'Orgulho da pele preta': homem agredido com coleira de cachorro será almirante negro no carnaval do RJ
Neste ano, a Paraíso do Tuiuti traz à Sapucaí o samba-enredo sobre a vida de João Cândido, “Glória ao Almirante Negro!”
Homem negro que havia sido agredido no Rio de Janeiro vai desfilar como almirante João Cândido pela Paraíso do Tuiuti. Max Ângelo dos Santos foi atacado com uma coleira de cachorro no ano passado por uma mulher branca e estreia no carnaval de 2024 após o convite da escola carioca. “Surpresa imensa”, disse em entrevista.
Max Ângelo dos Santos, homem negro agredido na Zona Sul do Rio de Janeiro, vai representar o almirante João Cândido no desfile da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti. Atacado com uma coleira de cachorro no ano passado por uma mulher branca, ele estreia no carnaval em 2024 e afirmou que o convite "foi uma surpresa imensa".
"Fiquei super feliz de saber que ia representar um herói nacional, que ainda não tem muito reconhecimento", continuou Max em entrevista à Agência Brasil. Ele ficou nacionalmente conhecido em abril do ano passado, após uma mulher branca xingá-lo e agredi-lo no bairro de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Na ocasião, Sandra Mathias de Sá, ex-atleta de vôlei de praia, passeava com o cachorro quando partiu para cima de um grupo de entregadores. Ela foi filmada quando usa a coleira do cachorro para bater em Max.
"Só quem passa por esse tipo de violência sabe como é. Tem a dor física, mas a dor mental é muito pior. Acho que tem tudo a ver a história do João Cândido, com outras histórias atuais e a minha. E o enredo fala muito disso."
Neste ano, a Paraíso do Tuiuti traz à Sapucaí o samba-enredo sobre a vida de João Cândido, Glória ao Almirante Negro!, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
O marinheiro brasileiro lutou em 1910 contra açoites, maus-tratos e má alimentação que ele e os companheiros de maioria negra recebiam na corporação. O episódio ficou conhecido como Revolta da Chibata.
Depois das agressões, Max, hoje com 38 anos, conseguiu um novo emprego e atua como auxiliar administrativo em uma empresa de publicidade.
"Dentro da avenida, quero dar voz, quero qu
e as pessoas saibam que elas não estão sozinhas. Quero incentivar as que passam por situações parecidas com as que aconteceram comigo e dizer que a gente não tem que baixar a cabeça (...) O Brasil nunca vai ter um futuro melhor se continuar com essas situações de agressão e racismo. É muito triste as pessoas te humilharem por conta da sua pele ou por causa do lugar que você mora. Eu tenho muito orgulho de morar na favela e da minha pele preta", disse Max.