Refugiados vão participar do desfile do Salgueiro: 'Estamos pedindo respeito', diz presidente
Escolhidos são de Angola, Marrocos, Congo, Síria e Venezuela; enredo batizado de Resistência vai falar sobre minorias
Nada de jogador de futebol, cantor ou atriz famosa. Em vez de celebridades, quem vai brilhar em duas alas do Salgueiro na Marquês de Sapucaí são 20 refugiados - estrangeiros que precisam sair de seus países por conta de perseguição (temida ou efetiva) devido a raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, ou por causa de grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados.
São pessoas de cinco nacionalidades (Angola, Marrocos, República Democrática do Congo, Síria e Venezuela). Eles mudaram-se para o Rio de Janeiro para fugir de perseguições em seus países de origem. O enredo da escola, "Resistência", fala dos lugares do Rio que se tornaram simbólicos para os negros e sua cultura, como a Praça XI, onde começaram os desfiles das escolas de samba, em 1930.
Mas, falando em preconceitos, os refugiados também sofrem e sua história deve ser exposta. "Estamos pedindo respeito, valorização e reconhecimento a todas as minorias, o que inclui as pessoas refugiadas", afirma o presidente do Salgueiro, André Vaz. Os 20 refugiados foram distribuídos em duas alas, que homenageiam o projeto Afroreggae e Dom Obá II d'África, ou Cândido da Fonseca Galvão. Este foi um militar brasileiro, que viveu entre 1845 e 1890 e era descendente do líder de um império africano.
Os refugiados foram selecionados por duas entidades (Cáritas e Aldeias Infantis SOS Brasil) a partir de uma parceria do Salgueiro com a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). A refugiada angolana Filomena Ester, de 22 anos, está no Rio desde 2017, fugindo dos conflitos em seu país, e vai desfilar pela segunda vez na Sapucaí.
"Eu sempre gostei de samba e me interessei pelo carnaval. Em 2019 tive a oportunidade de desfilar pela Viradouro, e agora fui convidada pelo Salgueiro", conta Filomena. Ela veio para o Brasil com uma cunhada, mas atualmente mora sozinha em Bento Ribeiro (zona norte) e trabalha com penteados e apliques em Madureira, na mesma região. "Meu sonho é fazer medicina. A iniciativa do Salgueiro é importante, por dar espaço e alguma voz a gente que está tentando recomeçar a vida."