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Nos 30 anos do axé, Gilberto Gil exalta pluralidade da MPB

Cantor falou ao Terra sobre evolução da música baiana

14 fev 2015 - 17h27
(atualizado às 18h26)
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Gilberto Gil nega que axé esteja em crise
Gilberto Gil nega que axé esteja em crise
Foto: Felipe Souto Maior / AgNews

Gilberto Passos Gil Moreira é muito mais do que um simples experiente artista. Próximo de completar 73 anos, o músico, todo vestido de branco com chinelos de couro nos pés e um semblante tranquilo, passeia por seu Camarote Expresso 2222, cada vez mais tradicional no Carnaval de Salvador, com olhar penetrante e feliz após cantar, com Preta Gil e o igualmente lendário Luiza Caldas, a canção Palco, um símbolo para a evolução da música baiana.

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Testemunhando o Carnaval que marca os 30 anos do axé, Gilberto Gil se nega a aceitar que o estilo musical esteja em crise. "Quem precisa de crise é a notícia! A notícia precisa de crise. Todo mundo que trabalha com a notícia, precisa da crise. Eu pergunto: o que é a crise do axé, sendo que as pessoas estão aqui cantando músicas de axé?", diz ele, em entrevista ao Terra.

Gesticulando, falando pausadamente, com leveza e contundência típicas de sua personalidade única, Gil silencia o ambiente ao seu redor. Todos prestam atenção em suas considerações. "Enquanto as pessoas vão tendo disposição para fazer as coisas, elas vão fazendo. O camarote existe há 17 anos, e há 17 anos o seus colegas vinham me perguntar a mesma coisa que vocês tão me perguntando agora. A mesma coisa: tem crise, não tem crise, o trio elétrico, se acabou ou não, o bloco afro, a importância, não tem novidade... ", afirma. Ninguém ousa discordar, claro.

Gil, Psirico e Luiz Caldas fazem encontro histórico em Salvador:

O ex-Ministro da Cultura também se nega a entrar na briga do axé contra a suposta invasão de outros estilos no Carnaval da Bahia, como o funk, o sertanejo e o pagode. "O Carnaval da Bahia sempre foi assim, eclético. Aqui toca tudo, tocava até bolero, Mozart (risos), de tudo quanto é música. Sucessos que apareciam na televisão, músicas feitas para o Carnaval, frevos antigos", lembra.

Apaixonado pelo Carnaval e pelas músicas de Carnaval

Assim como a de Moraes Moreira, a carne de Gil também é de Carnaval, como seu coração é igual. Pois então, para ele, não existe uma "melhor música". "A melhor música do Carnaval são todas! (risos) Quando as pessoas cantam um sucesso qualquer da Timbalada, da Ivete, quando a gente canta 'cada macaco no seu galho, xô, xuá', de 40, 50 anos... na hora que você canta, a melhor música do Carnaval é aquela que você canta naquela hora", opina.

Orgulho do pai, Preta Gil é um ícone no Carnaval baiano

"Ela tá ali, parada, eles não podem ignorá-la, né? (risos)", diz Gil sobre a participação de Preta nos desfiles do circuito Barra/Ondina. A cantora foi uma atração nesta sexta-feira (13), quando todos os trios pararam na varanda elétrica do Camarote Expresso 2222 para saudá-la. "Eu enxergo com os mesmos olhos que você enxerga (risos), ela é uma pessoa importante da cultura, do entretenimento, dos costumes, uma pessoa antenada, que dialoga com todo mundo. Não pode ser ignorada", diz.

Existe influência tropicalista no axé?

Para Gil, existe, sim, e muita. "A influência tropicalista no axé é o fato dela ter existido, sendo um momento importante que defendeu a pluralidade da música brasileira, a diversidade. Criou-se um novo ambiente musical do Brasil, com capacidade de acolhimento ao rock, ao reggae. Como é que o reggae teria entrado no Carnaval da Bahia se não tivesse havido o tropicalismo? Então o tropicalismo foi um momento de magnetização nova da música popular do Brasil. Correspondia com outros momentos similares do mundo, não é? Em uma época em que havia uma nova consideração pela cultura popular, e o Brasil como sempre foi participante da cultura popular, de Hermeto Pascoal ao Ney Matogrosso, ao Carlinhos Brown... ", avalia.

Mais experiente, Gilberto Gil lançou no último ano o disco Gilberto Sambas, uma compilação de versões de clássicos do samba e bossa nova brasileiros. Conhecido pelas músicas animadas, agitadas e cheias de gingado, Gil admite que a priorização dos shows e discos acústicos é um reflexo da idade. "Já falta potência na minha voz, falta fôlego, falta agilidade nas minhas pernas para sair dançando, brincando. Vai faltando muita coisa (risos), então eu vou tendo que adaptar, vou tendo que fazer uso daquelas coisas que ainda são mais abundantes na minha condição artística, o toque suave do violão, a voz mais moderadamente usada, essas coisas. Então, o envelhecimento vai obrigando você a abrir mão de certos hábitos mais comuns da juventude. Eu adoro fazer o show elétrico, pesado, mas eu não tenho mais condições de fazer com tanta frequência", admite.

Em uma época tão especial para a música baiana, nada mais justo do que o respeito e ovação aos nomes que fizeram da Bahia um polo fundamental da cultura pop brasileira. Seja no camarote, em cima ou atrás do trio, Gil continua sendo estrela de um Carnaval que parece ficar maior a cada ano.

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Fonte: Terra
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