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Ousado, "Titane" leva carros, violência e sexo a Cannes

Concorrendo à Palma, longa dirigido pela francesa Julia Ducournau, dividiu público e crítica, com direito a náuseas e muitos aplausos

15 jul 2021 - 20h05
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Alexia (Agathe Rousselle) faz danças sexies para marmanjos apaixonados por carros, que ela também deseja e com quem faz sexo
Alexia (Agathe Rousselle) faz danças sexies para marmanjos apaixonados por carros, que ela também deseja e com quem faz sexo
Foto: Reprodução

Gente deixando a sala, náusas, aplausos efusivos. Assim foi a reação do público de Cannes a “Titane”,  longa da francesa Julia Ducournau, uma das quatro diretoras que disputam a Palma de Ouro do Festival neste ano.

Teremos de esperar até sábado (19h da França, 14h do Brasil) para descobrir qual foi a reação provocada no júri, mas um fato é certo: Titane já entrou para o hall dos filmes que mais provocaram a plateia em Cannes. Isso porque este ano já houve Paul Verhoeven e seu provocativo “Benedetta”.

Em “Titane”, Julia, que já havia chocado Cannes 2017 com seu primeiro longa “Raw” (entre outros temas, o filme faz do canibalismo um instrumento para falar da emancipação de uma jovem estudante de veterinária), desta vez expande ainda mais seus limites com um filmes que, segundo ela e seu produtor, não são cinema de gênero, ainda que explorem elementos do terror, suspense e do thriller.

Equipe de "Titane" na première do filme em Cannes
Equipe de "Titane" na première do filme em Cannes
Foto: Divulgação

Em Titane, a protagonista é Alexia (Agathe Rousselle, em seu primeiro papel em um longa), uma jovem que sofre ( ou provoca) um acidente de carro na infância e tem uma placa de titânio implantada no cérebro. Depois disso, ela passa a ser apaixonada por carros. E se torna uma serial killer.

Ela trabalha como promotora de carros, faz danças mais do que sexies em volta e em contato com eles. E mais. Ela  os deseja e faz sexo com  os carros. A crítica especializada tem apontado a cena de sexo e o que vem depois, como consequência do ato em si, uma das ideias mais malucas, ousadas e criativas dos últimos anos no cinema. Quem imaginava que a sessão de "Velozes e Furiosos - 9 " fosse ser o grande "filme de carros" de Cannes 2021 se enganou redondamente. 

Alexia também sai com homens que frequentam os eventos, apaixados por carros e, claro, os ataca. Acaba sendo procurada e, em perigo, abriga-se em um quartel do corpo de bombeiros e conhece o personagem de Vincent Lindon.  Esta é só a premissa de “Titane” que, como garantiram vários espectadores ao sair da sessão de estreia, merece ser visto na tela grande.

o ator Vincent Lindon,  a diretora Julia Ducournau e a atriz Agathe Rousselle (Alexia)
o ator Vincent Lindon, a diretora Julia Ducournau e a atriz Agathe Rousselle (Alexia)
Foto: Divulgação

O filme, a julgar pelos comentários e pelas análises da crítica,  une cinema de gênero, sexo, violência, sexo e desafia as convenções do desejo e de gênero. Houve quem o comparasse ao clássico provocativo "Crash", de David Cronenberg. Houve quem o chamasse de apenas bobo e desajeitado, ainda que ousado. 

Na coletiva de imprensa do filme, Julia foi questionada sobre o receio de provocar reações diversas no público, que ou amaria ou odiaria o filme. Ela não se abateu:  “Quando a gente faz um filme assim, claro que sabemos que vamos criar uma divisão no público. Para mim, mesmo como espectadora, não é esta a questão pertinente. O importante é tocar as pessoas, seja provocando rejeição ou admiração. Se criamos uma reação nas pessoas, significa que as estamos tocando algo nas pessoas; e isso cria um debate e até mesmo um debate interior. Acho que isso é o mais importante. Se o cinema fosse um mundo de estatutos sobre as coisas, com respostas já prontas, em que todo mundo concorda, seria uma arte morta. É importante que haja discussões e é por isso que fazemos filmes. Contanto que haja reações, que haja vivacidade, estou feliz.”

Vincent Lindon em cena do filme para o qual teve de se preparar fisicamente por meses
Vincent Lindon em cena do filme para o qual teve de se preparar fisicamente por meses
Foto: Reprodução

Vincent Lindon, figura emblemática do cinema francês, agradeceu a Julia pelo papel e disse que com “Titane” ele, tão veterano, fez coisas que nunca imaginou que faria. “Eu me coloquei fisicamente em perigo. Treinei pesado por meses pra me preparar fisicamente para o papel. Aos 60 anos, treinar assim é bem diferente de treinar aos 30”, comentou o ator, que protagoniza uma cena de dança no quartel de bombeiros ao som de “Macarena” que já entrou, assim como “Titane”, para a antologia das grandes cenas de Cannes.

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