Aquarius: "Eu não tenho o menor interesse em fazer filmes 'de arte'", diz diretor
Kleber Mendonça Filho defende o financiamento público da cultura - e cita o exemplo do próximo Transformers.
"Um casamento entre um filme e um barulho". Assim o diretor Kleber Mendonça Filho, de Aquarius, resume a trajetória do longa, agora que a obra chega ao circuito nacional, três meses depois de estrear no prestigiado Festival de Cannes, quando a equipe do filme protestou contra a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
O Som ao Redor (2013).De lá para cá, Aquarius contou com a resistência de um membro da comissão de escolha do representante brasileiro na corrida ao Oscar e pegou classificação etária de 18 anos. " Se Clara [personagem de Sonia Braga] subisse no andar do prédio dela para ver o que está acontecendo e ela visse um homem sendo executado com três tiros na cabeça, o filme provavelmente seria [indicado para] 14 anos", provoca o cineasta.
Na entrevista ao AdoroCinema, o diretor de O Som ao Redor defende o investimento de dinheiro público para a cultura, uma indústria que, como tal, gera emprego e renda: " Aquarius foi feito com R$ 3,4 milhões, com uma equipe de mais de cem pessoas. Todo mundo foi pago".
" Transformers está sendo filmado em Detroit com uma ajuda monumental de dinheiro da cidade de Detroit. Isso gera emprego em Detroit, eleva o moral da cidade, e imagino que o roteiro também levante o moral da cidade com a derrocada da indústria automobilística". " Cabe a qualquer um, qualquer produtor, qualquer realizador, fazer a utilização honesta desse dinheiro. Aí, é uma outra questão", sentencia.
Entre os atores Humberto Carrão e Sonia Braga.A respeito do que o motiva a contar uma história, Kleber esclarece: " Eu tenho interesse em fazer um registro com linguagem clássica de cinema, de ficção, e eu sempre me lembro muito dos filmes americanos dos anos 1970, que são muito importantes para mim. E esse registro deve ser um registro real e verdadeiro de como eu vejo a vida no Brasil, a vida que a gente vive, nossas relações com as pessoas, com os seres humanos; filmar isso de uma maneira que seja interessante e divertida, até".
Divertida? Contrariando a ideia de quem possa ser levado a pensar que o diretor mira sua lente para o cinema "cabeça", ele rebate: " Eu nunca fiz nenhum filme achando que não seria entretenimento". "E u nunca pensei que eu estou fazendo um filme 'de arte'". " Eu não tenho o menor interesse em fazer filmes 'de arte'".
Confira a entrevista completa no vídeo acima, e Aquarius, nos cinemas.
[Entrevista realizada no dia 24 de agosto. No dia 01 de setembro, o Ministério da Justiça reavaliou a classificação indicativa, que foi reduzida para 16 anos].