‘Carne’ é nova aposta do Brasil para o Oscar
Curta-metragem documental traz relatos de cinco mulheres sobre a sua relação com o próprio corpo
O Brasil ganhou mais uma chance de emplacar um filme no Oscar 2021: o curta Carne, de Camila Kater, irá disputar uma vaga de melhor curta-metragem documental. Na disputa por uma indicação também estão o longa Babenco, de Bárbara Paz, escolhido para representar o país na premiação; Umbrella, de Helena Hilario e Mario Pece, qualificado na categoria de curta-metragem de animação; e Baile, de Cíntia Domit Bittar, que pode concorrer ao prêmio de curta-metragem em live-action.
O curta da estreante Camila Kater conta histórias de mulheres diversas e sua relação com o próprio corpo, por meio de diferentes técnicas de animação - entre elas, a aquarela, o stop motion, o datamoshing e a decomposição digital, a argila e animação na película de 35mm. Fazendo um paralelo com as fases de cozimento da carne, o filme é dividido em cinco capítulos: Crua, Mal Passada, Ao ponto, Passada e Bem Passada. A ideia, segundo Camila, é mostrar que as mulheres são tratadas apenas como um corpo ao longo de toda a vida.
“A minha intenção era mostrar o quão cruel é essa ironia, e o quanto essa comparação com a carne faz sentido. É como se a gente fosse um corpo antes de ser um humano. E como se, ao envelhecer, deixássemos de ser mulher”, explica a diretora.
O envelhecimento é um dos temas centrais do curta, cuja narrativa segue uma linha temporal que vai desde o bullying na escola até os desafios de ser mulher na terceira idade - a atriz e diretora Helena Ignez, uma das estrelas do Cinema Novo, encerra o filme com reflexões sobre a perda da beleza e o estigma vivido por mulheres após a menopausa.
Há também um impactante depoimento da cantora Raquel Virginia, da banda As Baías, sobre a sexualização da mulher negra e transexual. “Ter perna grossa, bunda grande e ser negra, parece que automaticamente já se torna um corpo sensual. O nome disso é hiperssexualização da mulher negra. Na pirâmide de tolerância, eu sou a última”, relata.
Camila conta que a ideia para o curta surgiu de experiências pessoais e de diversos relatos que ouviu de amigos e familiares, além de campanhas na internet como a #MeuAmigoSecreto e #MeuPrimeiroAssédio - que tomaram conta das redes sociais em 2015. “As personagens trouxeram histórias muito bonitas da visão delas sobre o próprio corpo. Ser consciente e dividir isso com outras mulheres e com os espectadores é muito positivo, até para mudar a relação que temos com o nosso corpo”, diz.
Ficou curioso? O curta está disponível online e de graça no site do jornal The New York Times, neste link.
Assista abaixo a conversa do Terra com a diretora Camila Kater sobre as inspirações do filme, a opção pela animação e as expectativas para a indicação ao Oscar.