Começa o 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, online e gratuito
Evento traz o melhor do cinema contemporâneo da Itália, com curadoria que mira filmes premiados e foco especial para cinema das diretoras
Um festival dedicado ao cinema italiano que revela não só a produção contemporânea do país mas que também traz um foco especial para o cinema realizado pelas diretoras, as que, via de regra, não são lembradas quando se exalta o quanto o cinema italiano influenciou gerações de cineastas e encantou plateias de todo o mundo.
Se a produção atual italiana não é exatamente tão influente quanto a dos mestres sempre referenciados como Federico Fellini, Roberto Rosselini, Luchino Visconti, Ettore Scola, Mario Monicelli, entre tantos outros, a safra dos últimos anos vem revelando que uma nova geração de cineastas fazem cinema com assinatura, inovação e capacidade de se comunicar com o grande público. E este é o caso da seleção de filmes que compõem esta edição do festival, que dá atenção especial, como já comentado, ao cinema de duas cineastas: Emma Dante e Alice Rohrwacher.
Emma, uma das mais premiadas e prestigiadas dramaturgas e diretoras de teatro italianas, dirige As Irmãs Macaluso, longa de abertura do festival, que ficam disponível online até as 18h oras desta sexta-feira. A cineasta também participou de um debate sobre o filme e seu trabalho que está disponível no Youtube do Festa do Cinema Italiano.
As Irmãs Macaluso conta a história de cinco irmãs que, ao longo da infância, vida adulta e velhice, têm de encarar a morte, a solidão, as perdas, mas também vivem em profunda comunhão em um apartamento que traz as marcas do tempo e que abriga no terraço um pombal. São os pombos que elas criam, vendem ou alugam, que sempre voltam para casa, em um movimento contínuo de apego a este lar, assim como as irmãs, que também sempre voltam. “Eu queria que a relação entre elas também fosse permeada por este tempo, pela casa, pela vida que dividem entre elas e a dos pombos. Ter um animal, cuidar dele, é tão importante. Os animais fazem parte da nossa vida”, comentou a diretora siciliana sobre seu filme, que estreou mundialmente no Festival de Veneza 2020.
Sobre a decisão de não se dedicar somente aos palcos mas também ao cinema, Emma Dante conta que a ideia surgiu a partir de um episódio que ocorreu com ela há sete anos. “Eu dirigia em uma rua muito estreita e diante de mim parou um carro; quem dirigia era uma senhora, uma anciã, que levava sua família neste carro. Esta senhora, muda, silenciosa, muito fascinante, não saía do lugar. Eu pensei que era uma história muito interessante de ser contada, mas não podia fazer no teatro. Assim nasceu minha vontade de fazer cinema.”
“Na verdade, o filme trata de algo banal. Conta uma história comum. Nas famílias, ocorrem tragédias, mas as famílias seguem suas vidas. Eu acredito que as irmãs Maculoso também tiveram uma vida feliz. Quando as vemos nos momentos-chave do filme são momentos em que alguma delas se desprende deste grande organismo que é a irmandade entre elas”, conclui a diretora.
Se “As Irmãs Macaluso’ saem de cartaz nesta sexta, também entram online outros dois destaques do fim-de-semana, às 18horas: o premiado Fábulas Sombrias (de Damiano D'Innocenzo, Fabio D'Innocenzo) e a comédia Bangla (de Phaim Bhuiyan), premiado com o David di Donatello ( o Oscar italiano) como a Melhor Comédia do Ano.
Vale lembrar que nesta edição, somente os filmes do Foco Alice Rohrwacher ficam em cartaz durante todo o festival, ou seja, até 27 de junho. Os demais filmes entram todos os dias online às 18horas e permanecem no ar por 24 horas.
Ótima escolha para a sexta, Fábulas Sombrias é, como o nome diz, uma história aparentemente fabular, quase alegórica, sobre várias famílias que vivem em um subúrbio de Roma e que tentam construir uma vida quase perfeita, repleta de convenções sociais e códigos sociais que reprimem as crianças locais. São famílias (quase) comuns. Premiados com o Urso de Prata de Melhor Roteiro em Berlim 2020, os irmãos D’Innocenzo surgem no cenário internacional como um sopro de criatividade ímpar, de quem de fato reflete sobre as regras, castrações e mordaças que os códigos sociais nos impõem. Nesta fábula sinistra, as crianças se recusam a ser meras marionetes dos adultos, revelando uma trama instigante e nada politicamente correta.
"Há tudo, menos a felicidade. E na falta da felicidade, se buscam os fetiches. Cada um se apega a seus próprios prêmios de consolação. Faz-se de conta que tudo vai bem, mas, de alguma forma, vemos como é fácil esconder seus segredos a sete chaves mesmo estando em família. E isso se mostrou muito atual, sobretudo em tempos em que estamos em pandemia e todos vivendo muito próximos", comentou Fabio D'Innocenzo ao jornal Corriere dello Sport.
Foco - Alice Rohrwacher
Outro destaque da programação, é o Foco Alice Rohrwacher, que traz quatro obras da diretora: seu primeiro filme, realizado 2011, Corpo Celeste, que aborda o contato de uma menina de 13 anos com os dogmas da Igreja Católica Roman; o premiado As Maravilhas, protagonizado pela sua irmã Alba Rohrwacher e com Monica Bellucci no elenco, além dos curtas Una Canzone, produzido com imagens do acervo do Instituto Luce, e Omelia Contadina, realizado em parceria com o artista francês JR e exibido no Festival de Veneza 2021.
Alice está em plena forma. Além de atualmente rodar um novo longa-metragem, teve seu mais recente projeto selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2021, que ocorre em julho. Dirigido em parceria com Pietro Marcello e Francesco Munzi, Futura viaja pela Itália ouvindo os jovens do país sobre suas esperanças, sonhos e expectativas para o futuro.
Alice Rohrwacher é uma das realizadoras italianas mais prestigiadas da atualidade. Formada em Literatura e Filosofia pela Universidade de Turim, ela é diretora de obras como Lazzaro Felice, vencedor do Melhor Roteiro do Festival de Cannes 2018, e tem uma obra que retrata a alma humana em histórias nada convencionais.
Seu longa de estreia, Corpo Celeste (2011), marcou também sua estreia nos sets, pois ela e a irmã, a atriz Alba Rohrwacher, cresceram no campo e sem acesso ao mundo do cinema. A produção estreou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e recebeu o conceituado prêmio Nastro D’Argento.
Em 2014, voltou a Cannes com As Maravilhas, dessa vez na competição oficial. O longa conta a história de Gelsomina (a atriz Maria Alexandra Lungu que, na trama, tem o mesmo nome da heroína de A Estrada, de Federico Fellini), uma jovem que também vive no campo, mas sonha em ser famosa. A produção conta com Monica Bellucci e Alba Rohrwacher no elenco e levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, o que garantiu o passaporte de Alice para o hall dos diretores mais respeitados do circuito internacional.
Em 2019 levou à Mostra di Cinema de Veneza (o Festival de Veneza) o curta Omelia Contadina, realizado em parceria com o artista francês JR. Uma proposta experimental de protesto visual ao realizar o velório simbólico da agricultura camponesa.
A diretora também vai participar de uma masterclass, que deve ir ao ar no início da próxima semana no Youtube do festival.
Como assistir?
Para conferir a programação, basta acessar os filmes diretamente no site do festival (www.festadocinemaitaliano.com.br). Depois de clicar no filme escolhido, você você vai ser direcionado para a plataforma Looke (www.looke.com.br). Para assistir é necessário realizar um cadastro gratuito no site. Para quem tem Smart TV, basta acessar diretamente a Looke e escolher o filme desejado. O filmes também podem ser assistidos via web, tablet e nos principais suportes iOS e Windows.
Outros Destaques
A Vida Solitária de Antonio Ligabue
De Veneza para Berlim, dois títulos chegam ao Brasil trazendo prêmios da Berlinale 2020. Urso de Prata de Melhor Ator para Elio Germano, A Vida Solitária de Antonio Ligabue (Volevo Nascondermi), de Giorgio Diritti, conta a história real de um dos mais surpreendentes artistas italianos do século 20. Vivido por Elio Germano, que está quase irreconhecível em sua caracterização, Ligabue vive por anos em uma cabana à beira do rio sem nunca ceder à solidão, ao frio e à fome. Em uma Itália dominada pelo fascismo, é por meio da pintura que ele encontra um caminho para construir sua identidade, a possibilidade real de ser reconhecido e de amar o mundo. "Foi uma experiência maravilhosa. Além de seu trabalho, sua técnica, a liberdade, a vontade de ser quem se é, me emociona muito em sua história. Uma história de amor à diversidade e à coerência de seguir suas convicções", declarou Germano.
Rômulo & Remo: O Primeiro Rei
Outro destaque entre as estreias é o corajoso Rômulo & Remo: O Primeiro Rei (Il Primo Re), de Matteo Rovere, que levou o prêmio David di Donatello de Melhor Fotografia 2020 para Daniele Ciprì. Protagonizado por Alessandro Borghi (Remo) e Alessio Lapice (Rômulo), o longa se passa em 753 A.C, o ano da fundação de Roma, e conta justamente a lenda de Rômulo e Remo, os fundadores da cidade eterna.
Todo falado em proto-latim (que precedeu o latim arcaico), o filme é uma das produções italianas mais ousadas tanto criativamente quanto em questão de produção, cujas filmagens, ocorridas na região do Lazio, justamente onde a história original se passa, exigiram um esforço físico e mental do elenco. Para a construção dos diálogos em proto-latim, Rovere e a roteirista contaram com a consultoria de vários estudiosos e linguistas. Já para criar os cenários com as construções de época, também foram realizados vários estudos e a produção teve a consultoria de historiadores. O elenco também passou meses em treinamento intensivo para vivenciar não só as lutas, mas também a corporalidade dos personagens.
Matteo Rovere conta que quis filmar em proto-latim justamente para dar ao público a sensação de viver a experiência real de uma história que ocorreu séculos antes do surgimento do Império Romano. “Eu queria provar também que o cinema italiano é capaz de produzir excelentes resultados comparados com os standards internacionais em questão de dublês, próteses, efeitos especiais, lutas e figurinos. Tudo foi criado na Itália", comentou o diretor à Screen Daily.
Volare
Volare (Tutto il Mio Folle Amore), de Gabriele Salvatores (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1991 com Mediterraneo) fez sua première mundial no Festival de Veneza 2021. Estrelado pelo jovem Giulio Pranno e pelos experientes Claudio Santamaria e Valeria Golino, o longa conta a história de um pai ausente que um dia decide ir em busca do filho adolescente Vincent (Pranno), com Transtorno do Espectro do Autismo. Emocionante, Volare é um road movie pelas belas paisagens da Eslovênia, uma viagem de autodescoberta e a descoberta do amor entre pai e filho.
Troca Tudo e Bangla
Na programação não poderiam faltar as comédias que, além de serem sucesso de bilheteria, também lançam um olhar inteligente sobre a vida na Itália contemporânea. Este ano a programação conta com a estreia de Troca Tudo! (Cambio Tutto!), do diretor Guido Chiesa, e o divertido Bangla, de Phaim Bhuiyan, longa premiado como a melhor comédia italiana de 2019 , que narra as aventuras amorosas de um italiano filho de imigrantes de Bangladesh.
Confira a Programação completa:
QUINTA-FEIRA (17)
- As irmãs Macaluso (de Emma Dante)
- 5 é o Número Perfeito (de Igor "Igort" Tuveri)
SEXTA-FEIRA (18)
- Fábulas Sombrias (de Damiano D'Innocenzo, Fabio D'Innocenzo)
- Bangla (de Phaim Bhuiyan)
SÁBADO (19)
- Volare (de Gabriele Salvatores)
- Troca Tudo! (de Guido Chiesa)
DOMINGO (20)
- Rômulo & Remo: O Primeiro Rei (de Matteo Rovere)
- Irmãos à Italiana (de Claudio Noce)
SEGUNDA-FEIRA (21)
- Era uma vez a Máfia (de Franco Maresco)
- As irmãs Macaluso (de Emma Dante)
TERÇA-FEIRA (22)
- A Vida Solitária de Antonio Ligabue (de Giorgio Diritti)
- 5 é o Número Perfeito (de Igor "Igort" Tuveri)
QUARTA-FEIRA (23)
- Rômulo & Remo: O Primeiro Rei (de Matteo Rovere)
- Troca Tudo! (de Guido Chiesa)
QUINTA-FEIRA (24)
- Os predadores (de Pietro Castellitto)
- Era uma vez a Máfia (de Franco Maresco)
SEXTA-FEIRA (25)
- A Vida Solitária de Antonio Ligabue (de Giorgio Diritti)
- Volare (de Gabriele Salvatores)
SÁBADO (26)
- Bangla (de Phaim Bhuiyan)
- Irmãos à Italiana (de Claudio Noce)
DOMINGO (27)
- Os predadores (de Pietro Castellitto)
- Fábulas Sombrias (de Damiano D'Innocenzo, Fabio D'Innocenzo)
9H DE QUINTA-FEIRA (17) ATÉ 9H DE SEGUNDA-FEIRA (28)
- As Maravilhas
- Corpo Celeste
- Omelia Contadina
- Una Canzone (9x10 Novanta)