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Amigo de Aluguel, uma série hilária sobre crises de identidade (Primeiras impressões)

Aquele amigo indispensável de quem você nem sabia que precisava.

26 ago 2018 - 09h15
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Tudo começou com uma notícia de jornal: as roteiristas Josefina Trotta e Dainara Toffoli descobriram a história de um rapaz contratado por senhoras idosas para ser um parceiro de dança. Pensaram: como deve ser a vida de uma pessoa contratada para se passar por outra?

Foto: AdoroCinema / AdoroCinema

Assim nasceu a série Amigo de Aluguel, produção da O2 Filmes que estreia no Universal TV dia 26 de agosto. A comédia é concentrada em Fred (Felipe Abib), ator que desenvolve uma fobia de palco depois de desmaiar durante uma peça sobre Gandhi. Desempregado, aceita a sugestão da amiga Sara (Luciana Paes) para interpretar o namorado de uma mulher solitária em um casamento. Como a empreitada dá certo, este "ator da vida real" passa a viver filhos de empresários, um idoso num torneio de cartas, uma mulher portenha...

O AdoroCinema assistiu aos três primeiros episódios, e a primeira coisa a dizer é que o humor funciona muito bem. Primeiro, graças ao elenco: Felipe Abib é um ator excelente, cheio de recursos para brincar com as diversas camadas de seu personagem - em determinado momento, ele interpreta um ator que interpreta um monge que interpreta um empresário. Luciana Paes, uma das figuras mais talentosas do cinema nacional recente, demonstra a sua desenvoltura com uma naturalidade ímpar, enquanto Christiana Ubach impressiona em um papel discreto.

O humor consegue ser ao mesmo tempo leve e contemporâneo. Existe algo lúdico no ator que convence facilmente os judeus ortodoxos de ser um judeu real, e encanta empresários burocratas sobre sua capacidade de gestão enquanto se veste de líder religioso. O texto consegue evitar tanto a infantilidade quanto o exagero, encontrando o tom exato para uma inocência que só funcionaria no universo da comédia.

Ao mesmo tempo, a premissa dialoga bem com o sentimento de inadequação dos nossos tempos. Os personagens constituem uma galeria de solitários: Fred sonha em ser um bom pai, enquanto não tem trabalho fixo nem um relacionamento amoroso estável, seu melhor amigo é um jovem branco (Thiago Amaral) criado por coreanos e se sentindo puramente coreano, os clientes são uma mulher neurótica (Miá Mello) que deseja se passar por neohippie, uma solteirona rejeitada (Laila Zaid) que sonha em se apresentar como a Cinderela do baile...

O melhor aspecto deste projeto é perceber que não existe nada excepcional no trabalho de Fred: ele interpreta outras pessoas, assim como os não-atores ao seu redor também interpretam pessoas diferentes em suas vidas cotidianas. A maquiadora Angelina, inclusive, adota uma nova bandeira política a cada episódio. As pessoas são inconstantes, tentam se encontrar e se definir, e acabam encontrando nos braços atrapalhados do ator uma forma de terapia. 

O próprio Fred vai muito além do necessário em suas composições, algo que surpreende o espectador e contribui a subverter clichês. Quando interpreta o marido de uma jovem solteira, ele poderia encarnar do patriarca padrão, mas prefere interpretar um pai exageradamente hippie. Quando se torna empresário, poderia virar um fanático dos números, mas prefere se vestir como um tipo espiritualizado. 

Com estes cenários e situações tão codificadas - casamentos, partos, reuniões de negócios - a série consegue desconstruir as regras de cada situação, proporcionando certo equilíbrio entre seus personagens. Aos poucos, a neurótica se descobre um pouco menos neurótica, o hipster orgânico-sustentável se descobre menos radical. Os primeiros episódios de Amigo de Aluguel trazem uma ideia singela e louvável de união entre as diferenças, de aceitação da alteridade.

Por enquanto, a parte mais fraca se encontra no triângulo amoroso entre Fred, Angelina e Jun-ho, que soa muito menos orgânico do que os laços de amizade unindo o quarteto central. Do mesmo modo, a competição de Fred com o padrasto de seu filho anuncia desenlaces possivelmente melodramáticos. Entretanto, se o roteiro mantiver seu foco na comédia, onde se sai melhor, a série tem tudo para constituir um projeto memorável, e deixar o espectador ansioso para a segunda temporada, prevista para março de 2019.

AdoroCinema
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