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A esquisita experiência de David Lynch ao trabalhar com Michael Jackson

Cineasta dirigiu teaser trailer de 30 segundos para promover um dos discos do cantor — e relatou processo de colaboração em livro

16 jan 2025 - 17h44
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David Lynch e Michael Jackson
David Lynch e Michael Jackson
Foto: Fotos: Niviere David / Corbis Kipa / Sygma via Getty Images e Lester Cohen / Getty Images / Rolling Stone Brasil

A trajetória do cineasta David Lynch, cuja morte aos 78 anos foi anunciada nesta quinta-feira (16), tem forte relação com a música. Ao longo de sua carreira, foram diversos os projetos musicais com os quais se envolveu.

Também músico, Lynch lançou álbuns solo, trabalhou em colaboração com vários artistas (como Angelo Badalamenti, Chrystabell e Jocelyn Montgomery), produziu e escreveu letras para Julee Cruise, entre outras iniciativas. Muitas dessas iniciativas tinham a ver com seus próprios longas.

David Lynch em 1992 -
David Lynch em 1992 -
Foto: Niviere David / Corbis Kipa / Sygma via Getty Images / Rolling Stone Brasil

Em meio a tantos projetos de caráter experimental, surpreende quando se relembra que ele também se envolveu com ninguém menos que Michael Jackson. O cantor, que nos deixou em 2009 aos 50 anos, pediu pessoalmente para que Lynch dirigisse um teaser trailer de 30 segundos para divulgar seu então novo álbum, Dangerous (1991), responsável por apresentar hits como "Black or White", "Remember the Time", "Heal the World", entre outros.

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Todavia, a experiência não foi das mais convencionais. O cineasta contou em seu livro Room to Dream (via New York Times) que Jackson era um cara legal, mas não conseguia parar de falar sobre O Homem Elefante (1980), um de seus filmes mais aclamados.

O longa narra a história real de Joseph Merrick, um homem que viveu na Inglaterra vitoriana com graves deformidades corporais. A obra o mostra sofrendo abusos, sendo tratado como um animal ou um ser bizarro. Por uma série de razões — desde seus problemas com aparência causados por doenças de pele até a espetacularização midiática de sua vida —, Jackson se identificava com Merrick a ponto de, segundo veículos de comunicação da época, ter tentado sem sucesso comprar seus restos mortais.

Michael Jackson em 1992 -
Michael Jackson em 1992 -
Foto: Lester Cohen / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Com a palavra o próprio David Lynch:

"Estou na sala de estar em Los Angeles. Meu telefone toca e lá está Michael Jackson no telefone, me dizendo que ele quer que eu faça algum tipo de trailer para seu álbum Dangerous. Eu disse: 'não sei se consigo; não tenho nenhuma ideia para isso', mas assim que desliguei e comecei a andar em direção ao corredor, todas essas ideias surgiram. Liguei de volta e disse: 'Tenho algumas ideias', e trabalhei nisso com John Dykstra em seu estúdio."

"Construímos esse mundo em miniatura que era uma sala vermelha com uma pequena porta minúscula, e na sala havia essas árvores de madeira estranhas em formato moderno e um monte com fluido prateado que iria explodir em chamas e então revelar o rosto de Michael Jackson. Era uma ação em stop-action e demorou muito para fazer. Para mim, as coisas não precisam ser tão exatas, mas as pessoas que trabalharam nisso planejaram isso ao enésimo grau. As árvores eram laqueadas de vermelho ou preto e as pessoas que entravam para movê-las usavam luvas brancas e as moviam ao longo desta rota precisamente marcada."

"Essa era uma parte da coisa. A outra parte era filmar o rosto de Michael, e tínhamos um equipamento de câmera para isso com um círculo de luzes que criava esse visual fantástico de foco sem sombras. Tudo o que Michael tinha que fazer era ficar em um lugar por alguns minutos, mas ele ficava fazendo maquiagem por oito ou dez horas. Como alguém poderia ficar fazendo maquiagem por dez horas? É alguém muito crítico sobre sua aparência."

"Finalmente ele estava pronto, ele saiu e eu o conheci pela primeira vez. E tudo o que ele queria fazer era falar sobre O Homem Elefante. Ele tentou comprar os ossos, a capa e todas as coisas do museu. Ele me fez várias perguntas sobre isso. Foi um cara muito legal. Então ele ficou lá e nós filmamos e um minuto depois a parte dele já estava concluída."

David Lynch morre aos 78 anos

Icônico diretor de Hollywood, responsável por produções como Twin Peaks, Cidade dos Sonhos (2001), Eraserhead (1977), Duna (1984), Veludo Azul (1986) e O Homem Elefante (1980), David Lynch morreu aos 78 anos. Quem confirmou a notícia foi a família do artista, em publicação feita no Facebook. Ele deixa duas filhas, dois filhos e a esposa, Emily Stofle.

Conhecido pelos filmes e séries sombrios e surrealistas, Lynch havia sido diagnosticado com enfisema por fumar por toda uma vida — tanto que ele não conseguia mais sair de casa para dirigir. "Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais entre nós. Mas, como ele diria: 'Fique de olho na rosquinha e não no buraco'", lamentaram os parentes.

David Lynch começou a carreira como pintor e criador de curtas-metragens de animação e live-action. Logo no primeiro filme, Eraserhead, chamou atenção pelo estilo exagerado e intransigente. Não demorou muito para ser destaque nas premiações: O Homem Elefante recebeu oito indicações no Oscar, como Melhor Diretor.

David Lynch -
David Lynch -
Foto: Vittorio Zunino Celotto / Getty Images / Rolling Stone Brasil

Na televisão, também deixou uma grande marca. Com Twin Peaks, iniciada em 1990, contou a história (criada ao lado de Mark Frost) da investigação do misterioso assassinato de uma estudante do ensino médio. Apesar do sucesso inicial, a segunda temporada não registrou boa audiência, mas a franquia ganhou um filme, intitulado Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer, em 1992. Já a terceira temporada veio cerca de 25 anos depois.

No livro de entrevistas Lynch on Lynch, de 2005, o icônico cineasta falou sobre o núcleo enigmático do trabalho com o autor Chris Rodley e como não conseguia definir o significado do próprio trabalho para os espectadores.

"Bem, imagine se você encontrasse um livro de enigmas e pudesse começar a desvendá-los, mas eles eram realmente complicados. Os mistérios se tornariam aparentes e emocionariam você. Todos nós encontramos este livro de enigmas e é exatamente isso que está acontecendo. E você pode descobri-los. O problema é que você descobre isso dentro de si e, mesmo que contasse a alguém, essa pessoa não acreditaria em você ou entenderia da mesma maneira que você."

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