Diretor de 'Hemingway & Gellhorn': "foi como um quebra-cabeças"
- Juliana Prado
- Direto do Rio de Janeiro
O diretor de Hemingway & Gellhorn, Philip Kaufman, chegou ao Brasil para a exibição e divulgação do seu filme na 14ª edição do Festival do Rio. Na cidade, ele contou um pouco sobre o ambicioso processo para produzir e rodar a produção, que tem no elenco o brasileiro Rodrigo Santoro. O apuro técnico exigido da equipe foi redobrado em função da opção do diretor de sobrepor imagens dos atores a cenas de documentários ou filmes rodados na época retratada - os anos 30 e 40, principalmente.
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"Foi muito complicado, foi como montar as peças de um quebra-cabeças", contou Kaufman, ao lado do filho e produtor do longa Peter, em entrevista nesta quarta-feira. O diretor, que também comandou os sets de filmagem do clássico A insustentável leveza do ser (1987), disse que tudo tinha que ser muito bem calculado para que as cenas se encaixassem exatamente com as imagens do passado disponíveis, a maioria em preto e branco.
Todo o aparato para montar o longa, produzido pela HBO films, foi pensando, segundo Kaufman, em, antes de tudo, contar uma boa história. Para isso, foram investigadas e delicadamente remexidas as vidas de dois ícones do século 20 nos Estados Unidos: o escritor Ernest Hemingway (vivido por Clive Owen) e a correspondente de guerra Martha Gellhorn (Nicole Kidman).
Na tela, a história do romance revolucionário e cheio de turbulências entre os dois, entre final dos anos 1930 e início dos 40. Como pano de fundo histórico regendo o romance estão países em conflito como a Espanha da Era Franco, a China ditatorial e até a Finlândia. Países envolvidos na segunda grande guerra também foram retratados.
E justamente por se tratar de dois "cidadãos do mundo" que rodaram o globo, o trabalho técnico foi árduo. "Às vezes filmávamos as cenas de três países em apenas 10 horas. Era preciso 'sair correndo' de um país para outro, pular de Cuba para a Alemanha em pouco tempo", brinca o diretor.
O produtor Peter Kaufman conta que houve preocupação em ser fiel aos eventos da vida do casal Hemingway (Marta foi a terceira mulher do escritor). "Lemos uns 20 livros sobre eles. Havia uma farta correspondência entre os dois e a Marta teve uma biógrafa, que tinha muito material".
O herói de Santoro
Consolidando cada vez mais sua carreira no exterior, Rodrigo Santoro deu novo passo neste sentido emplacando um papel em Hemingway & Gellhorn. No filme, ele vive o revolucionário espanhol Paco Zarra, que luta no front de batalha no final dos anos 1930 contra a imposição do regime do ditador Francisco Franco. "Precisávamos de alguém que externasse esse lado. Paco é um amálgama destes heróis que desaparecem. Só de conhecer o Rodrigo você vê que ele está ali com um herói dentro dele".
O produtor Peter Kaufman também foi só elogios ao brasileiro: "O personagem do Rodrigo é trágico. Ele é um ator maravilhoso". Além de agradar os Kaufman em cena, Santoro também fez as vezes de cicerone de pai e filho na noite de segunda-feira no Rio. Os três foram jantar com o cantor e compositor Gilberto Gil. O diretor não economizou: "Foi uma das melhores noites que já vivemos, ficamos encantados, foi simplesmente fantástico".
Como escalar um Hemingway?
Um dos desafios encarados pelos Kaufman foi escolher o ator que iria interpretar nada mais nada menos que um dos escritores fundamentais do século 20 em todo o mundo. O diretor, através de um amigo comum, apresentou o roteiro para o britânico Clive Owen, que aceitou de pronto o papel. "No início, pensávamos: como alguém pode fazer o papel de Hemingway?", lembra o diretor. Mas o britânico incorporou o propósito e por dois anos se preparou para o trabalho, incluindo idas a Cuba (onde o casal viveu), Alemanha e a outros países retratados no filme.