Carnaval na Vila Madalena deixa rastro de vandalismo
Briga entre vândalos e policiais na noite de segunda-feira e sábado passado deixou vidros quebrados e paredes pichadas
Vidros e janelas quebrados, paredes pichadas, jardins destruídos. As cenas descrevem um dos pontos mais badalados da festa de Carnaval na Vila Madalena, área nobre de São Paulo, após o confronto da noite passada entre vândalos e policiais militares.
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A confusão começou na esquina das ruas Fidalga e Aspicuelta – duas das vias que concentram maior número de bares – quando a PM, na dispersão dos foliões, teria sido recebida a garrafas de vidro lançadas por quem se recusara a deixar o local no horário-limite de folia estipulado pela prefeitura, 1h. No sábado passado, já havia sido registrada confusão semelhante por conta do desrespeito ao horário de dispersão.
A reportagem do Terra esteve no bairro nesta terça-feira e conversou com comerciantes, funcionários, moradores e ambulantes das imediações do confronto – que teve bombas de efeito moral lançadas pela PM, de um lado, em resposta a garrafas de vidro.
Entre os comerciantes e moradores entrevistados, a percepção mais comum é a de que o vandalismo aumentou no Carnaval deste ano, em comparação ao do ano passado - marco da retomada da festa de rua na cidade, e no bairro – e mesmo à Copa do Mundo de futebol.
“O que a gente viu foi mais bagunça que festa, e gente que vem de fora do bairro para beber”, disse o garçom Walmir Marques, 40 anos, que trabalha há 12 anos em um dos bares locais. Na confusão de ontem para dispersar os foliões, um dos vidros da porta do estabelecimento foi quebrado. Uma oficina ao lado teve quebrados o relógio de medição de energia e as paredes e vidros pichados. “Aumentou demais o vandalismo aqui em relação à Copa ou ao Carnaval passado, e, do jeito que vai, ano que vem vai ser ainda pior”, estima o manobrista Luís de Souza, 47 anos, que também trabalha na região.
Um comerciante que trabalha há seis anos no bairro – ele preferiu não se identificar – reclamou do que chamou de “falta de planejamento das autoridades” para atender a demanda de foliões atraídos ao bairro. “A prefeitura diz que a Vila é ponto cultural da cidade, mas isso se transformou mesmo é em ponto comercial. E não para os comerciantes formais, fique claro: você olha para os lados e está apinhado de ambulante concorrendo com quem paga impostos; é um absurdo”, se queixou.
"PM deveria ter agido com mais violência", diz morador
Morador do bairro, o economista Oswaldo Santos, de 70 anos, considerou a ação da PM para dispersar de madrugada os foliões “abaixo da expectativa” – mesmo que ele tenha saído ferido por uma bomba de efeito moral, relatou, quando saiu de casa para conferir “que barulheira era aquela”.
“A polícia agiu corretamente – talvez devesse ter agido até com mais violência ou prendido alguns, em vez de só dispersar com bombas. Não sou contra o Carnaval, sou contra os maus elementos. E antigamente o Carnaval era mais distinto a ponto de os maus elementos que vinham para cá, na folia, até se comportarem”, disse o aposentado, que salientou: “também não tenho nada contra a periferia, sou contra os bandidos que vêm aqui. E a Vila tem um nível diferente, né, os preços aqui são mais altos, mas paga-se por qualidade”, defendeu Santos, que durante anos foi puxador dos sambas da Camisa Verde e Branco, de São Paulo.
Também morador do bairro, e há 50 anos, o aposentado Carlos Alberto dos Santos, de 65 anos, lamentou “a coisa ter misturado tanto”. “Tentou-se criar na Vila Madalena o clima de Carnaval do Bixiga dos anos 70, mas as pessoas misturaram muito as coisas e o que deveria ser festa e ser bonito virou bagunça e algo praticamente sem limites. É preciso organizar melhor”, opinou.
Para ambulantes, confusão foi facilitada por apagão
Entre os ambulantes, alguns afirmaram à reportagem que a confusão da noite passada foi facilitada, em certa medida, por um apagão de quase duas horas no bairro, a partir das 21h. “Isso aqui tudo às escuras ficou praticamente uma terra de ninguém – só ficou mesmo quem estava a fim de bagunça, não as famílias”, relatou Alexandre dos Santos Martins, de 32 anos. Ele e a família vieram de Carapicuíba, na Grande SP, para vender bebidas alcoólicas nas ruas do bairro com licença municipal.
Licenciados – desde 31 de janeiro até 3 de março – para a venda de bebidas na rua, Arquimedes Andrade de Sá, 33 anos, e a mulher Júlia Russo, de 27, disse que as brigas acontecem por vezes antes mesmo da intervenção da PM.
“Tem comerciante que faz birra com folião e não o deixa entrar para usar o banheiro; isso volta e meia gera uns bate-bocas feios. Mas alguns donos de bar chamam a polícia ou o fiscal só de ver ambulante vendendo bebida aqui fora perto deles; tem que ficar a uma distância”, relatou. “Eles (comerciantes) reclamam dos ambulantes, mas cobram preços abusivos. Depois, não adianta reclamar que a gente tem algo a ver com as confusões entre quem não quer ir embora e a polícia – quem faz isso é vândalo, nem folião é, e vem mesmo para causar”, completou Júlia.
O Carnaval de rua em São Paulo tem programação até o próximo fim de semana.