‘Jojo Rabbit’ faz sátira com forte crítica ao nazismo
Filme de Taika Waititi ridiculariza o regime autoritário e entrega desfecho inesperado que emociona
Uma das recordações que guardo da minha visita a Berlim, na Alemanha, é de um guia turístico. Passávamos por vários pontos turísticos da cidade, que através de construções destruídas, instalações artísticas e vestígios da história de um conflito, relembram seu passado, para não repetí-lo no futuro. O Memorial do Holocausto era o penúltimo local a ser visitado. Depois dele, veríamos o local da morte de Hitler. Hoje, um estacionamento.
Não há sinais que indiquem que o local tenha abrigado importante fato histórico. “É para não atrair possíveis apoiadores”, explicou o guia, na época. O nazismo não merece esse espaço. No filme de Taika Waititi, indicado em seis categorias do Oscar 2020, o nazismo também ganha o espaço que merece. O rídiculo.
Com piadas politicamente incorretas, alguns trechos de Jojo Rabbit podem parecer insensíveis com as vítimas do holocausto, mas com um segundo olhar, é possível perceber que o exagero, o ridículo, é só mais uma forte ferramenta para criticar o período, que aliada à sátira, ao humor, entrega, por fim, um filme com crítica pungente, e um desfecho que emociona.
No longa, ambientado no fim da Segunda Guerra Mundial, já próximo da decadência do nazismo e de Hitler, Roman Griffin Davis é o jovem solitário Johannes Betzler — ou como fica conhecido depois, Jojo Rabbit. Apoiador do regime autoritário, Jojo começa o filme apto a entrar para o exército de Hitler, e não poderia estar mais animado com a função.
Logo no início do treinamento, porém, Jojo sofre um acidente que o afasta de suas funções como soldado. De volta ao lar, o garoto descobre que sua mãe Rosie, interpretada por Scarlett Johansson, esconde Elsa, uma jovem judia no sótão, o que faz com que ele entre em conflito com suas crenças. De um lado, o amor de sua mãe, e do outro, o ódio irracional do nazismo, que são ainda mais explorados conforme Jojo e Elsa aumentam seu convívio e derrubam preconceitos.
O peso do nazismo
Avalia-se que seis milhões de judeus tenham sido mortos durante o holocausto. Os dados, de órgãos oficiais, porém, são só uma projeção, já que não há documentação ou contabilização do número de vítimas. Usar o humor para tratar de um tema tão indigesto pode abrir espaço para interpretações negativas. Mas no filme de Taika, ele é usado na medida certa.
Seja pela caricatura de Hitler, interpretado pelo diretor, que aparece como amigo imaginário ridicularizado de Jojo, na falta de qualificação do capitão que treina os jovens nazistas, ou no alívio cômico do papel de Scarlett Johansson, que, por vezes, parece alienada mas funciona como forte bússola moral para seu filho. No fim das contas, qual seriedade e importância um nazista deve receber?
A grande jogada do filme, porém, é diminuir o uso do humor ao longo do filme e mostrar, com virada inesperada, que as consequências do horror do nazismo têm o mesmo peso.
Jojo Rabbit estreia no dia 6 de fevereiro.