlos Alberto Fernandes, o Carlos 'da Burra'
A coisa passou a ficar séria quando foi convidado, aos 14 anos, para carregar o seu primeiro boneco gigante. "Todos da minha família têm bloco, cresci no carnaval e no meio dos bonecos", relata. Aos 60, o rapaz é uma das referências na manipulação das alegorias.
Atualmente, Carlos é o titular do Homem da Meia Noite, junto com mais dois carregadores que se dividem na condução do boneco durante todo o trajeto do bloco. Além do Calango, o olindense também desfila com outros gigantes, como o Menino da Tarde, o Garoto da Vassoura, entre outros.
"O dia do desfile é sempre um momento muito bonito. Você começa a sair com o boneco e vê a rua coberta de gente, é um momento mágico mesmo", afirma.
A paixão pelo carnaval e pelos bonecos é tanta que Carlos pede suas férias do trabalho como padeiro no período carnavalesco para se dedicar integralmente à manipulação dos bonecos.
Eu não faço por dinheiro, faço por amor. Sempre que algum bloco vem perguntar quando eu cobro, digo para decidirem um valor e que para mim vai estar bom, já desfilei até de graça - Carlos 'da Burra'
A arte de manipular bonecos gigantes
As estruturas das alegorias são formadas por tecido, isopor, papel, madeira, fibra de vidro e alumínio, e variam de peso, sendo o Homem da Meia Noite um dos mais pesados, com 50 quilos.
Para Carlos, a preparação para o ofício é a própria atividade de carregar os bonecos. "Eu me preparo nas prévias, vou carregando um aqui, outro ali e quando chega o carnaval eu já estou acostumado. Minha filha costuma dizer que eu fico com a cabeça no carnaval o ano todo, porque lá em casa só escuto as músicas de carnaval", afirma.
Ao ser questionado sobre o que um manipulador precisa ter para ser um bom condutor dos gigantes, Carlos afirma: "Paixão e gostar do que faz. Tem que dar vida ao boneco, fazer aquela condução bonita."