"Ainda Estou Aqui" conquista elogios do New York Time e Los Angeles Times
A produção dirigida por Walter Salles, com Fernanda Torres no papel principal, aumentou aprovação no Rotten Tomatoes para 94%
Aclamado por críticos americanos
O longa "Ainda Estou Aqui", estrelado por Fernanda Torres, estreou nos cinemas dos Estados Unidos na sexta-feira (17/1) e vem colecionando elogios da crítica. Publicações como New York Times e Los Angeles Times destacaram a atuação da atriz e a relevância política do filme, ambientado durante o governo de Jair Bolsonaro.
Graças aos novos elogios, a produção brasileira, que chegou no Rotten Tomatoes com 92% de críticas positivas, subiu para 94%, aumentando sua aprovação. O longa chamou atenção por abordar questões políticas e familiares com sensibilidade e profundidade.
O milagre brasileiro
Carlos Aguilar, do Los Angeles Times, destacou a força emocional do longa, que ele descreveu como "um retrato sofisticado da resistência comunitária". Ele elogiou a atuação de Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva, como "uma performance magistral de contenção e força interior". Para Aguilar, o trabalho da atriz, que venceu o Globo de Ouro por este papel, captura a complexidade emocional de uma mulher que equilibra luto e resiliência enquanto luta para manter sua família unida diante da repressão. O título descreve a performance como um "milagre".
"A elegância impressionante das imagens de Salles nos aproxima das pessoas, não dos horrores", pontuou Aguilar. Ele também destacou a capacidade do filme de transmitir resistência por meio de momentos de alegria e humanidade. "A vitória de Eunice não é apenas sobre sobrevivência, mas sobre promover uma família unida na adversidade."
Beleza devastadora
Alissa Wilkinson, do New York Times, descreveu "Ainda Estou Aqui" como "belo e devastador". Em sua análise, ela enfatizou a maneira como o filme aborda o impacto das atrocidades da ditadura militar não apenas no Brasil, mas em um contexto global. "O controle é exercido por meio de jogos mentais e gaslighting, negando verdades que as famílias sabem ser reais", observou Wilkinson ao mencionar o desaparecimento de Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello.
A crítica também elogiou a abordagem de Salles ao explorar o papel da memória e da resistência. "Salles mostra repetidamente a família fotografando e filmando momentos em Super 8 para preservar suas lembranças. Ele descreve o cinema como um instrumento contra o esquecimento."
Fernanda Torres recebeu aplausos pela intensidade de sua atuação, que combina "alegria em meio ao medo e esperança na dor". Segundo Wilkinson, sua interpretação eleva o filme a um nível de profundidade emocional que ressoa globalmente.
Importância política
O New York Times também destacou a relevância política de "Ainda Estou Aqui", considerando sua estreia um reflexo do momento histórico do Brasil. Segundo a crítica, o filme foi lançado em um período marcado pela revelação de uma tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas eleições de 2022. Apesar das campanhas de boicote promovidas por apoiadores do ex-presidente, o longa tornou-se a maior bilheteria do cinema brasileiro desde a pandemia.
O texto também analisou como o filme aborda as táticas autoritárias de regimes totalitários. "É também sobre o que regimes autoritários fazem para manter as pessoas na linha, a tática totalitária de fazer as pessoas duvidarem do que sabem que viram, insistindo em mentiras descaradas", escreveu Alissa Wilkinson. Além disso, a crítica apontou que "Ainda Estou Aqui" não se limita a ser uma polêmica sobre uma situação histórica e política, mas apresenta um apelo global ao explorar como políticas autoritárias impactam o cotidiano das famílias.
Para a crítica, "Ainda Estou Aqui" preenche uma lacuna histórica no Brasil, um país que, ao contrário de Chile e Argentina, não realizou um processo formal de responsabilização pelos crimes da ditadura. "Se não esclarecermos e julgarmos os crimes cometidos, eles continuarão sendo praticados com impunidade", afirma Eunice em uma das cenas mais marcantes do filme.
Outros elogios e críticas
Outros veículos americanos também vêm elogiando o longa de Walter Salles. Jessica Kiang, da Variety, elogiou o filme por ser "profundamente comovente e cativante", enquanto David Rooney, do Hollywood Reporter, descreveu a obra como "fascinante e repleta de emoção". "Fernanda Torres é simplesmente fantástica", escreveu Chase Hutchinson, do The Wrap.
Por outro lado, algumas críticas foram menos entusiásticas. Marshall Shaffer, do The Playlist, afirmou que "o humanismo de Eunice fica enterrado sob uma estrutura de roteiro banal". Já Savina Petkova, do Film Stage, considerou o filme "descalibrado" e criticou a abordagem narrativa de Salles.