'A Substância': Terror com Demi Moore vira meme, conquista redes sociais e se torna 'filme do ano'
Longa de diretora francesa que mistura terror e ficção científica conquista o público nas redes sociais e torna-se o filme queridinho do ano
Se você é daquelas pessoas que ama seguir páginas de memes nas redes sociais, provavelmente já viu a frase "queremos A Substância no SUS!" circulando em alguns perfis por aí. A publicação é uma brincadeira que faz referência ao filme de terror estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, premiado em Cannes e sucesso em cartaz no Brasil. Do nicho dos festivais de cinema ao gosto popular nas páginas mais engajadas do Instagram, "A Substância" está fazendo o que é provavelmente o sonho de muitas outras obras: furando a bolha, cativando uma audiência fiel e recebendo o título precoce de "filme do ano".
Inicialmente, após sua estreia elogiadíssima no festival de cinema mais renomado do mundo, "A Substância" foi alardeado como "o filme de terror em que Demi Moore faz uma cena de nu frontal". Aos 61 anos, a atriz de "Striptease" e "Ghost - Do Outro Lado da Vida" de fato se expõe de maneira única no filme, o primeiro trabalho em inglês da cineasta francesa Coralie Fargeat. Mas isso não acontece devido à sua nudez, e sim a como Moore escancara suas próprias vulnerabilidades em um mundo que exige de mulheres magreza e perfeição constantes.
Memes brincam com a premissa do filme e ironizam ditadura da beleza
Na história de "A Substância", conhecemos Elisabeth Sparkle (Moore), uma atriz renomada que, aos 50 anos, já está longe de seus dias de glória. Escanteada pela indústria do entretenimento, ela comanda um programa de TV em que pratica exercícios aeróbicos, semelhante ao programa de sucesso de Jane Fonda.
Quando descobre que a emissora pretende substituí-la por considerá-la velha demais, Elisabeth decide aproveitar uma oportunidade que bate à sua porta e testar A Substância, uma espécie de experimento que libera uma versão mais nova e mais bonita dela mesma; agora, as duas versões, Elisabeth e Sue (Qualley) precisam trocar de lugar a cada 7 dias para nada dar errado – e entender, acima de tudo, que as duas são a mesma pessoa.
É pegando este gancho que muitas páginas de memes e piadas têm se deliciado com as possibilidades do filme. Comparações de artistas mais novos e mais velhos que são fisicamente parecidos estão pipocando nas redes, com as pessoas brincando com a ideia de que estes teriam "tomado a substância".
As comparações, é claro, são bem humoradas, e uma forma de divulgar o filme e perpetuar sua mensagem, que critica a imposição da ditadura da beleza a mulheres.
Elevando ao máximo as consequências de procedimentos estéticos cada vez mais exagerados e duvidosos, "A Substância" fala diretamente com a sociedade contemporânea, e não poupa as estruturas de poder que fazem com que as pessoas, sobretudo mulheres, estejam quase sempre insatisfeitas com a própria aparência. A própria Demi Moore, exuberante e com uma atuação absurda no filme, já teve seus encontros infelizes com procedimentos "rejuvenescedores", e coloca toda a sua fragilidade e seus próprios receios em exposição diante de um público certamente despreparado para tamanha crueza e tanta intensidade.
Furando a bolha, "A Substância" mostra que público quer histórias inéditas
Lançado no Festival de Cannes deste ano, de onde saiu com o prêmio de melhor roteiro para Fargeat, "A Substância" é um acontecimento muito feliz para a indústria cinematográfica, e trata-se de um fenômeno raro de um filme ser tão abraçado tanto pela crítica especializada quanto pelo público, sem a necessidade de um aparato como o Oscar para tal.
Isso, aliás, é algo que tem acontecido cada vez mais com filmes originais, um aceno urgente do mercado para a necessidade de menos refilmagens e continuações e mais histórias novas. Se um filme com cenas tão chocantes quanto "A Substância" conseguiu se popularizar tanto (e merecidamente), é hora de ver que o espectador está mais do que pronto para ser desafiado e surpreendido.