Madura, São Clemente faz ode a "pai dos carnavalescos"
Escola amarela e preta contou a história do lendário cenógrafo Fernando Pamplona na Marquês de Sapucaí
Menos tradicional das 12 escolas que atualmente integram o Grupo Especial do Carnaval carioca, a São Clemente foi a responsável por abrir o segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí, na noite desta segunda-feira. Com menos recursos que as rivais, a agremiação amarela e preta apostou na vontade e em um enredo para lá de saudosista a fim de tentar se manter na elite do Rio de Janeiro. Já se vão cinco anos desde a última participação da São Clemente no Grupo de Acesso – neste período, a escola teve como melhor resultado a 9ª colocação de 2011.
O enredo que a agremiação levou à avenida? "A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera, da Tocandira e da onça pé de boi". Quem seria este homem? Simplesmente Fernando Pamplona. Conhecido como o “pai de todos os carnavalescos” do Brasil, o cenógrafo foi tetracampeão do Carnaval carioca pelo Salgueiro (em 1960, 1965, 1969 e 1971) e praticamente criou um jeito de se contar histórias na Marquês de Sapucaí. Falecido aos 87 anos em setembro de 2013, então, pode ver de onde quer que estivesse a sua vida virar tema de um Carnaval na avenida.
E a São Clemente conseguiu levar Pamplona à Sapucaí de maneira bastante digna. Estreando na escola, a carnavalesca Rosa Magalhães desenvolveu um desfile bem bonito e que não deve provocar grandes problemas à agremiação na apuração da próxima quarta-feira. A primeira surpresa apareceu logo na comissão de frente.
Representado os medos do homenageado, a linha inaugural amarela e preta não continha elementos cenográficos – apenas bailarinos. E eles deram conta do recado. Vestidos de pássaros negros, transformavam-se em bruxas de tempos em tempos e encantaram o sambódromo apenas na base da dança. Até a chegada do abre-alas, uma ala negra dava mostras de qual seria o clima do primeiro carro alegórico da São Clemente.
Sombrio (mas ao mesmo encantador), ele também exibiu à Sapucaí os medos de Fernando Pamplona durante o seu crescimento no Rio de Janeiro - como a discriminação racial, que, futuramente, inspiraria o carnavalesco a escrever alguns de seus enredos. Aranhas caranguejeiras gigantes, onças pintadas, bruxas que se moviam no topo da alegoria... Tudo foi bastante bonito. E ficou ainda mais devido ao contraste das cores preta e laranja, que deram um ar luxuoso à avenida.
Luxo, aliás, foi no que Rosa Magalhães conseguiu transformar a Marquês de Sapucaí na noite desta segunda-feira. O sambódromo ficou especialmente colorido e brilhante por causa das lindas fantasias vestidas pelos 3200 componentes da São Clemente. Estava bonito.
Bateria e samba-enredo também encantaram a avenida. A primeira arriscou com paradinhas e bossas mais longas, entrou na área de recuo de trás para frente e também contou com a ilustre presença do Mestre Marcão, que comanda os ritmistas da Acadêmicos do Salgueiro. Ele surpreendeu e desfilou tocando uma das caixas da Fiel Bateria. Já a letra do samba da São Clemente esbanjou sensibilidade, levantando o público com “pega no ganzê, pega no ganzá”, e o emocionando com “É o mestre/Que segue o astro rei lá no infinito/O céu ficou ainda mais bonito/Todos querem aplaudir”.
Onde quer que esteja, Fernando Pamplona certamente aprovou.