‘Adoráveis Mulheres’ discute o direito de escolha da mulher
Com grande elenco, filme de Greta Gerwig revisita debate já levantado em clássicos como 'Sorriso de Mona Lisa' e 'Orgulho e Preconceito'
Inspirado no livro homônimo e nos escritos de Louisa May Alcott, Adoráveis Mulheres conta a história das irmãs March: Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh). Quatro jovens descobrindo a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil.
Contada de forma não linear, a trama se desenrola a partir do ponto de vista do alter ego da autora Jo. A personagem de Saoirse divide a casa com as três irmãs e a mãe Marmee, papel de Laura Dern, uma mulher caridosa e que mantém a ordem em casa enquanto o marido luta na guerra. De personalidades e ambições diferentes, cada irmã procura, à sua maneira, combater o patriarcado e encontrar a felicidade. Jo quer ser uma escritora, Beth é talentosa com o piano, Meg é ótima atriz, mas sonha em se casar, e Amy é uma pintora exímia.
É a partir do conflito de interesses das personagens que percebemos a principal discussão do filme: o direito de escolha da mulher. Adoráveis Mulheres é um longa com perfil específico. Vai agradar os que gostam de filmes de época e os que têm empatia para entender como o patriarcado é uma barreira para a vida da mulher.
Uma discussão recorrente
Três trabalhos diferentes, três períodos históricos e um debate que permanece necessário. O filme de Greta Gerwig é uma mistura de Sorriso de Mona Lisa, filme de 2003, dirigido por Mike Newell, Orgulho e Preconceito, romance de 2005 de Joe Wright e o drama cômico de Noah Baumbach, o História de Um Casamento, distribuído pela Netflix em 2019.
Criativa desde a adolescência, Jo não consegue entender o porquê de sua irmã Amy preferir o casamento a buscar uma carreira de atriz. Um conflito parecido ocorreu com as personagens de Julia Roberts e Julia Styles, em Sorriso de Mona Lisa. Katherine Watson lecionava História da Arte em uma escola só para mulheres e tinha como determinação confrontar os valores ultrapassados da sociedade da década de 1950. Convencida a inspirar suas alunas a serem mais que esposas, a personagem de Julia Roberts tem um choque quando sua aluna Joan Brandwyin, uma mulher brilhante, se recusa a ir para a faculdade para poder viver uma vida de casada. O feminismo é afinal a garantia da mulher decidir o seu destino.
A pressão por um bom casamento, imbuída às mulheres de Adoráveis Mulheres, pode também ser assistida em Orgulho e Preconceito, longa cujo roteiro foi baseado no livro homônimo de Jane Austen. Amy March e Elizabeth Bennet, mulheres do século XIX, têm a obrigação de buscar esse compromisso social e financeiro que beneficiaria suas famílias, independente de seus sentimentos. O resultado são sequências que permitem que as próprias personagens exponham as limitações de escolha da mulher em relação ao casamento, sua vida profissional, o amor e sua liberdade.
Avançando para o século XXI, a mulher no casamento foi novamente temática no longa História de Um Casamento. Com uma discussão mais próxima da nossa realidade, a personagem de Scarlett Johansson decide terminar o seu casamento após perceber que suas vontades, sua voz não eram mais uma questão para o casal que (inconscientemente ou não) priorizava os desejos do marido. No longa de Greta, é a personagem de Meryl Streep que silencia as vontades de suas sobrinhas.
Interpretando a Tia March, Meryl Streep funciona tanto como um alívio cômico, mas também como a voz do século XIX, um discurso que delimita o destino das mulheres. Apesar disso, a própria Tia March parece uma exceção à regra. Sem a necessidade do sustento de um homem, a personagem de Meryl Streep fez a sua própria sorte.
Adoráveis Mulheres estreia no dia 9 de janeiro.