Sambista disputa judicialmente reconhecimento da autoria de samba-enredo que marcou carnaval
Almir da Ilha alega ser terceiro compositor do clássico 'É Hoje'
É hoje o dia da alegria! Quem costuma frequentar rodas de samba sabe que a canção é sempre relembrada por musicistas do País inteiro. O que talvez nem todos saibam é que samba-enredo é alvo de uma disputa judicial pelo carnavalesco Almir da Ilha. Ele afirma ser o terceiro compositor da música.
De acordo com levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição dos Direitos Autorais (Ecad), É Hoje é o samba-enredo mais executado no Brasil nos últimos dez anos. A música foi entoada pela primeira vez no carnaval de 1982, pela União da Ilha do Governador.
A canção é oficialmente assinada pelos compositores Didi e Mestrinho, ambos já falecidos. No ano passado, Almir da Ilha entrou com um processo na Justiça do Rio de Janeiro alegando ter participado da composição.
"Por curiosidade, trabalhava a bordo de um navio e sabia que o carnavalesco Max Lopes queria fazer uma grande barca no carnaval da Ilha, uma ilha atravessando o mar. Aí eu vim com uma ideia e mostrei para o Didi e comecei a confeccionar o samba com algumas partes. Eu fiz: 'A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela'. O Didi tinha o negócio de maior show da terra. Juntamos ali e começamos o samba", contou Almir ao Jornal Hoje, da TV Globo.
Segundo Almir, existem testemunhas do fato e, por conta de um desentendimento, seu nome não entrou oficialmente como compositor.
"A ala de compositores da União é um problema. Eu tinha entrado, e eles acharam que a minha entrada era ilegal. Fizeram uma votação e disseram que era ilegal. Eu já estava com o samba sendo desenvolvido com o Didi. A ala que me tirou, e eu acabei não assinando o samba", explicou.
Carlos Alberto, integrante da Velha Guarda da União da Ilha, afirmou ao Jornal Hoje que chegou a aconselhar Almir da Ilha sobre assinar o samba.
"Na época, a gente falava: 'Almir, você tem que querer mais. O samba é teu, tu é o pai disso'. Eu aconselhei diversas vezes: ‘Almir, tu não pode perder uma obra dessas. Tu é o pai do samba'", contou.
Alberto Mussa, sobrinho de Didi, disse que já escutou muitas histórias sobre o samba-enredo, mas nunca ouviu dizer que existia outro autor. "Eu poderia estar num bar, eventualmente ter visto um diálogo, não me lembro de nada", disse.
Mestrinho desapareceu algum tempo depois do desfile de 1982. A família acredita que ele tenha morrido entre 1994 e 1995, mas não houve velório, nem vestígios do desaparecimento.
Seu sobrinho-neto, Victor Hugo, afirmou que ouvia da família que o tio havia morrido e deixado quatro filhos. No entanto, nenhum parente apareceu para recolher a parte de Mestrinho nos direitos autorais do samba. Esse valor hoje é estimado em R$ 300 mil, segundo a Rede Globo.