Rainha da Viradouro, Erika Januza critica pressão por samba no pé: 'É comparação o tempo todo'
Atriz concilia as gravações de ‘Dona Beja’ com terceiro ano consecutivo à frente da escola de Niterói
Seja no sambódromo ou no set de gravação, a atriz Erika Januza sabe bem da importância de transmitir emoção para o público. Nas últimas semanas, a também rainha de bateria da Viradouro tem dividido seu tempo entre os ensaios para o desfile e as gravações de Dona Beja, da HBO.
Erika vai atravessar a Marquês de Sapucaí como rainha da escola de Niterói pelo terceiro ano seguido. Porém, a atriz não começou a desfilar no carnaval por lá. Antes de ser ‘coroada’, ela acrescentou ao currículo agremiações como Vai-Vai, Grande Rio e Salgueiro. Ao Terra, ela revelou: “me encontrei na Viradouro”.
Em entrevista, a artista contou como se prepara para entrar na avenida e como faz para conciliar as obrigações de rainha de bateria e o trabalho como atriz. Erika Januza ainda falou sobre pressão estética na folia e revelou como o noivo, o produtor audiovisual José Júnior, lida com a exposição durante o período carnavalesco.
Corpo relaxado para a avenida
Ser rainha de bateria é uma responsabilidade e tanto. Cabe a ela estar à frente de um dos componentes mais importantes das escolas de samba. Muitas vezes, a rainha também representa a ‘cara’ da agremiação e de toda uma comunidade. Tanta responsabilidade pesa nos ombros de Erika Januza.
Às vésperas de entrar na Sapucaí para defender a Viradouro, a atriz conta que fica nervosa mesmo sendo seu terceiro ano na função. Para melhorar a tensão, ela conta que investe em massagens relaxantes antes do grande dia.
“Este ano eu já marquei uma massagem poderosa para relaxar porque eu fico tensa, não durmo direito”, diz. Para Erika, esse momento de autocuidado antes de entrar na Sapucaí é quase um ritual. “No ano passado eu fiz a mesma coisa. Fiz uma massagem que durou duas horas e meia. Foi incrível”, lembra.
No dia, a atriz faz de tudo para que nada dê errado. Erika costuma ir para um hotel bem antes do horário que precisa estar na Sapucaí. Indo mais cedo, ela diz que consegue fugir do trânsito e da ‘badalação’ dos blocos de rua pela cidade. “Fico no hotel até a hora do desfile, um dia inteiro. Me ‘guardo’ realmente para estar bem”, revela.
Durante o período em que fica no hotel, Erika leva toda a equipe para fazer tudo o que tem que ser feito: maquiagem, look e conteúdos para as mídias sociais. Mesmo acompanhada de muita gente e com um cronograma bem definido, ela ressalta que não consegue conter a emoção.
“Me preparo por lá e parto para a Sapucaí com calma, para chegar na hora certinha e cheia de emoção. Eu fico sempre muito emocionada. Não me acostumei e nem pretendo me acostumar. Essa emoção é muito boa”, revela.
Se pudesse fazer um pedido para o desfile de 2024, seria mais calma na ‘hora H’ do carnaval. “Eu nunca consigo dormir direito, fico muito ansiosa. Espero que este ano eu consiga fazer diferente”, deseja.
Erika Januza defende a Viradouro com o enredo Arroboboi, Dangbé. O samba vai cultuar a cobra sagrada e a sabedoria africana na segunda-feira de carnaval, 12.
Julgamentos estéticos e de ‘samba no pé’
Para se preparar para a avenida, Erika Januza investe nos cuidados com o corpo e com a mente. Porém, ela destaca que aprendeu a lidar com a pressão estética que as mulheres sofrem durante o período da folia. Segundo a atriz, ela até tentou ‘ganhar corpo’, mas sossegou quando entendeu suas limitações.
“A minha genética é ser um pouco mais ‘sequinha’. Eu sempre fico tentando ganhar um pouco mais de corpo para o carnaval, mas acabo nunca conseguindo. Eu entendi que esse é meu biotipo e fico feliz assim”, explica. “Eu me dedico por gostar. Não por pressão de ninguém, nem da sociedade”, garante.
Para Erika, pior que os críticos de corpo alheio no carnaval são os juízes de samba no pé. A atriz fala que se incomoda muito com os comentários sobre a falta de samba das rainhas e musas e diz que odeia comparações.
“Os julgadores vêm falar não só do corpo, mas se você samba, se você não samba, se você está imitando fulano ou está fazendo pior ou melhor. É comparação o tempo todo. Se a gente não tiver a cabeça no lugar, a gente pira!”, desabafa.
Musas como Gabi Martins, da Vila Isabel, e a rainha Fabíola Andrade, da Mocidade Independente de Padre Miguel, já sofreram com críticas ao molejo nas redes sociais. Vídeos das duas sambando circularam na internet e atraíram cobrança em cima das influenciadoras.
Na visão de Erika Januza, as pessoas precisam ter mais cuidado com os comentários e entender que, ao longo das mais de uma hora de desfile, nem sempre o destaque vai dançar com a energia 100%. “Sambar o tempo inteiro é muito cansativo. Em algum momento, você precisa parar para respirar, ganhar fôlego”, explica.
Outro ponto importante para a atriz é reconhecer que cada rainha tem sua individualidade e sua assinatura no samba. “Hoje, como a coisa está cada vez mais técnica, se você não se prepara, fica para trás. Mas cada rainha tem o seu estilo! Você tem que buscar a sua essência e não ser igual a ninguém”, opina.
Ela continua: “Você não tem que coreografar igual a ninguém ou sambar igual a ninguém. Precisa só criar sua identidade e entregar o seu amor e dedicação para a bateria. Da mesma forma, as pessoas também não podem querer que a gente seja parecida. Cada uma tem sua beleza e sua estética.”
É a partir desse pensamento que Erika tenta se ‘blindar’ de comentários negativos antes, durante e depois dos desfiles na Marquês de Sapucaí, com autoconfiança. “Quando eu estou confiante comigo, por mim, que critiquem se eu acho que eu entreguei um bom trabalho ou não. Eu fico tranquila assim”, assegura.
Dupla jornada: atriz e rainha
Erika Januza só tinha um ano de idade quando Dona Beja estreou na antiga TV Manchete. Hoje, a atriz se desdobra entre os preparativos de carnaval e o set para a regravação da novela na plataforma de streaming HBO Max. A rotina é bem puxada, mas a rainha da Viradouro diz acreditar que dá conta do recado.
“A cada semana que sai um novo roteiro, eu fico na expectativa de ter folga nos dias dos ensaios. Quando tem, é uma benção. Eu sofro quando não estou nos ensaios ou em algum evento da escola, isso é real”, se preocupa.
Quando não consegue a folga ideal, Erika leva tudo o que precisa para as gravações e sai ‘correndo’ para chegar na quadra da furacão vermelha e branca a tempo. No entanto, a correria já é normal para a atriz.
Rainha desde 2022, Erika Januza conta que o carnaval sempre coincide com o período de gravação de algum trabalho. No ano passado, a atriz estava atuando na série A Magia de Aruna, da Disney+. Já no seu primeiro ano de Viradouro, ela dividia seu tempo com o set de Arcanjo Renegado, da Globoplay.
“No ano retrasado eu tive que assistir à apuração pelo celular entre uma cena e outra. Foi ‘total’ apertado. Só consegui ver da Sapucaí no ano passado”, relembra. Mesmo com o tempo curto, ela assume que não trocaria a rotina por nada. “É muito corrido, mas eu gosto muito. Fico cansada, mas gosto. É como se os ensaios recarregassem a minha bateria”, admite.
Amor à Furacão
Mesmo com uma cultura forte de famosas na posição, muito se fala da importância de rainhas de bateria que cresceram nas comunidades do samba. Mineira, Erika Januza não faz parte dessa lógica, mas frisa que sempre está em busca de fortalecer essa conexão.
“Esse cargo que ocupo foi a realização de um sonho. Por isso, acho muito importante honrar essa posição e toda a comunidade que tá ali presente. Você representa o coração da escola, a bateria”, explica.
Por conta da rotina da profissão, a atriz conta que nem sempre é possível estar presente fisicamente, mas tenta saber tudo o que acontece na agremiação. “Gosto de me inteirar de tudo, de estar presente no início dos ensaios. Eu gosto de dar uma volta no meio da comunidade e cantar junto. Me sinto realmente parte, apesar de não ser ‘a rainha da comunidade’, como dizem. Porque eu não sou de Niterói”, explica.
Nascida em Contagem, Minas Gerais, Erika diz que sempre foi muito apaixonada pelo samba e hoje se esforça para que a comunidade da Viradouro a veja como uma rainha dedicada e encantada pela sua escola.
“Quanto mais conectado você está com o samba, com a história e com aquelas pessoas, como um time que está se preparando para ir a um jogo, melhor”, defende. Coroada há três anos, a atriz ainda não ganhou um título pela escola. A última vez que a agremiação foi campeã foi em 2020, com o samba-enredo Viradouro de alma lavada.
Um ano antes da escola de Niterói ganhar o campeonato pelo grupo especial carioca, Erika Januza desfilava como musa pela paulistana Vai-Vai e pela Grande Rio. Mesmo tendo passado por várias escolas de samba, ela diz que se encontrou na Viradouro.
“É uma escola diferente, tem uma energia diferente. Me conectei completamente. Não que eu não tenha sido feliz por onde eu passei, mas é lá que realmente me sinto em casa. Tenho prazer de estar ali”, reconhece.
Erika também acredita que tamanha conexão e amor só pode ter sido providência divina. “Ao longo dessa minha vida carnavalesca, eu sempre digo que Deus reservou a hora certa e o lugar certo para eu ser rainha de bateria. Eu realmente sou muito feliz lá”, se emociona.
O coração da rainha
Apaixonada pelo carnaval, Erika Januza divide o coração com outra paixão: o noivo, José Júnior. Os dois assumiram o relacionamento em julho de 2023, meses após a atriz confirmar o fim do namoro com Juan Nakamura. Fundador do Afroreggae, José tem 55 anos.
Numa disputa entre o carnaval e o parceiro, a folia tem grandes chances de sair ganhando. No entanto, não é preciso escolher entre um ou outro. A atriz conta que sempre avisa ao noivo quando precisa comparecer aos ensaios ou viajar por conta da Viradouro. “Quem está comigo sabe que eu me dedico porque gosto de verdade de fazer isso”, diz.
Para juntar as duas paixões, ela tenta levar o produtor audiovisual nos eventos da escola; ele chegou a marcar presença em dois ensaios. Com o tempo dividido entre o parceiro e a agremiação, Erika descarta qualquer ciúme de José Júnior.
“Ele não é ciumento. Às vezes eu vou me arrumar na casa dele, ele dá opinião, ajuda. Quando não me acompanha, diz ‘está linda. Aproveita e manda mensagem quando chegar’. É super tranquilo”, se derrete. Para o dia do desfile, Erika conta que o convite já rolou, mas ainda não sabe se o noivo vai.
O casal não compartilha espaço na avenida, mas estão 'juntos' em Arcanjo Renegado: ele é criador da série original Globoplay, e ela vive a policial Sarah. Sobre essa parceria no audiovisual, Erika conta que a previsão é gravar a quarta e a quinta temporada ainda em setembro deste ano.
“Sarah é uma personagem que eu adoro. Quanto mais temporadas, mais sinônimo de que está fazendo sucesso. Fazer a série é uma delícia, uma adrenalina maravilhosa. Outro perfil para mim, como atriz”, compartilha.
Se os fãs podem esperar novas parcerias com o noivo, Erika entrega ao destino: “O futuro a Deus pertence. Vamos ver o que tem pela frente”.