Portela: história, títulos e curiosidades da escola de samba

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela é uma das agremiações mais populares do Carnaval do Rio de Janeiro e uma das mais antigas do país, com uma história com mais de 100 anos recheada de títulos e desfiles memoráveis que justificam o apelido de “A Majestade do Samba”.

A Portela tem forte relação com a história da própria capital carioca e, principalmente, com a zona norte da cidade, especialmente nos bairros de Oswaldo Cruz e Madureira. A localização geográfica da agremiação, assim como sua importância social e histórica, foram fundamentais para o surgimento da escola de samba.

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Qual é a história da escola de samba Portela?

O nome Portela remonta a um engenho de mesmo nome que fazia parte da freguesia de Irajá, criada em 1644. A economia da época, baseada na mão de obra de pessoas negras escravizadas, começou a entrar em declínio entre o século 19 e início do século 20.

Essa crise fez com que a região de Irajá fosse dividida em diferentes áreas que deram origem, mais tarde, a bairros como Irajá, Rio das Pedras, Madureira e Oswaldo Cruz. Além da população de maioria negra que já viviam nessas localidades desde o século 17, essas regiões passaram a ser ocupadas por pessoas pobres que deixavam o centro da cidade.

A cultura africana e popular concentrada na região foi essencial para preservar tradições religiosas afro-brasileiras, de canto e de dança que deram origem, mais tarde, ao samba e à Portela.

A escola de samba foi fundada em 1923, quando a região de Oswaldo Cruz já era referência artística e cultural graças a locais que realizavam festas religiosas e artísticas. Alguns blocos de carnaval foram criados no começo do século 20 em Oswaldo Cruz para disputarem o título carnavalesco em desfiles.

Em 1930, sambistas da região fundaram o bloco “Vai Como Pode” que, mais tarde, mudou seu nome para “Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela”, uma homenagem à Rua da Portela, na qual o grupo ficava sediado.

Em 1935, a escola realizou aquele que é considerado o seu primeiro desfile oficial no Carnaval, ocasião em que a agremiação apresentou a primeira alegoria de escola de samba: um globo terrestre que ilustrava o samba-enredo “O samba dominando o mundo”, responsável por dar o título da competição para a Portela.

Também é creditado à agremiação contribuições para o carnaval como o uso de caixa surda e reco-reco nos desfiles, assim como a comissão de frente uniformizada, o destaque da escola e o apito de bateria. Estudiosos ainda atribuem à escola a criação do primeiro samba-enredo da história, “Teste ao samba”, escrito por Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela.

Quais as cores e símbolos da Portela?

O símbolo da Portela é a águia, por sugestão de Antônio Caetano, desenhista da Marinha, que acreditava que o animal era a ave que voava mais alto na natureza. É de sua autoria também o uso das cores azul e branco, que são uma homenagem ao manto da padroeira da escola de samba, Nossa Senhora da Conceição. A primeira bandeira da Portela foi desenhada em 1931.

Quais os principais nomes da Portela?

Paulo da Portela foi um dos principais nomes da escola de samba e um dos fundadores do bloco “Ouro sobre azul”, um dos primeiros em Oswaldo Cruz, para onde se mudou por volta dos anos 1920. Vindo da Pequena África, formada por regiões como Gamboa, Praça Onze e Saúde, Paulo levou sua vivência cultural dessa parte da cidade para a região da zona norte.

Paulo também é indicado como uma das lideranças de outro bloco da região, o “Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz”, ao lado de Antônio Caetano e Antônio Rufino. Posteriormente, o cantor e compositor Heitor dos Prazeres passou a integrar o bloco e, graças à sua popularidade na época, tornar a agremiação mais conhecida na cidade.

Outro nome importante para a consolidação da Portela na região foi Esther Maria de Jesus, conhecida como Dona Esther, que realizava festas em sua casa com sambistas que apresentavam o gênero para os moradores de Oswaldo Cruz. Donga, Pixinguinha e Candeia são alguns dos nomes que fizeram parte de festas promovidas por dona Esther.

Outros nomes do samba que fazem parte da história da Portela são Monarco, Paulinho da Viola, Teresa Cristina, Zeca Pagodinho, Maria Rita, o compositor Noca da Portela e Tia Surica, atual presidenta de Honra da Portela.

Quantos títulos tem a Portela?

A Portela possui 22 títulos de desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro. A agremiação tem dois títulos a mais do que a Mangueira, a segunda maior campeã do carnaval carioca, e oito títulos a mais do que a Beija-Flor, que ocupa o terceiro lugar entre as maiores campeãs.

Na década de 40, a Portela se consagrou heptacampeã do Carnaval entre 1941 e 1947. Outra série de títulos ocorreu no tetracampeonato entre 1957 e 1960. O título mais recente foi em 2017, após um jejum de 33 anos, 

Por outro lado, a pior colocação da Portela no carnaval do Rio de Janeiro foi em 2005, quando ficou em 13º lugar. Naquele ano, o desfile da agremiação ficou marcado por um incêndio que danificou alegorias no barracão da escola, bem como problemas técnicos em alegorias e ainda a falta de alas durante a travessia pela Marquês de Sapucaí, como a Velha-Guarda da Portela.

A escola de samba é a única que já participou de todos os desfiles de carnaval do Rio de Janeiro. Confira em quais anos a Portela consagrou-se a grande campeã do carnaval carioca:

• 1935;
• 1939;
• 1941;
• 1942;
• 1943;
• 1944;
• 1945;
• 1946;
• 1947;
• 1951;
• 1953;
• 1957;
• 1958;
• 1959;
• 1960;
• 1962;
• 1964;
• 1966;
• 1970;
• 1980;
• 1984;
• 2017.

Quais os sambas-enredo mais famosos da Portela?

A Portela possui diversos sambas-enredo emblemáticos. Em 1966, Paulinho da Viola foi responsável pelo enredo “Memórias de um Sargento de Milícias”, sendo o único samba de autoria do cantor e compositor que a escola de samba defendeu em um desfile. A Portela consagrou-se campeã do carnaval naquele ano.

Outro samba-enredo popular é “Lendas e Mistérios da Amazônia”, de 1970, que fazia referência aos povos originários, folclores e lendas amazônicas. O enredo foi reeditado em 2004.

Em 1984, o enredo “Contos de Areia” prestou homenagens a nomes importantes da escola de samba, como Paulo da Portela e Clara Nunes, que foram representados por meio de orixás como Oranian e Iansã. Anos mais tarde, em 1995, o samba-enredo “Gosto que me Enrosco” também foi sucesso de público ao contar a história do carnaval no país.

No título de 2017, o samba-enredo que tirou a Portela de um jejum de mais de 3 décadas sem ganhar o carnaval tinha como título “Foi um Rio Que Passou em Minha Vida e Meu Coração Se Deixou Levar”, no qual o carnavalesco Paulo Barros contou mitos e histórias relacionados à água doce. A vitória ocorreu por apenas um décimo de diferença (269,9) sobre a Mocidade Independente de Padre Miguel (269,8).