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“A Incrível História de Adaline” traz Blake Lively e Harrison Ford inspirados

20 mai 2015 - 16h44
(atualizado às 17h42)
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Não só as mulheres tentam esconder a idade e usar artifícios para parecer mais novas do que realmente são. Em vários aspectos, a sociedade é implacável com os mais velhos e, como espelho desta, Hollywood também faz o mesmo quando imortaliza suas estrelas, enquanto diminui suas oportunidades de trabalho quando envelhecem.

A atriz Blake Lively chega para um evento no Lincoln Center, em Nova York 2/06/2014.
A atriz Blake Lively chega para um evento no Lincoln Center, em Nova York 2/06/2014.
Foto: Carlo Allegri / Reuters

E em uma época em que as próprias atrizes têm discutido cada vez mais o sexismo na indústria cinematográfica – incluindo a recente polêmica no Festival de Cannes, onde mulheres foram barradas nas sessões por não estarem calçando sapatos de salto alto no tapete vermelho –, chega aos cinemas um filme que, apesar de suas falhas e seu caráter comercial, coloca todas essas questões em perspectiva.

“A Incrível História de Adaline”, de Lee Toland Krieger, como o título brasileiro exalta, apresenta a vida desta personagem, cuja peculiaridade está justamente em sua idade, assim como descrito no nome original (The Age of Adaline).

Nascida na São Francisco de 1908, Adaline Bowman (Blake Lively) teve uma trajetória muito comum em seu início: conheceu o amor, formou uma família e teve seus grandes sofrimentos quando ficou viúva. Até que, aos 29 anos, sofre um acidente de carro em um dia atípico de neve na Califórnia, enfrenta uma grave hipotermia que, combinada aos efeitos do raio que a atingiu, fez com que seu corpo parasse de envelhecer.

O narrador chega a citar uma lei científica fictícia que explica a condição da protagonista, que só seria descoberta em 2035, em uma sacada engraçada dos roteiristas J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz.

Apesar das coincidências novelescas criadas pela dupla, eles acertam na ambientação do momento em que o congelamento de sua idade começa a trazer problemas para Adaline justamente em pleno Macartismo, quando a patrulha anticomunista do senador Joseph McCarthy gerou uma caça às bruxas e, consequentemente, criou um clima de paranoia que se impregnou na própria personagem. Com medo de se tornar um objeto de curiosidade alheia e atrapalhar a vida da filha (Cate Richardson quando jovem), ela passa a adotar novas identidades a cada década.

Assim, o espectador a acompanha em sua mais nova fase, como Jenny, uma restauradora do arquivo público que, ao despertar a paixão do belo e charmoso Ellis (Michiel Huisman, de “Game of Thrones”, aqui em versão simplista de um príncipe encantado do século XXI) em uma festa de réveillon em 2014, tenta evitar se apaixonar e sofrer novamente com um amor condenado.

À primeira vista, pode-se colocar o longa no mesmo patamar de outros romances com toques de ficção científica, como “Te Amarei Para Sempre” (2009). Mas seria injusto não dar crédito à tentativa da produção de ser algo mais parecido com “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

Assim como no filme de David Fincher, a arte e a fotografia de “Adaline”, assinadas por Claude Pare e David Lanzenberg, respectivamente, são capazes de, simultaneamente, mostrar exatidão na ambientação das épocas retratadas e criar um ar atemporal, bem conduzido por Lee Toland Krieger. Mais do que no romance, o diretor que ficou conhecido pela simples e complicada relação amorosa que apresentou ao público em “Celeste e Jesse para Sempre” (2012), acerta desta vez na homenagem que faz ao passado, à experiência e à sabedoria, sem apelar para um olhar retrô que seja apenas fetiche. A exceção é a narração literária que se mostra desnecessária muitas vezes, pois os detalhes vistos em close-ups ou subentendidos na trama são bem mais efetivos.

Além disso, o jovem cineasta consegue realizar um ótimo trabalho com o elenco, extraindo de Harrison Ford sua melhor performance nos últimos anos e fazendo o público esquecer os tempos de “Gossip Girl” de Blake Lively, que domina todo o filme como protagonista. Como o pai de Ellis, o ator demonstra, ao mesmo tempo, a nostalgia da urgência do amor – e da dor – passado com o conforto e certeza do amor atual com sua mulher (Kathy Baker).

Já a jovem atriz, que mostrou bom desempenho nos policiais “Atração Perigosa” (2010) e “Selvagens” (2012), aproveitou a complexidade de sua jovem personagem centenária para provar que merece mais e melhores chances no cinema. As cenas de Adaline com a filha já octagenária, interpretada com vivacidade por Ellen Burstyn (se assistiu “Interestelar” no ano passado verá semelhanças nas personagens), mas demonstrando as preocupações de qualquer mãe, comprovam isso.

Se todas as cartas de amor são ridículas, como diria Fernando Pessoa, filmes românticos também o são. A questão é que só valorizamos os textos e os longas que, mesmo nos clichês, mostram sinceridade. E este é o caso de “A Incrível História de Adaline”, que, provavelmente, terá bons resultados com a audiência e, talvez, quando passar na TV, será aquele filme que a sua mãe adorará ver.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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