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Mudança do Garcia: Riachão é homenageado e dá nome a circuito

Há 84 anos, bloco sai do tradicional bairro do Garcia em direção ao circuito Osmar e é conhecido por espírito de protesto

4 mar 2014 - 18h38
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Andar na segunda-feira de Carnaval pelo circuito Osmar, centro de Salvador, é como atravessar um portal de entrada à folia dos tempos do entrudo, em que a bagunça era generalizada, ninguém se entendia, mas todo o mundo fazia a sua festa. E tudo começa com a irreverente Mudança do Garcia – aquela, retratada na sequência inicial do filme Ó Paí Ó, da cineasta baiana Monique Gardenberg –, que subverte totalmente a lógica da organização professada e praticada por prefeitura municipal e governo estadual, e sai no circuito oficial arrastando uma multidão que protesta contra tudo e todos, com cartazes, fantasias, minitrios e deboche.

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E tem de tudo na crítica social, política e de costume do cordão, que tem 84 anos e sai do tradicional bairro do Garcia, para entrar no circuito oficial furando o espaço no meio dos grandes trios – até essa forma guerrilheira de sair também já é um protesto contra o sistema instituído. De cartazes sérios como “Wagner, pague a URV do servidor público”, pedindo que o governador zere a dívida que tem desde 1994 com os servidores públicos da estaduais, por conta do pagamento das perdas salariais decorrentes da mudança do Cruzeiro Real para a Unidade Real de Valor (URV), a outros mais carnavalescos, como “ACM Neto, nós queremos Skol”, em alusão ao monopólio da cerveja Nova Schin nos circuitos, que este ano é a patrocinadora oficial do Carnaval de Salvador.

Em 2014, a Mudança, como é carinhosamente chamada pelos foliões, homenageou o sambista baiano Riachão, que, do alto de seus 93 anos, esteve presente, sambou e se emocionou. “Toda essa organização é abençoada por Deus e eu agradeço de todo o coração”, declarou o sambista, emocionado, ao portal Terra. E, um pouco antes de subir no trio para começar o desfile, seu Clementino Rodrigues – o verdadeiro nome desta entidade do samba baiano – reiterou sua gratidão: “Não tenho palavras para agradecer, só um lindo Deus pode dar a vocês o que vocês merecem”. Riachão é um autêntico representante do Garcia: nasceu no local e lá mora, até hoje.

Por volta do meio-dia, ele deu início ao cortejo, entoando seu grande sucesso, Cada Macaco no Seu Galho, ao lado de Wellington Fera  e Juliana Ribeiro, cantora e sambista convidada para fazer a festa: “É uma honra poder dividir o palco com batatinha (apelido de Riachão) pela sétima vez.  O que eu mais admiro em Riachão é a generosidade que ele tem”, disse a cantora ao Terra.

Claro que também saíram outros sucessos do músico, como Vá Morar com o Diabo e Retrato da Bahia. E, no meio desta multidão da diversidade da Mudança do Garcia, surge Divina Valéria, atriz e cantora, musa dos carnavais do antigo Bloco do Jacu, apressada para se integrar ao carro de som da Mudança, onde ia aquecer para o show que faria, à noite, na Villa da Diversidade (Largo 2 de Julho).

Circuito Riachão

A festa, apesar da esculhambação, recebe patrocínio pela Bahiatursa, que ajudou a organização a transformar em Circuito Riachão, ao menos por um dia, o pedaço entre o Largo do Garcia, passando pela Rua Prediliano Pitta e Avenida Leovigildo Filgueiras em direção ao Campo Grande.

“A gente dá dinheiro para eles falarem mal para burro do governo, mas tudo bem, é a democracia, graças a Deus”, ri o presidente da Bahiatursa, Fernando Ferrero, para voltar à seriedade: “O governo apoia artistas e entidades de reconhecido valor, inclusive manifestações irreverentes e de caráter crítico, como a Mudança do Garcia”. Mas a irreverência da Mudança está prestes a transformar o bairro do Garcia, oficialmente, em Circuito Riachão: reconhecido pelo Conselho do Carnaval, a criação deste circuito virou um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal, em vias de aprovação.

Para o presidente da Mudança do Garcia, Rodney Martins, Riachão deu sorte à batalha pelo reconhecimento do circuito. “Essa é uma luta que vem há 15 anos,  agora aprovada pelo Conselho do Carnaval. Não temos recursos próprios. Utilizamos fantasias, cartazes, carro de som e banda para expressar o nosso pensamento. A Mudança do Garcia sai com quase 80 mil pessoas, dentre turistas que misturam alegria com protestos e brincam de forma lúdica e pacífica”, afirma Rodney. “O ganho é alto com investimento baixo, mas sem o apoio dos órgãos públicos, como a Bahiatursa, seria inviável a nossa participação”.

Mesmo após a passagem do cortejo, a festa continua no Garcia, à revelia dos decibéis despejados pelos trios elétricos que passam ao lado, no Campo Grande. É um outro universo, onde as pessoas passeiam, bebem sentadas em cadeiras nas calçadas; se aglomeram em torno de carros que, de fundo aberto, tocam de reggae a pagode; se juntam em cordões de samba; ou vão atrás de blocos puxados por microtrios, como o Memória RAM, que trouxe, em cima, os músicos baianos Jota Velloso, Ivan Huol, entre outros.

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Musas do Carnaval 2014<a data-cke-saved-href="http://diversao.terra.com.br/carnaval/musas-do-carnaval-2014/" href="http://diversao.terra.com.br/carnaval/musas-do-carnaval-2014/">veja o infográfico</a>

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Fonte: Terra
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