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X-9 reúne pacientes de saúde mental há 14 anos na avenida

13 fev 2015 - 09h59
(atualizado em 14/2/2015 às 22h16)
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O desfile das escolas de samba de São Paulo completa nesta edição 14 anos de luta antimanicomial com a ala "Loucos pela X", da agremiação X9 Paulistana, que reúne pacientes de serviços de saúde mental. O projeto teve início com o "encontro" entre a escola de samba e um serviço de saúde mental da região do Tucuruvi, onde fica o ateliê no qual 13 aderecistas trabalham na confecção de 240 fantasias para esta e outras alas.

Coordenadora do projeto, Simone Ramalho explica que, inicialmente, a ideia do carnavalesco era abordar o potencial criativo da loucura representando a história do artísta plástico Arthur Bispo do Rosário, diagnosticado como "esquizofrênico-paranoico" e comparado a grandes artistas como Duchamp por sua obra vanguardista realizada a partir de materiais recicláveis.

No entanto, sem ter tido os direitos autorais do artista liberados, a escola precisou alterar o tema do samba-enredo em 2002 para abordar a história do papel, quando esbarrou com um projeto de reciclagem executado por um centro de tratamento de saúde mental da região Norte, como conta Ramalho.

"Foi um encontro muito bonito entre um ator social que é uma escola de samba, que muito tempo vem se constituindo no país como um espaço aberto na vida das grandes cidades para lidar com as diferenças" ressaltou Ramalho ao lembrar que "lidar com a diferença é algo cotidiano e fundamental em uma escola de samba".

Em 14 anos, o resultado não poderia ser diferente: em 2014 o projeto recebeu o Prêmio de Empreendimento Mais Socialmente Inclusivo do Carnaval Brasileiro, durante o 1º Prêmio Nacional Edison Carneiro promovido pela Unirio.

Entre os aspectos positivos que pesaram para a indicação ao prêmio e na vida dos participantes do projeto, a coordenadora Simone Ramalho destaca o que chama de "transformação existencial" tanto para quem sofre com algum tipo de problema psíquico quanto para quem abraçou o projeto encampado pela escola de samba.

"Quem trabalha na Loucos pela X percebe que pode trabalhar e fazer algo que tem um significado e um reconhecimento social bastante importante, e que daqui a pouco estará na passarela do samba", destacou a coordenadora do projeto.

Ela lembrou ainda que o projeto contribui para a inserção social dos pacientes que passam a ter autonomia em um aspecto mais amplo, inclusive o financeiro, trazendo essa questão do "aspecto simbólico" para algo mais "concreto".

É o caso de Renato Cândido dos Santos, que aos 31 anos tem no projeto seu primeiro ofício.

Há apenas três meses no projeto, Cândido conta que descobriu a Loucos pela X a partir de uma colega do centro de tratamento psiquiátrico que frequenta.

"Este é praticamente meu primeiro emprego, eu nunca tinha trabalhado. Então eu gostei bastante de vir aqui. Para mim é importante, tenho comprado minhas coisas e me sustentado, coisa que não conseguia fazer e estou conseguindo aqui", contou, ainda tímido, o novato do grupo.

Para a veterana Maria Sônia de Santana, no projeto desde o início, há 14 anos, o melhor momento é o do desfile, quando todos entram juntos na avenida sem distinção de classe, cor ou condição social.

"A nossa maior alegria é quando a gente está no Anhembi. Todo mundo com as fantasias que a gente faz e todo mundo junto desfilando com a gente também na maior alegria", contou a veterana.

Neste ano, a escola de samba X9 vai para a avenida com o samba-enredo "Sambando na Chuva, num pé d'água ou na garoa, sou a X9 numa boa!" numa referencia à chuva que castigou a escola no ano anterior e que, neste ano escasseou, contribuindo para a seca na capital paulista.

EFE   
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