Primeira bailarina trans do Theatro Municipal de SP, Márcia Dailyn superou o preconceito e virou musa do Baixo Augusta
A artista teve de lidar com transfobia durante sua trajetória, e diz que carnaval para ela é um ato político
“Todo dia eu acordo e peço uma folha em branco para escrever uma história”, é assim que vive Márcia Dailyn, 45 anos, primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo. Influenciada pela mãe, ex-professora de aeróbica, a artista se apaixonou por arte e dança desde pequena.
Márcia vivia em Jales, interior de São Paulo, quando se deparou com um anúncio sobre uma seleção que aconteceria na Escola Municipal de Bailado, do Theatro Municipal, que depois passou a se chamar Escola de Dança de São Paulo. Ela decidiu, então, se inscrever no concurso, há quase 30 anos.
Apesar de nunca ter dúvidas de ser mulher, o pai de Márcia não conseguia entender a situação. Ele chegou a se separar da mãe da bailarina, e demorou a voltar a falar com a filha. Ao longo de sua trajetória, ela também teve de lidar com professores e coreógrafos que a tiravam da sala de aula por ser transexual.
No entanto, Márcia nunca abaixou a cabeça e conseguiu superar todo o preconceito. Hoje, ela é atriz da Cia de Teatro Os Satyros, faz parte da diretoria executiva da SP Escola de Teatro, além de ser diva da Praça Roosevelt e musa do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta.
No último domingo, 21, a artista participou do segundo ensaio do Baixo Augusta, que aconteceu no Galpão do MST, em São Paulo. Neste ano, o bloco comemora 15 anos de história e, Márcia, seus 10 anos de musa. “Muita emoção de fazer parte desses 15 anos, eu que cheguei como foliã, vi toda a história e trajetória, isso me emociona profundamente, de ser nomeada musa da diversidade, musa do maior bloco histórico de carnaval”, disse ao Terra.
“A Márcia, Marcinha, minha amiga, parceira do bloco, é a nova musa do Acadêmicos do Baixo Augusta”, foi assim que, há 10 anos, Ale Youssef surpreendeu Dailyn no Mirante 9 de Julho, com uma multidão de aplausos. De lá para cá, a bailarina se vê cada vez mais apaixonada pelo bloco.
“O Baixo Augusta carrega democracia, liberdade de expressão. Ser artista no Brasil é muito difícil, mas nós podemos ser quem nós somos. Esse bloco me trata com tanto carinho, tanto amor, e recebe a diversidade, como o nosso tema, ‘resiste amor em São Paulo’, resistência de amor, de luto, de ser quem somos sempre”, afirmou.
O carnaval para a artista significa ato político, fervo e luta. Para ela, todos têm o direito de levarem pautas durante a data. “Eu sou espírita, acredito que a gente tem de ser feliz, viver a vida todos os dias [...] Exu é luz, é proteção, estar comemorando 10 anos sendo musa da diversidade no Baixo Augusta me emociona”, completou.