'Ainda Estou Aqui': Qual é a história do filme que pode levar Fernanda Torres ao Oscar?
Inspirado em livro de Marcelo Rubens Paiva, longa narra uma das protagonistas históricas da busca por desaparecidos da ditadura.
As notícias foram boas para a comunidade cinéfila brasileira neste domingo (1), após a primeira exibição mundial de "Ainda Estou Aqui" no Festival de Veneza. Walter Salles, acompanhado de Fernanda Torres, Selton Mello e Marcelo Rubens Paiva, levou o filme à bienal para competir pelo Leão de Ouro, e a recepção inicial foi excelente, com o filme conquistando 10 minutos de aplauso.
Algumas revistas internacionais especializadas já cravam que este é o melhor filme do diretor de "Central do Brasil" (1998) e "Diários de Motocicleta" (2004), enquanto o nome de Torres desponta como um forte concorrente à Coppa Volpi, prêmio de melhor ator e atriz, e até já surge com um candidato precoce ao Oscar. Será que Fernanda Torres pode repetir o feito da mãe, Fernanda Montenegro, 25 anos depois?
Qual é a história de Ainda Estou Aqui?
Inspirado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história real da família Paiva, e é ambientado no Rio de Janeiro no início dos anos 70, na ditadura militar brasileira. Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, trava uma luta histórica para descobrir o paradeiro de seu marido, o engenheiro civil e político Rubens Paiva, após ele ser levado de casa pela polícia militar em 1971.
Interpretado no longa por Selton Mello, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece de sua própria casa, no bairro do Leblon, no dia 20 de janeiro de 1971. Eunice, cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas, é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.
O que aconteceu com Rubens Paiva?
Após a imensa batalha de Eunice, a família só conseguiu um atestado que oficializasse a morte de Rubens em 1996. Segundo informações do jornal O Globo, sua morte só foi confirmada 40 depois do desaparecimento, diante de depoimentos de ex-militares à Comissão Nacional da Verdade e o resgate de uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).
Ali nas dependências do DOI, foi torturado até a morte, entre os dias 20 e 22 de janeiro; depois, os militares promoveram uma farsa na qual simularam o resgate de Paiva por "subversivos", justificando seu desaparecimento. Tudo foi confirmado por depoimentos de oficiais envolvidos no caso ao MPF e às Comissões da Verdade.
Considerada protagonista na busca por pessoas desaparecidas durante o regime militar brasileiro, Eunice dedicou mais de 40 anos de sua vida à busca por informações sobre o paradeiro do marido, cujo corpo nunca foi encontrado. Ela esteve em campanhas ao lado de figuras como Zuzu Angel, Crimeia de Almeida, Inês Etienne Romeu e Cecília Coimbra. Ela morreu em 2018, aos 86 anos, após 14 anos convivendo com Alzheimer.
Além da importância política, "Ainda Estou Aqui" promove o reencontro entre Fernanda Torres e Walter Salles depois de "Terra Estrangeira" (1995) e "O Primeiro Dia" (1998). Na última parte do filme, Eunice é interpretada por Fernanda Montenegro, que volta a trabalhar com Walter Salles 26 anos depois de "Central do Brasil" – filme que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Globo de Ouro de melhor longa estrangeiro e o Bafta de melhor filme em língua não inglesa –, e deu a ela o Urso de Prata de melhor atriz.
Quando Ainda Estou Aqui chega aos cinemas no Brasil?
Com distribuição nos cinemas brasileiros pela Sony Pictures, "Ainda Estou Aqui" é uma coprodução entre Brasil e França. O longa é o primeiro filme original Globoplay, produzido por VideoFilmes, RT Features e Mact Productions, em coprodução com ARTE France e Conspiração.
O filme ainda passará pelo circuito dos festivais de cinema, com San Sebastián e Nova York. Por enquanto, ainda não há para o lançamento em circuito comercial.